Tony Goes

Impacto de 'Pantera Negra' se perderá se Chadwick Boseman não for substituído

Movimento surgido na internet pede que o personagem não vá para outro ator

Chadwick Boseman na cerimônia do Oscar em 2019
Chadwick Boseman na cerimônia do Oscar em 2019 - Mario Anzuoni/Reuters
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Em apenas sete anos de estrelato, Chadwick Boseman deixou sua marca na história do cinema. O ator, cuja morte causada por um câncer de cólon foi anunciada nesta sexta-feira (28), já mereceria ser lembrado por suas interpretações de grandes nomes afro-americanos, como o jogador de basebol Jackie Robinson (“42: A História de uma Lenda”), o cantor e compositor James Brown (“Get On Up”, 2014) ou o juiz Thurgood Marshall (“Marshall: Igualdade e Justiça”, 2017), o primeiro negro a integrar a Suprema Corte dos Estados Unidos.

Mas também existe, é claro, um papel que alçou Boseman a níveis estratosféricos: Pantera Negra, o primeiro super-herói africano da Marvel. O encontro entre o ator e seu personagem mais icônico aconteceu discretamente, no filme “Capitão América: Guerra Civil”, de 2016. Era só um aperitivo: dois anos depois, o príncipe do fictício reino de Wakanda ganharia seu próprio longa, num desses raros acontecimentos apoteóticos que mudam o rumo da cultura popular.

“Pantera Negra” faturou uma fortuna nas bilheterias globais. Foi indicado a sete Oscars –inclusive melhor filme, uma façanha inédita e ainda não repetida para um filme da Marvel– e faturou três: melhor trilha sonora, melhor figurino e melhor direção de arte. Também foi o artefato pop de maior alcance até hoje a difundir o conceito do afrofuturismo, uma ideia que está na ordem do dia.

Chadwick Boseman ainda encarnou T’challa/Pantera Negra em mais dois filmes da franquia “Vingadores”, que reúne quase todo o panteão da Marvel: “Guerra Infinita”, em que o personagem morre junto com diversos outros super-heróis, e “Ultimato”, em que ressuscita, assim como quase todos que pereceram no longa anterior.

Boseman também viu seu passe se valorizar. Filmou o mais que pôde nos últimos quatro anos, desde que foi diagnosticado com a doença. Sua mais recente performance disponível no Brasil é “Destacamento Blood” (Netflix), o filme de Spike Lee sobre cinco veteranos da Guerra do Vietnã que voltam ao país asiático em busca de um tesouro enterrado. Boseman aparece apenas em flashbacks, mas são sequências poderosas.

Em breve ele também poderá ser visto em “Ma Rainey’s Black Bottom”, na mesma plataforma, ao lado de Viola Davis. O filme é uma adaptação da peça teatral do mesmo nome de August Wilson, que também escreveu o espetáculo em que foi baseado “Um Limite entre Nós”, o longa de Denzel Washington que rendeu um Oscar de coadjuvante a Davis. Dado o pedigree do material e a comoção em torno da morte de Boseman, não será surpresa se a Academia de Hollywood se lembrar dele na próxima premiação.

Alguns de seus projetos ficaram inacabados. O protagonista do filme “Yasuke”, em que Boseman interpretaria um samurai negro, agora deve ir para outro ator. Ainda não está claro se ele teve tempo de dublar o Pantera Negra na série em animação “What If?...”, que imagina destinos alternativos para os heróis da Marvel, com estreia prevista para 2021 na plataforma Disney +.​

E “Pantera Negra 2”? Ainda em pré-produção, o longa segue programado para entrar em cartaz em 2022. Mas já surgiu nas redes sociais um movimento espontâneo para que o projeto seja cancelado. Alguns internautas acham que seria uma ofensa à memória de Boseman a escalação de outro ator para o papel.

Com todo o respeito pela dor dos fãs, eu discordo. Personagens como Superman, Batman, Homem-Aranha, James Bond e Hulk já foram vividos por inúmeros atores. Além do mais, é cruel privar os meninos negros desta e das futuras gerações de verem na tela seu maior ídolo.

Não faltam talentos para esta missão. Chadwick Boseman fazia parte de uma onda –e não exatamente de uma geração, porque as idades variam muito– de atores negros que vem tomando Hollywood de assalto. Alguns já estavam em “Pantera Negra”, como Michael B. Jordan, Daniel Kaluuya e Sterling K. Brown. Estes não devem ser considerados para o papel, mas há dezenas de outros, famosos ou (ainda) não.

O destino de Chadwick Boseman lembra o de James Dean ou o de Bruce Lee, que também desapareceram precocemente e não deixaram herdeiros óbvios. Mas o impacto do Pantera Negra perderá muito de seu sentido se o personagem morrer com o ator. Que comecem os testes.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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