Bateau Mouche afunda no Réveillon do Rio e mata 55 pessoas
Último dia do ano, motivo de celebração entre amigos e familiares à espera de mais uma temporada. Esta era a expectativa dos tripulantes reunidos num iate de luxo no Rio de Janeiro há 25 anos.
O "Saiu no NP" de hoje recorda o naufrágio do navio Bateau Mouche durante Réveillon de 31 de dezembro de 1988. O acidente com a embarcação que saía da praia de Botafogo com destino a Copacabana matou 55 pessoas e deixou dezenas de feridos.
O "Notícias Populares" acompanhou de perto os desdobramentos do desastre, que foi caracterizado pelo diário como a tragédia do "navio assassino".
Com quase uma página de destaque, o "NP" publicou no dia 2 de janeiro de 1989 os principais eventos do drama carioca. O diário destacou o número de mortos, os relatos dos sobreviventes e as primeiras suspeitas sobre a causa do acidente. A manchete principal, "89 começou com mortes de artistas no fundo do mar", informou que famosos da época também morreram no incidente, entre eles, a atriz Yara Amaral.
"A passagem de ano, anteontem, no Rio de Janeiro, foi marcada por uma das mais dolorosas tragédias. O navio 'Bateau Mouche IV', com cerca de 140 personalidades a bordo, afundou em frente ao Pão de Açúcar, matando mais de 100 pessoas", publicou o "NP".
Em meio à escuridão típica de uma noite cuja principal atração seria a queima de fogos na praia, os passageiros caíram no mar após forte vento atingir o navio. "Pouco antes da tragédia o barco começou a adernar e acabou virando, jogando todos os passageiros ao mar. Houve muito pânico e gritaria. As pessoas começaram a se segurar em qualquer objeto que estivesse boiando", publicou a reportagem.
O "Notícias Populares" narrou que muitos "passageiros foram puxados para o fundo por pessoas que, desesperadamente, tentavam se salvar. Outros desmaiaram atingidos na cabeça por pedaços de madeira do barco".
Enquanto alguns pescadores da região traziam os corpos, os bombeiros levavam os sobreviventes para a Marina da Glória, onde recebiam os primeiros socorros.
Em choque, alguns esperavam na orla da praia na esperança de reencontrar parentes e amigos que estavam no passeio. Foi o que aconteceu com o empresário Danilo Piquete. De acordo com os relatos, ele, a esposa e o filho de 16 anos saíram a salvos depois de terem se agarrado num pedaço de madeira que boiava na água.
Já outro homem não teve a mesma sorte. Ao sentir que o navio estava afundando, tentou sem êxito encontrar seus familiares. Resgatado e levado para a orla, acabou reconhecendo o cadáver do filho de dez anos enquanto sua esposa ainda seguia desaparecida. Revoltado, o passageiro acusou a Capitania dos Portos de negligência. Segundo ele, a nau estava superlotada e o mar não apresentava boas condições de navegação naquela noite.
No dia 3 de janeiro o "Notícias Populares" prosseguiu na cobertura do naufrágio. Dezenas de corpos esperavam no IML para identificação enquanto outros eram liberados. "80 corpos do barco assassino já entregues para as famílias". A essa altura, a repercussão era geral.
Sentimento de dor e revolta se misturava em meio às manchetes. No "NP", a notícia da criação de um abaixo-assinado encabeçado por artistas pedindo punição imediata dos responsáveis surpreendeu.
Durante o velório da atriz Yara Amaral, o ator Sérgio Mamberti, que na época interpretava o mordomo Eugênio da novela "Vale Tudo", revelou ao "Notícias Populares" que havia escapado da morte por pouco. Dias antes, sua amiga e companheira de trabalho o convidara para passar o Réveillon com ela. Mamberti só não aceitou porque tinha outro compromisso. Horas após o acidente, o marido de Yara Amaral reconheceu seu corpo no IML. Sua morte causou tristeza no meio artístico, que acompanhou de perto as investigações do caso pelas autoridades.
Enquanto isso, o empresário espanhol A. Rivera, um dos proprietários do Bateau Mouche, estava sendo esperado na 10ª delegacia para prestar depoimento.
A polícia averiguava se houve excesso de passageiros na embarcação. Com exclusividade, o "NP" publicou que a entrada no navio custava até US$ 150, cerca de 115 mil cruzados na época. A situação do dono do Bateau Mouche ficou ainda mais complicada quando sobreviventes do naufrágio acusaram o comandante da nau de ter desobedecido à orientação da Capitania dos Portos. Segundo o "Notícias Populares", o navio saiu do cais por volta das 21 horas e retornou assim que a Polícia Marítima da Capitania proibiu a navegação devido às más condições do oceano. Porém, depois do retorno, o comandante do Bateau Mouche decidiu voltar para o mar e seguir viagem pela segunda vez.
Em reportagem veiculada no "NP" em 2 de janeiro, as vítimas disseram que manifestaram preocupação ao comandante, que teria respondido que o balanço da embarcação era natural. Outros sobreviventes acusaram a própria Capitania, que teria recebido dinheiro para não proibir mais o passeio do navio, que acabou afundando minutos depois.
A 27 metros de profundidade, a possibilidade de festejar a entrada de mais um ano havia acabado para mais de 50 pessoas e seus familiares e amigos, que ainda hoje esperam por uma resolução do caso. O processo criminal contra o grupo estrangeiro empresarial responsável pelo Bateau Mouche prescreveu antes de o episódio completar 10 anos, o que possibilitou a liberdade para a maioria dos sócios. Apenas dois foram para a cadeira. Após cumprirem quatro meses de pena no regime semiaberto, ambos fugiram do Brasil.
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