Saiu no NP

Senna é do cacete!

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Há 20 anos, enquanto o Brasil caminhava rumo a mais um plano que prometia salvar a economia, um dos maiores nomes da história do esporte nacional, Ayrton Senna da Silva, morria num acidente durante o GP de San Marino, em Imola (Itália), no dia 1º de maio de 1994.

O "Saiu no NP" de hoje relembra a cobertura do "Notícias Populares" sobre a carreira do tricampeão de F-1, desde a primeira vitória na principal categoria do automobilismo mundial.

A estreia do piloto no lugar mais alto do pódio, no dia 21 de abril de 1985, no circuito de Estoril, em Portugal, ganhou o seguinte destaque do "NP": "Brasileiro fica doidão com a primeira vitória". Ao chamar Senna de "doidão", o diário referiu-se à reação do brasileiro, que, após receber a bandeirada final, largou o volante da Lotus na pista, obrigando o terceiro colocado, ainda uma volta atrás, a desviar do artefato. O GP, que marcou também a primeira pole position do então piloto da Lotus, motivou o "NP" a dizer que "só deu Senna no GP de Portugal" e que "o mundo baba com o brasileiro".

Crédito: Jorge Araújo/Folhapress
Senna festeja sua 1ª vitória no GP Brasil, em Interlagos

E não foi a primeira vez que o piloto paulistano, nascido no dia 21 de março de 1960, surpreendera. Com apenas dez anos, fora flagrado pelo pai dirigindo um carro _sem estatura suficiente para alcançar a embreagem, ele trocou as marchas somente escutando o barulho do motor da Veraneio da família.

Depois de ter brilhado no kart, na Fórmula Ford 1600, na F2 e na F3 até chegar à F-1 em 1984, Senna sagrou-se campeão mundial pela primeira vez em 1988, no dia 30 de outubro, no GP do Japão.

Após seu McLaren falhar na largada, Senna, então pole position, caiu para a 16ª posição. Com uma performance memorável, o brasileiro ultrapassou um por um até chegar na liderança e, finalmente, obter seu troféu de campeão. Na época, a reportagem do "NP" frisou o triunfo do brasileiro e o fim da decepção do torcedor do país, frustrado com os sucessivos fracassos da seleção brasileira desde a Copa do Mundo de 1970. "O Brasil chora com Senna campeão" foi a chamada do jornal, que estampou a emoção do piloto no pódio. Naquele ano, o piloto da McLaren batera todos os recordes durante uma temporada ao fazer nove poles e conquistar oito vitórias, um feito nunca antes realizado por nenhum profissional da F-1.

Já com a fama de "rei da chuva" –devido à sua insistência em treinar em pista molhada quando era adolescente–, Senna conquistou o bicampeonato mundial dois anos depois, também em Suzuka.

Alain Prost, chamado constantemente de "narigudo" pelo "NP", defendia o título que conquistara em 1989, quando se tornou suspeito de ter colidido propositalmente no carro de Senna. Devido à forte rivalidade e ao histórico da batida de 1989, Senna e Prost voltaram a colidir em Suzuka em 1990. De acordo com o jornal, Senna apenas tinha "devolvido na mesma moeda" e obrigava Alain a abandonar a prova, o que o impediu de fisgar mais um campeonato. Na ocasião, Prost e Jean-Marie Balestre, que presidia a Federação Internacional de Automobilismo e no "NP" era chamado de "cartolão", criticaram Senna, mas o brasileiro saiu vitorioso e foi aclamado no Brasil.


Um dia depois da conquista, o "Notícias Populares" noticiava "Senna tromba em Prost para levar bi". Na mesma edição, o jornal aproveitou para alfinetar Balestre, que em 89 "não sossegou" enquanto não tirou o campeonato do brasileiro. "Balestre aprontou em 1989", lembrou a publicação.

Os elogios a Senna só aumentariam no "NP", especialmente com as vitórias do piloto no Brasil em 91. Com o primeiro lugar no pódio, na edição de 25 de março de 1991, a publicação afirmou que o "narigudo [Prost] não deu pro cheiro" em Interlagos. Na corrida em São Paulo, o jornal sublinhava que o piloto ficou sem a 3ª, a 4ª e a 5ª marcha, fato que não o atrapalhou de ganhar a prova. Mesmo com dores e espasmos musculares devido ao esforço de guiar praticamente sem câmbio, o brasileiro ergueu com dificuldade o troféu no primeiro lugar no pódio. Após o feito, o "NP" foi direto: "Senna é do cacete!".

No mesmo ano, ele se sagrou tricampeão mundial na F-1 no Japão novamente. Na capa, a chamada foi "Senna vibra como criança depois de dar show de direção no asfalto quente de Suzuka". O tri lhe rendeu uma visibilidade ainda maior, com o "Notícias Populares" chegando a publicar um caderno especial sobre Senna e produzindo reportagens dedicadas à carreira e à vida do piloto. O encarte, de 21 de outubro de 1991, teve quatro páginas recheadas de fotos, histórias e retrospectivas. "Talento", "gênio" e "fera" foram as denominações mais usuais nos textos.

Crédito: Juan Esteves/Folhapress
Ayrton Senna durante os treinos preparatórios de sua última participação no GP Brasil de F-1 em Interlagos

Ao falar sobre o GP em Suzuka, o "NP" ressaltou a generosidade do piloto, que fez questão de tirar o pé durante a liderança da prova para permitir que seu companheiro de equipe, o austríaco Gerhard Berger, vencesse sua primeira corrida no ano. O especial exaltou o tricampeão, que, apesar da superioridade técnica do carro da Williams de Nigel Mansell, havia mostrado "o por que era o melhor" e tinha conquistado o "título no braço".

Já devidamente consagrado no mundo da F-1, Ayrton Senna ainda seria a figura principal do GP Brasil dois anos depois. "Senna dedica a vitória a Deus", destacava a capa do jornal do dia 29 de março de 1993, um dia após o triunfo em casa. Nas edições anteriores, o "NP" manteve as alfinetadas no eterno rival Alain Prost, chamado também de "baixote". Trechos como "Senna odeia este nariz", "Prost banca de bom moço" ou o "narigudo prefere ficar de bico calado" puderam ser lidos nos dias antes da corrida do dia 28 em São Paulo. Este GP também marcou a última vitória de Senna no país que, dali a pouco mais de um ano, o veria morto.

No dia 2 de maio de 1994, em outra edição especial, o "NP" se juntou à imprensa do mundo para dar a notícia da morte de Ayrton Senna, que não resistira após bater forte contra o muro no circuito de Ímola, na Itália. Na capa, com destaque para a cor preta, indicando luto, a inscrição: "Um terrível acidente em San Marino matou o nosso Ayrton Senna". Assim, o piloto que na F-1 correu 161 GPs, obteve 41 vitórias, 65 poles e três títulos mundiais deixava as pistas para ficar para sempre na história.

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