Conheça Fly, ex-dançarino de Xuxa que virou principal coreógrafo da Globo
Na vinheta de final de ano da Globo, o elenco se reveza em cena, numa coreografia perfeita, encadeada com a já tradicional canção de Natal da emissora. Poucos meses antes, as empreguetes de "Cheias de Charme" brilhavam com seus passos de dança certeiros, repetindo o sucesso de outros inúmeros requebrados que vêm preenchendo a programação do canal global.
O fator comum dos dois projetos tem um só nome: Fly. Quando o menino do grupo You Can Dance decidiu deixá-lo para se dedicar ao trabalho na tevê, não podia imaginar o que estava por vir. Dez anos mais tarde, ele se transformaria no principal coreógrafo da Globo, responsável por programas como "TV Xuxa" e "Caldeirão do Huck", além de novelas e séries.
"Cheguei onde eu queria, virei diretor de programa e tenho contrato até 2015", afirmou. O cabelo comprido, a argola na orelha e a roupa ultracolorida da época do "funk melody" ficaram no tempo. Vagner Meneses Pereira, 41, é o queridinho de dez em cada dez profissionais da emissora, além de ser um homem de negócios.
Com camisa polo vermelha da "educação financeira", Fly chegou ao condomínio onde mora em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), para conversar com o "F5" depois de deixar a filha Bruna, 3, na escola. Sem cerimônia, vestiu um boné e se acomodou no hall do edifício, como se ali fosse uma parte de sua própria casa.
DECOLANDO
Fly começou cedo. Quando criança, vendia ferro velho para comprar pipas e ajudar em casa. Adolescente, encerou chão por uns trocados e vendeu produtos da Hermès --de venda direta-- onde ganhava 25% de cada compra.
"Sempre gostei de ganhar dinheiro", diz. Isso foi pouco antes de virar empacotador de uma rede de supermercados. O objetivo era sempre alcançar o topo.
"Ó, qual o maior cargo que tem nessa empresa? É diretor de loja? Então é o que quero ser", dizia. "Isso me motivava todo dia a acordar cedo, trabalhar e acreditar que um dia eu podia chegar lá."
Foi nessa mesma época, mais precisamente em 1985, que ele se juntou com os amigos e criou o You Can Dance. A ideia era beijar na boca. "Eu queria pegar as meninas. A gente era feinho pra caramba, né? Aí ninguém dava mole pra gente. Quando o You Can Dance começou a dançar, pronto", lembra. A fama, porém, viria somente seis anos depois, quando o grupo caiu nas graças de Xuxa e Marlene Matos e alçou voo.
"Eu ganhei na loteria, só que eu não jogava para ganhar, eu estudava." Foi fazer faculdade, estudou marketing. Aceitou todos os cursos propostos por Marlene, que iam da dança à culinária. Aproveitou todas as oportunidades. "O que ela mandava fazer, eu fazia. Acho que qualquer pai quando investe no filho e vê que tá dando resultado, vai investir mais. Ela [Marlene] é minha mãe. Ela não abriu [portas], ela arrebentou um portão inteiro. Sou muito grato".
O PULO DO GATO
Já como dançarino no programa da Xuxa, o inquieto Fly percebeu que a fama poderia não durar para sempre e começou a descobrir novas possibilidades de trabalho dentro da Globo. Não foi fácil. Ele precisou driblar o preconceito das equipes que o viam mais como um artista de rua do que como um profissional, mas não se intimidou. "Eu nunca fui acomodado, sempre corri atrás, aproveitava bem o meu tempo. Quando eu não estava gravando, estava estudando, eu não estava em casa", diz.
Quando a parceria entre Xuxa e sua produtora se desfez, Fly cambaleou. O estresse gerado na equipe por conta da separação sobrava para cima de todo mundo. "Atacavam a gente, que era mais fraco. A pressão era muito grande". Ele sentou, respirou e começou a se enveredar novamente em outros projetos. Carismático, fez ainda mais amigos e trabalhou um pouco em cada uma das mil etapas de uma produção global. Por fim, conquistou a confiança da maior rede de televisão da América Latina e a segunda maior do mundo.
SETE, OITO
A vida para Fly parece rodar duas, três ou quatro vezes mais rápido que a de uma pessoa comum, mas ele parece não notar.
"Sou muito organizado", relata. A característica é herança do aprendizado que precisou buscar para reestruturar suas próprias finanças pessoais. É que, junto com a fama, veio o endividamento. Como muitos outros brasileiros, o menino pobre perdeu tudo o que tinha ganhado num piscar de olhos.
Metódico como suas coreografias, começou a estudar mais uma vez. Agora, não era somente para crescer na carreira, mas para sair do vermelho. E deu certo. Foram quatro anos de economia, pagamentos, leituras, ajuda. Finalmente neste dezembro, ele vai buscar o carro novo e chique que comprou. Em breve, vai levar a filha e a mulher para a Disney, em sua primeira viagem internacional de lazer.
E como tudo que Fly toca vira ouro, o projeto de educação financeira ultrapassou a esfera íntima. Hoje, ele ensina pessoas de forma voluntária, apresenta palestras, presta consultoria. Na Globo, conta com uma plataforma digital onde ministra um curso on-line sobre como equilibrar a conta bancária e lançou o site "Sai do Buraco", que já conta com mais de 30 mil cadastrados.
"Quando eu chego nas feiras internacionais de investimento, como Expomoney, chego 'paraibinha', com meu bonezinho... Mas quando eu vou falar, ninguém me segura!", se orgulha. Com palavreado fácil, Fly atinge a todos. "Os economistas falam da taxa selic... Amigo: sete, oito. Regra básica é 'não gaste mais do que ganhe'". O ritmo da música, ele nunca mais perde.
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