Tony Goes

Reynaldo Gianecchini se assumiu bissexual, e muita gente não entendeu a importância disto

Ator é o primeiro galã da Globo a declarar que já teve romances com homens

O ator Reynaldo Gianecchini
O ator Reynaldo Gianecchini - Divulgação
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A internet acordou em polvorosa na manhã deste domingo (29). O motivo foi uma entrevista que Reynaldo Gianecchini deu ao jornal O Globo, em que, pela primeira vez, assume que não só transou como já teve romances com outros homens.

Não faltaram elogios à atitude corajosa do ator. Mas, como não existe unanimidade, tampouco faltaram críticas. Houve quem reclamasse da ausência de novidades na declaração: “grande coisa, todo mundo já sabia”. De fato, há anos que circulam rumores sobre a sexualidade de Giane.

Também teve quem achasse pouco, porque ele mesmo disse que nunca se sentiu “obrigado a empunhar bandeira da homossexualidade”. Gianecchini tampouco se considera gay: “Querem te encaixar numa gaveta, e eu não consigo, porque a sexualidade é o canal da vida e a minha sexualidade não cabe numa gaveta”. 

Todos esses críticos não perceberam a importância do gesto do ator. Reynaldo Gianecchini é o primeiro galã da Globo a assumir publicamente que já teve experiências homossexuais. Já houve outros atores da emissora que admitiram ser gays.

Marco Nanini se revelou há anos, em uma entrevista à revista “Bravo!”. Luís Fernando Guimarães não faz mais segredo de seu marido. Entre a nova geração, Jesuíta Barbosa, Ícaro Silva e Silvero Pereira falam tranquilamente de suas sexualidades.

Acontece que nenhum deles, talentosos que são, é um “leading man” como Reynaldo Gianecchini. O Régis de “A Dona do Pedaço” costuma ser protagonista de novela, par romântico das mocinhas, o homem que povoa os sonhos das telespectadoras. Não há um precedente no Brasil de alguém com essa estatura profissional e essa persona pública ter, desculpe o clichê, saído do armário.

“Ah, mas ele deveria ter feito isto há muito tempo”. Pode ser. Sua autobiografia “Giane – Vida, Arte e Luta” chega a negar os boatos. Talvez ainda não estivesse na hora.

O próprio Gianecchini diz que não empunha bandeira, mas sua declaração não deixa de ser um gesto político. Ele não defendeu o casamento entre pessoas do mesmo sexo nem a adoção de crianças por casais gays, mas fez algo muito mais subversivo: passou a mensagem de que, sim, é possível ser bissexual e feliz ao mesmo tempo. 

Exatamente o que os políticos e religiosos homofóbicos não querem que seja dito. Para eles, quem não se encaixa no padrão heteronormativo é necessariamente um desequilibrado a caminho do inferno. O recado de Gianecchini é poderoso, especialmente para os jovens que estão morrendo de medo ao se descobrir homo ou bissexuais. Quando eu era adolescente, simplesmente não havia alguém como Giane em quem me espelhar.

Mas por que será que ele resolveu se revelar agora? Talvez porque, aos 46 anos, esteja cansado de tanta fachada. Giane sobreviveu a um câncer gravíssimo, e experiências como esta fazem a pessoa rever suas prioridades. 

Então vamos aplaudi-lo, inclusive por não querer se encaixar em nenhuma gaveta. Cada um que se defina como achar melhor, e ninguém tem nada a ver com isto.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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