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SAIU NO NP: Há 30 anos, Teixeirinha deu ao país seu último disco e suspiro

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"O maior golpe do mundo / Que eu tive na minha vida / Foi quando com nove anos / Perdi minha mãe querida...".

O trecho acima são os primeiros versos da música "Coração de Luto", de autoria de um dos maiores ícones da música tradicionalista gaúcha, morto em 4 de dezembro de 1985. A seção Saiu no NP desta quarta-feira (2) relembra momentos marcantes da vida e carreira do cantor, compositor e ator, Teixeirinha.

Crédito: Divulgação
Teixeirinha toca no "Clube dos Artistas", programa da TV Tupi, apresentado por Ayrton e Lolita Rodrigues

Nascido em 3 de março de 1927, na pequena cidade de Rolante (RS), Vitor Mateus Teixeira conheceu as dificuldades da vida muito cedo, com as mortes de seu pai, aos seis anos de idade, e de sua mãe, em uma tragédia quando ainda tinha nove. Órfão, foi morar com parentes e, assim, desde cedo teve que aprender a se virar para viver.

O tempo passou, e o jovem rapaz, então com 18 anos, foi trabalhar como operador de máquinas no DAER (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem) do Rio Grande do Sul, de onde, após seis anos, resolveu sair em busca de realizar o sonho de fazer música. E deu certo.

Teixeirinha cantava nas rádios do interior do Rio Grande do Sul, de cidade em cidade, e começava assim a juntar uma boa quantidade de fãs. Em uma de suas excursões, em Santa Cruz do Sul (RS), conheceu Zoraida, com quem se casou no ano de 1957.

Foi para ela, sua esposa, que ele apresentou seu maior sucesso pela primeira vez: "Coração de Luto", música feita em homenagem à mãe Ledurina, morta em consequência de um incêndio no rancho em que viviam. A canção o ajudou a vender cerca de 25 milhões de discos.

Crédito: Divulgação
Com vestes típicas, Teixeirinha se apresenta com Mary Terezinha, que tocava acordeão

Apesar de todo o seu talento, o músico não atingiu toda a popularidade sozinho. Em um de seus shows, na cidade de Bagé (RS), conheceu Mary Terezinha, de apenas 15 anos. Nessa ocasião, a jovem –20 anos mais nova que ele– mostrou todo seu talento na gaita e acordeão ao se apresentar ao lado do artista. Ali então surgia uma parceria que durou 21 anos e vendeu milhões de álbuns.

O sucesso da dupla não se restringiu apenas aos palcos. Juntos, estrelaram vários filmes. A maioria deles tinha como base as músicas compostas pelo artista –que fazia papel dele mesmo– com doses de drama, humor, ação, e com Mary Terezinha no papel de mocinha.

O primeiro de seus filmes foi "Coração de Luto" (1967), que, como a música homônima, contava a história da perda de sua mãe. Em seguida, no ano de 1970, lançou "Motorista Sem Limites", consagrado com a maior bilheteria nacional do ano. Empolgado, o artista fundou a Teixeirinha Produções Artísticas Ltda, de onde saíram mais 10 filmes. Em praticamente todos eles, parentes e amigos participavam.

VIDAS MISTURADAS
Casado com Zoraida (de 1957 até sua morte, em 1985), com quem morou boa parte da vida em uma casa no bairro da Glória, em Porto Alegre (RS), e teve quatro filhos, Teixeirinha deixou sua parceria com Mary Terezinha extrapolar os limites do palco e das telas.

Por muitos anos os dois foram amantes, e deste relacionamento nasceram outros dois filhos, de um total de nove. Isso mesmo, nove! O músico já tinha dois filhos com Ezi, com quem se relacionou antes da fama, e uma filha com uma antiga namorada, que teve paternidade reconhecida anos mais tarde.


Apesar disso, ambas parceiras –a de matrimônio e a de estrada– sabiam uma da outra e, de certo modo, aceitavam a vida que levavam com o cantor. Tanto que todos os nove filhos, em algum momento da vida, moraram com ele e Zoraida –que morreu em 2014.

FINAL MELANCÓLICO
Como já dizia a frase "tudo que começa tem um fim", em 1983 Teixerinha recebeu outro grande baque em sua vida: Mary Terezinha havia enviado uma carta dizendo que amava outro, que ia se casar e ir embora.

Dali em diante, o astro gaúcho se viu perdido. Com o coração partido, bradava aos quatro ventos o abandono, chamava a ex-companheira de ingrata, buscou isolamento em sua fazenda, tudo para tentar esquecê-la, o que foi em vão.

Na sequência, sua saúde começou a degringolar. Um infarto quase o tirou de cena, mas o músico conseguiu se recuperar. Pouco depois, um câncer foi diagnosticado. Ainda assim, gravou mais 3 discos, o último deles lançado um dia após a sua morte, há 30 anos. Em "Amor ao Passarinhos", dedicou a música "Mulher Fingida" a quem, segundo ele, "partiu seu coração":

Já não adianta me matar por ti
Já fiz de tudo prá ti ser feliz
Não adianta eu ficar me enganando
Se não me amas e nunca me quis
Como tu podes fingir tanto assim
Diz que me amas e muito me quer
Não finjas mais parta para alguém
Que eu parto também prá outra mulher


Teixeirinha foi velado em Porto Alegre, no salão nobre do Grêmio, clube do qual era torcedor fanático. De acordo com jornais da época, 50 mil pessoas acompanharam o enterro do artista no Cemitério da Santa Casa, na capital gaúcha.

Foram 65 LPs, cerca de 800 canções (entre elas, "Querência Amada" e "Gaúcho de Passo Fundo"), 12 filmes, 120 milhões de álbuns vendidos, o que lhe rendeu 13 Discos de Ouro e o apelido de "Rei do Disco".
Aos 63 anos, o rapaz que queria ser médico, "mas a pobreza não deixou", deixava um imenso legado artístico/cultural, e ficava não só na memória do povo do Rio Grande do Sul, mas de todo o Brasil, por onde seu sucesso se espalhou graças as suas composições, filmes e amores.

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