O edifício Planalto foi cenário da minissérie "Aline". Do filme "Domésticas" (Fernando Meirelles e Nando Olival). De clipes de Chitãozinho & Xororó e Mallu Magalhães. O escritor Marcelo Rubens Paiva se casou lá ("era como se a cidade nos abençoasse").

E, agora, o Planalto chegou ao horário nobre. Em "Amor à Vida", novela das nove da Globo, a advogada Patrícia (Maria Casadevall) mora no prédio de 294 apartamentos e 26 andares, projetado por Artacho Jurado e inaugurado em 1956. "Acho [a construção] ousada", diz o autor Walcyr Carrasco.

Marcas: o parapeito da varanda, com detalhes azuis, e ondulações em formato de ameba que coroam o prédio em frente à Câmara Municipal.

Patricia reflete bem o perfil de moradores que têm chegado ao nº 279 da rua Maria Paula nos últimos anos. Entre 900 moradores, são poucas famílias com filhos. Jovens e gente que reside ali há décadas são maioria. "Antes tinha muito idoso. Vários morreram. Há moços agora", diz Azoraidil Martinelli, 80, que vive lá há 31 anos.

A empresária Fernanda Carvalho, 37, diz ser vizinha de "velhinhos batutas muito informados, os modernos na época deles". A parte ruim: "Amiguinhas morrem. A velhinha que eu achava mais fashion morreu hoje."

A proximidade de equipamentos culturais (como a Pinacoteca e a Sala São Paulo), da praça Roosevelt e do Baixo Augusta ajudaram a atrair a juventude. "Quando vim, nos anos 1980, a área estava desvalorizada. Mas sou português, e, para o europeu, viver no centro é mais charmoso por causa da arquitetura e da história", diz o artista Fernando Durão, 61, que tem dois apartamentos lá (um deles, seu ateliê).

A mobilidade urbana é outro ponto chave. "Uso muito metrô e ônibus, quase não tiro o carro da garagem", diz a empresária Fernanda, que conseguiu uma das 70 vagas do prédio.

Ela diz não temer andar pelo centro à noite. "A gente vê uns 'noias', mas já adquiri um jeito de andar como se a rua fosse minha, passo firme, até meio masculino, com as pernas mais abertas. Se a gente fica com medo, dá espaço para a rua ser de outros."

Fernanda aponta um revés do endereço: "Moro dentro das manifestações, e não só das últimas. A Câmara dos Vereadores é do outro lado, tem protesto de perueiros, sindicatos, todos vêm reclamar aqui na nossa porta."

Mas isso não afasta interessados no Planalto. Segundo a síndica Valdete Morais, 65, são dezenas de procuras por dia. O apartamento de um dormitório custa a partir de R$ 1.300 (aluguel) e até R$ 650 mil (compra).

Preservar o edifício, que chegou a correr risco de interdição, tornou-se uma preocupação. Para ajudar na arrecadação além do condomínio (que custa de R$ 350 a R$ 800), será lançado o Polo Cultural Planalto (ainda sem data), "voltado para projetos sociais e de sustentabilidade", diz Valdete.

Por ora, o ponto mais concorrido do edifício é seu salão na cobertura, alugado por não menos que R$ 3.000. Por trás da agenda lotada está Fiorella Bianchi, 65, promoter do Planalto há mais de 15 anos. Os seus contatos no meio artístico vêm desde a época em que foi bailarina de programas de TV.

"Não tem um morador que não goste de mim. Acho que é o meu carisma. Daqui só saio num caixão."

Rua Maria Paula, 279, Bela Vista.

Números

Inaugurado em 1956
Tombado em 2002
900 moradores
70 vagas de garagem (só para proprietários)
10 elevadores
27 funcionários
294 apartamentos
Fluxo de 1.500 pessoas por dia (até 2.000 no fim de semana)
3 blocos (Santo Amaro, Maria Paula e Genebra)

Em casa

O Planalto de "Amor à Vida" fica a poucos quilômetros do mar -e bem longe do centro de SP. Réplica bem convincente de parte do edifício foi erguida no Projac, estúdio da Globo no Rio.

A cópia impressiona pelos detalhes. Um painel gigante reproduz a vista que se tem do alto do edifício. "Me perguntam o que eu levaria quando a novela acabar. Duas coisas: um anelzinho da Patrícia e o apartamento inteiro. Me sinto em casa", diz a atriz Maria Casadevall, 26, que mora na Consolação.