O que Lady Gaga, Madonna e os papas têm em comum?
Todos são instituições que atraem milhares de fãs e falam muito sobre sexo
Eu estava lá, nas areais de Copacabana, quando Lady Gaga performou em frente a milhares de gays trajando sungas e leques. Também estava quando Madonna fez o mesmo.
Por outro lado, só pude acompanhar pela TV o anúncio do novo papa da Igreja Católica Apostólica Romana, que adotou o nome Leão 14º (apesar de ser de virgem). Fui educada em colégio de freiras, logo, tenho ampla intimidade estética com todos esses eventos, e sei bem onde a vara vertiginosa pega.
As duas divas compartilham outras características além de shows históricos no Rio de Janeiro. São descendentes de italianos e foram criadas no catolicismo. E, por mais excomungada que Madonna tenha sido e que Gaga ainda venha a ser, essa religião influenciou demais a carreira delas e a maneira como elas trabalham a sexualidade no pop.
Nunca faltaram cruzes, espinhos e vitrais no trabalho de ambas. Tampouco looks variando entre o acetinado e o couro, que brincam muito com o conceito das vestes litúrgicas e todo imaginário sobre o que há por trás delas.
O clipe de "Like a Prayer", de Madonna, causou escândalo quando ela beijou um jesus negro e dançou em frente a cruzes em chamas. Mas, para além disso, ela se apropriou da simbologia católica para uma canção que muito provavelmente narra um boquete pra lá de espiritual:
"Quando você chama o meu nome, é como uma oraçãozinha,
Estou agachada de joelhos, quero que te levar até lá."
No caso de Lady Gaga, as referências ficam bem claras em "Judas", em que ela fala sobre seu amor por um cara cujo nome calha de ser o mesmo daquele que traiu Jesus Cristo. A canção é tão carregada de culpa e devoção que parece até uma missa de domingo estrelada por um papa motoqueiro:
"Quando ele me chama, já estou pronta
Vou lavar os pés dele com meu cabelo se ele quiser
Perdoo quando seu cérebro faz sua língua mentir
Mesmo depois de ele me trair três vezes."
Essa mistura de estética gótica com tesão, desejo, proibido, perdão, redenção, pecado, arrependimento, transcendência e um tantinho de masoquismo é intimamente ligada à tradição católica. Só que, enquanto as duas divas usam o corpo e seus estigmas para extravasar sexualidade, os papas, em sua grande maioria, têm feito o contrário.
Entre pontífice, sai pontífice, a repressão ao sexo reina no centro do discurso. Alguns papas, como Gregório 1º, colocavam o ato sexual como algo sujo que deveria ser apenas procriativo. Outros, como João Paulo 2º, diziam que transar pode ser uma expressão do amor conjugal. No entanto, nenhum deles, nem mesmo o popular Francisco, defendeu o livre gozo e os plenos direitos reprodutivos.
Quem frequentou ambientes repressores sabe muito bem que a proibição e a culpa, se misturados do jeito certo, podem dar origem a amplos fetiches e taras, das mais saudáveis às mais sombrias. E tanto Madonna como Lady Gaga conseguiram navegar nessas águas turvas.
Se Leão 14º vai apostar mais na culpabilização ou na aceitação, não sabemos. Mas sabemos que um bom católico faz o melhor que pode com qualquer uma dessas coisas.
E, falando nisso, vocês viram as vestes do novo papa e de todo aquele pessoal do Vaticano? Dignas do clipe de um "feat" entre as duas cantoras.
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