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Aposentado usa até 30 mamões por dia para alimentar aves na Aclimação

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O dia do aposentado Tomomi Uemura, 66, começa cedo. Às 4h30, ele já está de pé, preparando as frutas que alimentarão sabiás, periquitos, sanhaços e outros passarinhos no parque Aclimação, na região central.

Por volta das 9h, ele chega ao local carregando um carrinho com cerca de 40 bananas e 30 mamões. "Mamão é o filé-mignon do sabiá", diz ele, que é conhecido como Mano. "Como muita gente não entende meu nome, adotei esse apelido para descomplicar."


Após deixar as frutas cortadas e sem caroço em prateleiras de madeira instaladas a poucos metros da concha acústica do parque, ele volta para casa, também na Aclimação, almoça e segue para uma das feiras da região em busca de doações dos feirantes.

Quando os feirantes não têm nada para dar, Mano compra as frutas com seu dinheiro. Por semana, chega a gastar R$ 50. "Mas aí eu espero o fim da feira para poder pechinchar, né?"

A rotina do aposentado é essa desde 2004, quando, caminhando pelas feiras do bairro, percebeu a quantidade de alimentos desperdiçados. Foi aí que decidiu usar as frutas descartadas como comida para os pássaros, já observados por ele durante caminhadas.

A administração do parque vê a iniciativa com bons olhos, mas impõe ao aposentado a obrigação de recolher as sobras no fim do dia, já que elas podem atrair ratos à noite. Solteiro e morando com duas irmãs, Mano não falta ao "trabalho" desde que começou a exercer a função. Nem nos finais de semana, com medo de que os pássaros fiquem sem ter o que comer. "Existe feriado para a fome?", brinca ele, que dois anos atrás trabalhava como despachante escolar.

Sua determinação sensibilizou alguns dos frequentadores do parque, que, depois de verem seis carrinhos de feira quebrarem após tanto uso, fizeram uma vaquinha para dar a Mano, no ano passado, um veículo reforçado --com plataforma e quatro rodas, o carrinho custou R$ 400.

Mano, no entanto, ainda sonha com um veículo que ele mesmo projetou, que tenha prateleiras para armazenar as caixas de frutas. Não pensa em abandonar os passarinhos. "Se eu parar de fazer isso, o que é que eu vou fazer?"

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