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X de Sexo Por Bruna Maia
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Será que dá para falar em volta da monogamia quando ela nunca foi embora?

Regime sustentado no amor romântico e exclusividade sexual infelizmente segue firme

Sasha Meneghel e João Figueiredo se casaram em 2020, em Angra dos Reis (RJ) - @sashameneghel no Instagram
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Toda hora eu fico sabendo da volta de algo que nunca saiu de cena: delineador no olho, batom vermelho, franja, xadrez, monogamia. Sim, é verdade que trisais, relacionamentos abertos e poliamor foram amplamente expostos nos últimos anos.

É um tanto provável que você já tenha se deparado com algum texto ou vídeo da escritora Geni Núñez falando sobre outras formas de viver os afetos ou com algum tuíte da querida Regina Navarro Lins falando em sexo a três.

Apesar disso, ainda é a monogamia que engrossa o caldo da nossa cultura –o que fica claro pela quantidade de músicas sobre chifre produzidas no Brasil. As vendas vultuosas de romances eróticos também revelam que esse modelo segue firme e forte: o casal pode até trepar loucamente, mas tem um final sempre normativo focado em casar e ter filhos.

Outro tipo de conteúdo com altas doses de conservadorismo são as "novelinhas" criadas para o TikTok e Instagram, várias delas compostas de diálogos do Whatsapp (falsos e geralmente muito mal escritos). Esse tipo de conteúdo tende a exaltar a figura da mulher ciumenta, que fuça no celular do marido e proíbe qualquer outra mulher de se aproximar dele.

Tsunamis do feminismo e desconstruções de gênero à parte, o modelo de afeto normativo centrado no casal e sustentado no mito do amor romântico em que a única completude possível só existe dentro dessa estrutura segue firme há décadas.

A ideia de que sexo é uma coisa que deve ser feita apenas no seio da relação, especialmente se você for mulher, ainda persiste em uma vasta porcentagem da sociedade. Assim como a noção de que, se o homem pulou a cerca, ele merece o perdão, mas se a mulher pensou em fazer isso talvez ela mereça um fim muito pior.

Nos últimos anos, a maior parte dos meus amigos –urbanos, descolados, de esquerda– discutiram seus acordos de relacionamento e experimentaram diferentes arranjos. Enquanto isso, milhares de casais normativos fãs de sertanejo e Coldplay formados por uma loura e um musculoso de sapatênis juravam fidelidade em festas de casamento muito caras.

Milhões de mulheres engravidaram, pariram e se viram sozinhas cuidando das crianças porque, aos olhos do povo (e do regime monogâmico), isso é responsabilidade só delas.

A monogamia não esteve sempre aí na história das civilizações e o casamento por amor se consolidou só no século 20. Infelizmente, fato é que essa dupla nunca esteve de fato ameaçada por formatos de relação que privilegiassem uma releitura dos afetos e da tarefa do cuidado.

Por isso, não são nada espantosas as notícias de que a monogamia está na moda entre a metade mais nova da geração Z. Não é uma novidade que pessoas se organizem em torno do modelo que é normativo.

Ao mesmo tempo, faz todo sentido que os mais jovens expressem de forma enfática o desejo por relações exclusivas em que homens provêm e as mulheres trabalham de graça nas atividades domésticas. Afinal, eles são bombardeados por conteúdos conservadores que validam essa existência diariamente e prometem que a felicidade reside apenas nela.

Acho uma pena. Para além da questão sexual, a vida é melhor quando outros afetos fora do núcleo familiar são firmes. Desejo sorte para os novinhos.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. Autora dos livros 'Parece que Piorou', 'Com Todo o Meu Rancor' e 'Não Quero Ter Filhos', fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo

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