Música

Netinho dá arranjo moderno a sucessos dos anos 1990 e volta a tocar na novela das nove

Pagode não soube se renovar e perdeu espaço, afirma o cantor

retrato de Netinho de Paula
Netinho de Paula lembra os 30 anos do Negritude Jr. em álbum ao vivo, já nas plataformas digitais - Divulgação
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São Paulo

“Beijo Geladinho”, do grupo Negritude Jr., é um dos hits dos tempos do auge do pagode nacional, nos anos 1990. A canção foi revitalizada por seu compositor, o cantor Netinho de Paula, 48, e está agora na trilha sonora da trama das nove da Globo, "A Dona do Pedaço".

A versão surgiu de experimentos que o compositor fez com seus antigos sucessos em estúdio, que resultou no álbum “Netinho de Paula canta 30 anos de Negritude Jr”, disponível nas plataformas digitais. Desde 2016, ele está dedicado a retomar a sua carreira de cantor, após se dedicar alguns anos à política e à televisão. 

Ele conta que a maioria das músicas do grupo tinha referências da música negra norte-americana, como a banda Earth, Wind & Fire. Em três meses no estúdio, Netinho testou de tudo e se deu liberdade de brincar com as canções.

A Globo pediu uma música da época, e ele mostrou a versão renovada. “Beijo Geladinho” faz parte do núcleo do Bixiga , bairro tradicional de São Paulo, que tem atores como Marco Nanini, Rosi Campos e Suely Franco.

O novo trabalho de Netinho tem 26 faixas, entre elas, versões de “Tanajura”, “Cohab City”, “Melhor Assim” e “Olhos Vermelhos”. 

A gravação do álbum ao vivo aconteceu em Porto Alegre, em 2017. O conteúdo deve ser lançado em DVD até o fim do ano. “Esse trabalho ainda tem quatro músicas inéditas. A gente já tinha pensado nelas, mas não tem um show que não peçam: ‘toca aquela’? Então, não deu para se desligar das músicas dos anos 1990 e resolvemos começar por essas”, explica Netinho. As inéditas devem ser incluídas no DVD, mas a produção ainda estuda como será o lançamento. 

Já há dois anos, Netinho retomou a sua agenda de shows e também foi convidado a participar de algumas apresentações do projeto Amigos do Pagode 90, criado por Salgadinho. 

Para o cantor, é fácil entender porque essas músicas ainda estão tão vivas no imaginário coletivo. “Vivemos algo único que foi um samba que começou a ser construído nos anos 1980 pelo pessoal do Fundo de Quintal, que formava uma revolução da juventude periférica, e explodiu nos anos 1990. Houve uma invasão de negros da periferia na TV, entramos naquela disputa entre o Gugu e o Faustão aos domingos. Éramos os protagonistas dessa disputa ao lado do Só pra Contrariar e do Raça Negra”, lembra. 

Netinho acha que o sertanejo conseguiu tomar as paradas de sucesso porque se renovou, abrindo espaço para mulheres e jovens. "O sertanejo é menos machista e abriu espaço para as mulheres, enquanto o samba parou. Você não vê moleque de 15 anos cantando samba, os sucessos mais recentes são Ferrugem e Dilsinho que já estão perto dos 30 anos”.

PASSAGEM PELA TV FICOU MARCADA POR QUADRO DIA DE PRINCESA

Netinho foi apresentador de TV nos fim dos anos 1990, em programas musicais da Globo, até se destacar com o programa Domingo da Gente (Record) que tinha o quadro Dia de Princesa, em que uma jovem da periferia ganhava um dia de beleza e ainda era incentivada a fazer cursos e tudo o que era possível para melhorar sua autoestima. 

Depois dessa fase, ele se dedicou nove anos à política e sentiu falta da música. “Foram dois mandados de vereador e um de secretário, trabalhei em quatro campanhas e isso tomou muito tempo. Quando eu parei em 2016, eu já estava trabalhando na escolha dos músicos para essa gravação”, conta.

Na política, Netinho sofreu algumas experiências tortuosas. Ele chegou a ter o cargo de vereador caçado por infidelidade partidária, em 2015. “Não posso dizer que me senti frustrado com a política. Eu entrei porque as pessoas pediam muito e acho que contribui até onde pude. Não sou mais afiliado a nenhum partido, mas continuo militando na questão étnica racial e tudo que estamos passando no Brasil é para um amadurecimento da democracia, que eu acredito que vá prevalecer”, defende o artista. 

Em algumas questões, Netinho diz que ainda se sente representante. “Muito especialmente na questão racial que tomou uma proporção tão grande, que não é mais questão de esquerda ou da direita. O negro não quer mais ser tutelado, e o feminismo negro também está muito em evidência”, afirma. 

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