Obituário: colunista bipolar chora a triste morte de um vibrador
Pouco se fala do luto que é ver seu brinquedo favorito partir
O nome dele era Roy. Vermelho (minha cor) com língua vibratória para a região do clitóris e uma extensão para inserir que também tremia de forma potente. Ele não era grande, e nem mimetizava um falo. Nunca ninguém me fez gozar tanto.
Não me entendam mal, gosto de transar com homens e já conheci vários excelentes na tarefa de me dar muitos orgasmos. Mas é difícil para membros humanos competirem com o duplo (e delicioso) estímulo vigoroso do Roy.
Inclusive já o utilizei durante transas com homens, o que me rendeu algumas das melhores sensações que a existência carnal pode proporcionar. Mas foi há cerca de cinco anos, num ménage composto por eu, Roy e um episódio de hipomania que subi aos céus. No espaço de algumas horas, gozei mais de vinte vezes (eu contei). Foi uma sequência tão ininterrupta de siriricas que a minha mão direita ralou de tanto roçar no lençol —eu estava de bruços.
Tenho Transtorno Afetivo Bipolar tipo 2, e não é nada legal escorregar para a hipomania. A vontade de gastar, brigar e foder aumenta muito e pode facilmente te encalacrar. Mas, nesse dia, a presença dele me impediu de sair na rua arrumando dívidas, confusão e ISTs.
Felizmente, meu psiquiatra é atento e a medicação bateu rápido, e desde então meu ímpetos masturbatórios não são TÃO vorazes assim. Nossa relação se manteve estável e constante desde então. Roy não se deixava intimidar por nenhuma dose de antidepressivos ou estabilizador de humor, e me fazia gozar rápida e profundamente mesmo durante períodos depressivos.
E me foi de grande valia nesses momentos, inclusive, pois se estou deprimida, tenho dores e contraturas no corpo que um bom orgasmo ajuda a relaxar.
Nosso lance estava longe de ser exclusivo, pois eu o revezava com um sugador de clitóris, uma varinha mágica e um outro modelo mais parecido com um pau, além de outras participações especiais. Mas ele era meu xodó, a cereja do bolo, aquele capaz de me tirar do mais moroso estado de apatia.
Foi nessa semana que esse enlace chegou ao fim. Num dia de TPM raivosa, em que só o alívio depois do clímax me levaria a vislumbrar o bom humor, fui ligá-lo e nada. Ele não respondeu aos meus estímulos. Carregar a bateria não adiantou. Testar outra e outra vez depois de algumas horas e dias, tampouco. Agora mesmo, enquanto escrevo essa coluna, tento verificar mais uma vez suas funções e tristemente não me sobra nada além de atestar seu óbito.
Não foi um grande amor e não, não substitui calor humano, rola e outras coisas que um parceiro pode (ou não) proporcionar. Mas foi como perder um amuleto protetor das portadoras de transtorno bipolar.
Seguirei minha vida com meus outros brinquedinhos, mas enquanto eu tiver memória, lembrarei das vezes em que ele colaborou para que meus episódios fossem menos dramáticos e mais orgásticos.
Vibros são bons companheiros de quem tem vulva, e são uma mão na roda para quem precisa de medicamentos psiquiátricos para andar na corda bamba da vida sem escorregar pra dentro do abismo. RIP Roy, e obrigada pelo apoio!
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