Tony Goes
Descrição de chapéu

Comédia que faz chorar, 'A Despedida' é pessoal e universal ao mesmo tempo

Um dos filmes mais premiados de 2019 chega agora ao streaming brasileiro

Cena do filme "A Despedida"
Cena do filme "A Despedida" - Divulgação
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Por alguma razão misteriosa, "A Despedida" levou um tempo enorme para chegar ao Brasil. O segundo longa da diretora Lulu Wang foi exibido no festival de Sundance em janeiro de 2019, e estreou nas salas americanas em julho. Tornou-se rapidamente um sucesso no circuito de arte, além de um queridinho da crítica.

"A Despedida" já acumulou 33 prêmios até o momento, inclusive o de melhor filme no Spirit Awards, voltado ao cinema independente, e o Globo de Ouro de melhor atriz em comédia para a protagonista Awkwafina. Agora, finalmente, pode ser visto no país: desde quarta (4), está disponível para aluguel em algumas plataformas de streaming.

Essa demora fica ainda mais estranha quando se sabe que "A Despedida", apesar de quase todo falado em chinês, trata de um assunto que toca fundo nos corações brasileiros: as relações em família. Com algumas alterações cosméticas, sua história poderia muito bem se passar por aqui.

Mas também há algo de profundamente pessoal no filme, que a diretora e roteirista baseou em suas próprias experiências. O ponto de partida é "uma mentira verdadeira", como anuncia um letreiro na abertura: o costume chinês de não contar aos desenganados que eles têm pouco tempo de vida, para lhes poupar sofrimento.

Billi (Awkwafina, que o público brasileiro já viu em comédias como "Podres de Ricos" e "Oito Mulheres e um Segredo") é uma mulher na casa dos 30 anos. Como a própria Lulu Wang, nasceu na China e foi criada nos EUA.

Sua vida profissional está indefinida, assim como a amorosa. Sua mãe (a ótima atriz sino-australiana Diana Lin) a recrimina o tempo todo. Seu único alívio parece ser a avó que ficou na cidade de Changchun, a quem ela chama de Nai Nai (vovó em mandarim). A personagem é vivida por Zhao Shuzhen, uma das grandes damas do teatro na China.

Nai Nai foi diagnosticada com câncer terminal, mas não sabe disso. Sua irmã mais nova, que a acompanhou ao hospital quando foi fazer exames, mente que ela tem “manchas benignas” no pulmão. Seus filhos são alertados: além do que mora nos EUA, há um outro, que se mudou com mulher e filho para o Japão. Todos aderem à mentira. E ainda inventam um casamento em Changchun, para que a família tenha um pretexto para se reunir e se despedir da matriarca.

Mais americana do que chinesa, Billi não se conforma. Por que não contar a verdade para a avó? E este é só um dos muitos choques culturais por que ela passa durante a viagem, desabituada que está com seu país natal.

A China que aparece na tela não é bonita. Changchun, que fica na fria região da Manchúria, parece uma cidade genérica, de arranha-céus retangulares e pardacentos. Já os interiores chamam a atenção pela cafonice: estampas conflitantes, quinquilharias ocidentais fora de contexto, cores descombinadas. A sequência no estúdio de um fotógrafo de noivos é de ferir os olhos.

Mas Lulu Wang filma tudo com enquadramentos elegantes, valorizados pela edição lacônica e pela trilha de inspiração clássica de Alex Weston, que não tem um único elemento chinês. Se o Oscar fosse mais aberto às mulheres e à diversidade étnica, Wang teria concorrido a melhor diretora.

“A Despedida” competiu no Globo de Ouro como comédia, mesmo tendo momentos de apertar a garganta. Embora seja uma produção americana, as regras daquela premiação também lhe permitiram ser indicado a melhor filme em língua estrangeira.

Perdeu nesta última categoria para o sul-coreano “Parasita”, mas há um certo parentesco entre os longas. Ambos (assim como o japonês “Assunto de Família”, vencedor do festival de Cannes de 2018) trazem um olhar oriental e extraordinariamente humano para a universalidade das dinâmicas familiares.

"A Despedida Cotação"

  • Elenco Awkwafina, Zhao Shenzen, Tzi Ma e Diana Lin
  • Direção Lulu Wang
  • Disponível para aluguel Now e Looke

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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