Homens de quarenta e muitos que não querem nada sério mas querem ter uma família um dia
Quando deixei claro que não desejava nada além de sexo, um deles se sentiu um objeto
Numa dessas noites de calor em que o rolê é infinito, fiquei com um homem alto, muito alto. Nada em especial me chamou a atenção além de seus quase dois metros de porte. Em casa, notei que ele tinha algumas qualidades como fazer um oral de manual: tenho certeza que ele saberia manusear com precisão qualquer buceta que colocassem na frente dele.
O pau dele estava surpreendentemente duro, ainda mais considerando a idade. Ele tinha 47 anos. Presumi que tivesse feito uso de tadalafila e achei ótimo –não infartando em cima de mim, tudo bem. Uma coisa que me encantou muito é que ele percebia quando eu ia gozar, não errava nunca.
Ele percebia pelos meus gemidos e movimentos e dizia: goza sua vagabunda, goza. E eu gozava. Assim ele ficou uma, duas, três noites. Não falava nada de interessante, pelo contrário, mas ele também era relativamente hábil na disciplina cu.
Por conta da habilidade, voltou no fim de semana seguinte, com uma mochila maior do que eu gostaria. Pedi para ele comprar cerveja no caminho e ele chegou com duas –DUAS– longnecks de Stella. Quando tivemos fome, ele disse pede aí uma pizza que eu te faço um pix. Não fez até hoje. Senti o golpe, mas logo ele me fez gozar três vezes em quarenta minutos e quase pedi outra pizza.
O problema era sempre quando ele falava. Um festival de machismos daqueles que, quando a gente reclama, dizem que estamos exagerando. "Minha ex ficante era doida" ou "hoje em dia tudo é assédio" e, principalmente, "depois o cara vira textão na internet injustamente".
Acho que o mais nojento foi "deixa eu ver uma foto sua novinha". Para além disso, apenas opiniões muito burras sobre muitas coisas, problemas que eu tentava resolver sentando na cara dele.
Logo na primeira vez que ficamos, ele desatou a falar –do nada e sem contexto– sobre como queria ter filhos um dia. Sim, o sonho dele era ter uma família um dia. Bateu uma raiva: se eu, uma mulher, deitasse na cama de um homem desconhecido com quem acabei de trepar e dissesse que quero ter filhos, talvez ele levantasse de um salto e me espantasse do quarto como se eu fosse uma mosca. Mas, para eles, parece tão natural tudo isso.
Comentei que nunca quis ter filhos e já tinha até feito uma laqueadura. Atirei em cima dele meu livro chamado "Não Quero Ter Filhos". Nesse momento, ele tratou de deixar claro que não estava procurando nada sério. Mas queria uma família. Um dia. Lembrando, ele tinha 47 anos.
Apesar de não querer nada sério, ele também não queria saber de ir embora. Não me perguntem como chegou a esse ponto, mas em algum momento eu o ameacei, com o rodo na mão, dizendo que era melhor ele limpar o banheiro que ele tinha sujado. Ele limpou, me fez gozar mais umas duas vezes e nessa altura os orgasmos não estavam compensando mais.
Ainda assim, quis transar com ele outra vez, sim! Ora, meu objetivo com aquele homenzarrão não era andar de mãos dadas no Aterro do Flamengo, assistir a shows na Marina da Glória, ter profundas discussão de relação. Eu queria beijar, sentar no seu pau recheado de tadala, gozar e comer uma pizza, em um ritual que não durasse o fim de semana todo.
Mas ao saber das minhas intenções, ele avisou: não queria ser tratado como objeto, queria passar o sábado vendo filmes (na minha casa), ir ao aniversário de amigos (dele), ir ao samba na Pedra do Sal e depois dormir de conchinha (na minha cama). Ele também queria carinho, cuidado, amizade, presença, mensagens de zap.
Depois de tudo isso, acrescentou: não, ele não queria namorar comigo, nem queria que eu me apaixonasse por ele. Ainda que ele, é claro, quisesse ter uma família. Um dia.
Achei suas demandas muito parecidas com um namoro, e, como não tinha vontade desejo de viver nenhuma dessas coisas com ele, falei que era melhor não ficarmos mais. Até aí, foi apenas mais uma situação comum na vida de adultos: às vezes o sexo é bom, mas todo o resto é aborrecível e você leva até onde dá.
O curioso foi, que a partir daí, abri os olhos para o mui amplo fenômeno do homem de quarenta e muitos que diz não querer nada sério mas quer muito ter uma família um dia e quando a mulher só quer sentar ele se sente um objeto.
Essa figura arquetípica (porém jamais estereotípica) consumiu muitos contos de fada sobre a masculinidade quando era jovem. Neles, aprendeu que toda mulher está sempre pronta para dar amor e desesperada para casar e fazer bebês.
Os homens em contrapartida, como reis do mundo que são, podem adiar a paternidade indefinidamente, pois férteis até mais tarde. Quando o dia chegar, haverá uma oferta grande de jovens cheias de colágeno e disposição para gerar seus rebentos e cuidar dele na velhice.
Mas eis que esse conto de fadas, como todo conto de fadas, não dá certo para todos. Muitos se veem aos quarenta e muitos em franca carência e desespero. Mulheres da idade dele o acham infantil. As de trinta e muitos ou não querem ter filhos de jeito nenhum, ou preferem fazer FIV e criarem os filhos sozinhas do que manter um vínculo com um tipo como ele –se não paga nem meia pizza e meia dúzia de cervejas, que dirá dividir as contas de uma criança.
E as tais mais novas prometidas? Bem, elas andam mais espertas. Se for para virarem cuidadora de idosos, exigem mais generosidade. Para ser o véio da lancha, bem, tem que ter uma lancha.
O passo seguinte, para esse homem, é fazer um grande escândalo reclamando da solidão masculina e dizendo que o feminismo destruiu sua vida. Poxa, gente. Sinto muito.
(Mas pelo menos, nesse caso, o oral era bom).
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