Tony Goes

Em vez de fazer barulho, BBB 19 não sai do ponto morto

Frases polêmicas são cortadas da edição noturna e tiram a graça do programa

Brothers fazem brinde na Festa Aqualoucos no dia 26 de janeiro - Globo
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Já é folclórica a discrepância entre o que é visto no pay-per-view do Big Brother Brasil e o que efetivamente vai ao ar à noite pela Globo.

Às vezes, as diferenças são para o bem: a edição consegue construir uma narrativa a partir de cenas aparentemente desconectadas entre si, dando a sensação de que coisas mirabolantes acontecem dentro da "casa mais vigiada do Brasil" (o que nem sempre é verdade).

Mas o contrário tampouco é raro. Atitudes e declarações polêmicas dos participantes não são mostradas para o público da TV aberta, levantando a suspeita de que alguns deles estão sendo protegidos pela produção.

É até compreensível: o espectador brasileiro tem a tendência de eliminar de cara os “vilões” dos realities de confinamento, fazendo com que esses programas rapidamente percam a graça. Saem os malvados, ficam as samambaias fazendo fotossíntese. E a audiência despenca.

Talvez tenha sido esta a intenção de Boninho, ao não expor em rede nacional os preconceitos e besteiras ditos por Paula, Maycon e Diego. Os jogadores soltaram pérolas racistas, homofóbicas e ignorantes ao longo da semana que passou, mas quem só acompanha o “BBB 19” pela TV não viu quase nada delas.

É curioso que eles tenham sido poupados. Afinal, agora está claro que a escalação do elenco deste ano pretendia refletir a polarização do Brasil. Ativistas engajados de um lado, alienados e coxinhas do outro. Vamos trancá-los juntos e esperar as explosões!

Só que essas explosões não vieram, por mais que Tiago Leifert atice os concorrentes. Nas redes sociais, já se comenta que o “BBB 19” é o mais monótono de todos os tempos.

E pode ficar ainda mais, com a saída de Diego na noite desta terça (12). Todas as enquetes apontavam que Alan seria eliminado: caladão e inofensivo, o catarinense não faria muita falta. 

No entanto, mais da metade dos votos foi para o gaúcho, alvo de uma campanha pedindo sua saída, movida por LGBTs na internet. Ou seja: mesmo sem dizer barbaridades na TV, Diego acabou sendo identificado com o lado “mau” da casa.

Por um lado, isto é ótimo. Mostra que boa parte do público não está mais disposta a passar pano nas opiniões de candidatos sem noção, só porque estes são bonitos e simpáticos.

 

Mas outra parte deste mesmo público não pensa desse jeito, pois Paula —a mais sem noção de todos— segue firme como a favorita para o prêmio final.

Em uma época especialmente conturbada do Brasil, temos um BBB em banho-maria. Que até vem trazendo discussões importantes sobre feminismo e discriminação racial, mas falhando em outro quesito importante: diversão. A função primordial do Big Brother é entreter: o que vier a mais é lucro.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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