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Viva Bem

De casório a noite em motel: as lembranças inesquecíveis de amantes do Carnaval

Confira histórias de foliões que fizeram da festa um estilo de vida

A especialista em marketing Bruna Risério Ferreira já foi para nove Carnavais em Salvador Rubens Cavallari/Folhapress

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São Paulo

Dizem que o ano só começa depois do Carnaval. Essa frase ganha ainda mais relevância para aquelas pessoas que não sabem viver sem a folia. Em ano de pandemia, quando ainda não é possível aglomerar, a sensação para alguns é como se o tempo estivesse parado.

O Carnaval, para muita gente, é uma espécie de vício. Para outros, ele tem tanta importância que vira caso de família. Quando a ritmista paulistana Aline da Silva Rodrigues, 26, olhou de longe para o também ritmista Ozeas França Junior, 29, teve a certeza de que se casaria com ele. Ambos, com 16 e 19 anos, respectivamente, nunca tinham conversado até então. Mas o samba fez com que eles se apaixonassem nos bastidores da agremiação Estrela do Terceiro Milênio.

“Começamos a conversar, pegávamos trem juntos e nosso único assunto era o samba. Em 2013, nós oficializamos a união. Em 2019, desfilei grávida. Descobrimos a gravidez perto do Carnaval e ganhei a Maria Caroline, em outubro. Hoje, aos dois anos, minha filha é apaixonada por samba, não pode ouvir samba-enredo que já pega tamborim dela”, diz Rodrigues.

Fato semelhante aconteceu com a gerente de pet shop Eliane Rosa Tejeda, 60, e o taxista Rubens Fernandes, 62. Casados há 40 anos, eles se conheceram entre um tambor e outro da escola Imperador do Ipiranga. Apesar de Fernandes dizer que foi ela quem deu em cima dele primeiro, Tejeda afirma que foi paixão ao primeiro samba.

“A gente gostava das mesmas coisas. Ele foi meu primeiro namorado e continuamos na vida amorosa e no samba. Nossos filhos, de 36 e 32 anos, desfilaram desde pequenos”, diz a gerente cujo pai foi o primeiro cuiqueiro da agremiação. Eles, agora, são da Velha Guarda da escola.

Mas quem ousou de verdade na avenida e jamais levou a sério a velha frase de que amor de Carnaval não sobe a serra foi Angelina Basílio, 63, presidente da Rosas de Ouro desde 2003. Foi durante o desfile da agremiação em 2017 que ela resolveu se casar em pleno Anhembi com o gerente comercial Sérgio Correia Ferreira, 55.

“O enredo da Rosas naquele ano era ‘Os Grandes Banquetes da História’. Eu tinha um relacionamento de uns quatro anos e tiveram a ideia de eu casar no Anhembi. Surgiu do carnavalesco, ele que desenhou o figurino do meu marido e o meu. Nos inseriu no enredo", relembra.

E a festa foi lá mesmo. "Casamos na concentração com juiz de união estável e pai de santo. Subimos no carro alegórico e tudo se concretizou”, conta. Angelina Basílio vive o Carnaval há 49 anos e diz que o marido a acompanha apesar de não ser do ramo. “Foi um frisson esse casamento. Eu não podia sair na rua que todo mundo me conhecia. Fiquei ainda mais famosa”, diz, em tom de brincadeira.

ENTRE BLOQUINHO E TRIO ELÉTRICO

Todos os anos, a especialista em marketing paulistana Bruna Risério Ferreira, 33, faz um planejamento para viajar até Salvador (BA). A ideia de se organizar com antecedência é fazer a viagem caber no orçamento, mas, às vezes, tudo acontece em cima da hora. "O Carnaval começava na quinta. Eu estava trabalhando na sexta e resolvi comprar a passagem para o dia seguinte. Eu fui sem hospedagem. No fim, passei quatro noites dormindo num motel, pois não achei onde ficar."

A coleção de abadás é substancial na casa da paulistana. Seu primeiro trio em Salvador foi em 2005, quando tinha 18 anos. “Desde então, me despertou esse vício. Só me sinto feliz lá. Quando celebro em outra cidade, parece que o ano não começou. Parte dos meus melhores amigos eu conheci por conta do Carnaval. Então, ao mesmo tempo em que tenho amor, sou muito grata."

Bruna Risério Ferreira diz que já tinha tudo comprado para o Carnaval desde ano, mas a pandemia cancelou qualquer festa. "Não tem de ter nada antes da vacina [contra a Covid-19]. Faço questão de levantar essa bandeira. 2022 está logo aí."

A especialista em marketing Bruna Risério Ferreira, 33, faz coleção de abadás de Salvador (BA) - Rubens Cavallari/Folhapress

Outro que adora pular Carnaval é o publicitário paulistano Carlos Alberto Tadeu Mazmanian, 36. Só que ele prefere se dedicar aos bloquinhos de São Paulo, que começaram a ganhar força entre 2015-2016. É pela ruas paulistanas de Pinheiros (zona oeste) e Moema (zona sul) que ele costuma empurrar um carrinho de mercado cheio de bebidas. É tudo open bar no Bloco do Maz.

"Carnaval para mim é coisa séria. Meu carrinho já um ponto de encontro. Até minha cadelinha curte a folia. Já deixei de viajar para lugares fantásticos, já perdi emprego por preferir o Carnaval, já gastei mais do que eu tinha pela festa. Deixei de namorar a pessoa certa. Gosto da liberdade e de poder me fantasiar de qualquer coisa”, diz o publicitário.

FOLIA NA TERCEIRA IDADE

Pular Carnaval sempre foi a maior alegria da aposentada Nair Ribeiro Ferreira, 82, baiana que mora em São Paulo há 12 anos. Ela nunca perdeu um Carnaval e adorava comparecer a blocos e micaretas fora de época. A folia é tão adorada que a aposentada passava horas e horas costurando e preparando os abadás que seriam usados por ela e, principalmente, por uma das netas mais festeiras.

Mas a idade foi chegando e o Carnaval começou a fazer parte apenas da memória dela. Aos 80 anos, Nair ganhou da família uma festa de aniversário com essa temática, o que ela lembra com carinho até hoje. “Fizeram de surpresa. Quando cheguei no salão, fiquei muito emocionada. Minhas irmãs todas vestidas com fantasias. Tinha bolo, me diverti muito. Eu usava plumas no pescoço e coroa. Me diverti tanto que nem me cansei”, relembra ela, que nem com o pé machucado quis parar de dançar.

Nair Ribeiro Ferreira, 82, dança em sua festa de aniversário com o tema Carnaval - Arquivo Pessoal

Nair Ribeiro Ferreira afirma que, mesmo depois de casada, continuava a frequentar blocos voltados para senhoras na mesma condição. Porém, com a perda do marido, em 2015, ela começou a ficar desgostosa por comemorações. Foi então que sua família teve a ideia de presenteá-la com a festa carnavalesca para reativar a memória com as boas lembranças do Carnaval.

"No meu aniversário deste ano [celebrado em 17 de janeiro], eu queria essa mesma comemoração, mas não deu [por causa da pandemia]. Queria minhas irmãs, minhas netas, amigos, filhos, as noras e os genros todos reunidos. E a festa com decoração de Carnaval. O povo todo fantasiado. Ano que vem, se Deus quiser, vai ter muita farra para compensar", diz Ferreira, aos risos.

Ela diz que conta os dias para que janeiro de 2022 chegue rápido e que todos estejam vacinados contra o coronavírus e aptos a festejar, pois, ela já tem a festa perfeita planejada. "Meu Carnaval dos sonhos seria pulando, gritando, tomando umas. Mas tem que trazer a fantasia para uns três dias de comemoração", diverte-se.

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