Por que está faltando tesão em alguns casamentos perfeitos?
Noção de união por amor com vida sexual satisfatória é recente na humanidade
Rodrigo Hilbert preparou um prato de banana com granola, sentou ao lado de Fernanda Lima, que comia um kiwi. O habilidoso louro disse que o casal transa, sim. Inclusive, transaram cinco vezes em três dias quando estavam em Paris.
Como ele é um homem que trabalha muito, aproveitou a oportunidade para fazer propaganda da sua marca de whey. A internet realmente transformou a vida íntima em um reclame. Mas o vídeo não foi sem motivo.
No programa Surubaum, de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, Fernanda disse que não está fácil o sexo na sua casa porque "a vida vai ficando muito corrida". Giovanna também revelou que, às vezes, tem preguiça de transar com Bruno, porque, afinal, são muitos filhos e problemas para resolver.
Isso deu origem à enxurrada de memes sugerindo que Rodrigo Hilbert se dedica tanto à marcenaria, crochê e exercícios físicos que não sobra tempo para trepar. O que levou o casal a fazer o vídeo da banana com granola (e whey) para afirmar que não é bem assim.
Colunistas, como essa que vos fala, aproveitam o gancho para perguntar: por que há tantos casais vivendo relacionamentos sem sexo? Bom, as famílias infelizes são infelizes cada uma ao seu modo, e cada dupla deve ter o seu motivo, mas listo alguns bem comuns que constatei nas minhas pesquisas, conversas e desabafos de leitores:
1 – Depois de algum tempo o desejo pelo outro arrefece, mas a parceria do casal funciona muito bem em outras esferas: são amigos, se complementam, gostam da companhia um do outro, têm projetos em comum. Se amam, mas não se tocam. Isso faz com que eles não queiram se separar. Alguns até abrem a relação e seguem a vida com alegria.
2 – Às vezes o casal se odeia, é extremamente infeliz junto, não tem parceria e comunicação, muito menos sexo, mas fica preso nessa dinâmica. Talvez os dois padeçam de neuroses complementares, talvez tenham preguiça ou medo de desatar esse nó, talvez haja alguma conveniência em manter a relação. Nesse caso é muito comum que a questão econômica seja um fator determinante, no caso de um dos cônjuges depender do outro financeiramente.
3 – Existe a grande possibilidade de que a falta de energia para transar esteja ligada a duas instituições recentes na história da humanidade. A primeira é o capitalismo, que deixa todo mundo exausto de trabalhar e transforma a vida num palco de produtividade em que até um vídeo bem-humorado vira um anúncio de produto para ficar sarado. A segunda é a maternidade, que, de uns séculos para cá, passou a ser uma atividade individual e isolada, sobrecarregando as mulheres e destruindo a libido delas.
4 – Algumas pessoas são assexuais e podem viver relacionamentos românticos satisfatórios sem transar.
5 – O casamento motivado por amor, com vida sexual satisfatória e monogâmica, também é bastante recente, e essa noção se consolidou somente no século 20. Anteriormente, a união entre duas pessoas tinha um enfoque patrimonial, político ou de dever religioso. O amor era desvinculado desse enlace promovido pela Igreja, reconhecido pelo Estado.
A infidelidade masculina sempre foi tolerada, mesmo depois de a tradição católica condenar o sexo fora do casamento e sem fins reprodutivos. Eles sempre puderam obter prazer sexual com amantes e trabalhadoras sexuais sem grande prejuízo social. Já a sexualidade feminina sempre foi mais reprimida, mas houve períodos na história que as escapadas femininas eram mais toleradas —dizem que as cortes francesas do século 17, por exemplo, eram uma loucura.
Já no fim do século 19 o casamento se tornou uma atividade doméstica tão solitária e insatisfatória sexualmente para mulheres que elas começaram a enlouquecer de tanta opressão —foram chamadas de histéricas.
Ao longo do século passado, a cultura, com suas histórias de amor, comédias românticas e foco no casal, consolidou a ideia de que existe uma metade que deve nos fornecer tudo, para sempre, inclusive sexo bom, com exclusividade. Então talvez, e só talvez, alguns casais de longa data que se amam e admiram tenham dificuldade de dar no couro porque estão cercados de estruturas que ditam como e onde o desejo deve se dar, mesmo que os sujeitos queiram outras coisas.
Não que esse seja o caso de Fernanda e Rodrigo, que transaram cinco vezes, em três dias, em Paris.
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