Tony Goes

Cinco tretas na internet que abalaram o showbiz brasileiro em 2018

Discussões entre famosos levantaram temas importantes

Anitta recebe imprensa em hotel paulistano para lançamento de campanha da Renault x MC Donalds
Anitta recebe imprensa em hotel paulistano para lançamento de campanha da Renault x MC Donalds - Leo Franco/AgNews
 
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São Paulo

O ano de 2018 foi marcado pelas brigas, virtuais ou não. Amizades foram desfeitas, pais romperam com os filhos e as ceias de Natal prometem ser especialmente animadas.

A maioria das discussões foi provocada pela política, mas muitas questões resvalaram para o mundo do entretenimento. Várias delas serviram de assunto para a minha coluna nos últimos 12 meses. Resolvi então, a exemplo dos colegas que estão divulgando suas listas de melhores do ano, escolher cinco tretas envolvendo gente famosa que dividiram a internet brasileira.

“Treta” talvez não seja a palavra exata, porque eu deixei de lado as picuinhas meramente pessoais. Nada do gênero “Lívia Andrade quer processar Sonia Abrão”, que me dão preguiça só de ler a chamada nos sites de fofoca.

Na verdade, as brigas que eu selecionei tratam de temas sérios, com consequências profundas para a cultura nacional e a nossa vida cotidiana. Vamos a elas, mais ou menos em ordem cronológica:

LUÍS LOBIANCO VERSUS ATIVISTAS TRANS

Logo em janeiro, o ator que fez o Clovinho na novela “Segundo Sol” (Globo) foi alvo de protestos de militantes pró-direitos de transexuais por causa da peça “Gisberta”. Lobianco concebeu, produziu e atuou no monólogo que conta a história de uma travesti brasileira morta em Portugal, em 2006.

Mas, segundo os ativistas, Lobianco não poderia interpretar um personagem transgênero, por ele ser cisgênero (se identificar com o sexo com que nasceu) na vida real.

A reclamação é equivocada, pois teatro é fingimento – a arte de ser quem não se é. Mas jogou luz em um problema real: atores trans não conseguem ser e scalados nem mesmo para papéis de trans. Essa discussão, ainda marginal no Brasil, já está pegando fogo em Hollywood.

FABIANA COZZA VERSUS ATIVISTAS NEGROS

A atriz e cantora já estava escalada para encarnar D. Ivone Lara, de quem foi muito próxima, em um musical sobre a sambista. Foi então que militantes do movimento negro acusaram os produtores da peça de colorismo: Fabiana, que tem pai branco e mãe negra, é alguns tons mais clara do que D. Ivone.

Novamente, uma reclamação equivocada, mas um problema verdadeiro: negros de pele mais clara costumam ter mais oportunidades do que os mais escuros, e não só no teatro.

ANITTA VERSUS O MOVIMENTO #ELENÃO

A cantora carioca foi cobrada a se posicionar contra o então candidato Jair Bolsonaro. Militâncias progressistas acusaram a moça de incoerência, por ela ter muitos fãs gays e não se declarar contrária a um político conhecido pelas declarações homofóbicas.

Anitta acabou cedendo depois de muita pressão, mas colegas suas como Ivete Sangalo passaram incólumes pelo tiroteio. E a pergunta continua valendo: um artista tem o direito de permanecer neutro politicamente?

FERNANDA LIMA VERSUS EDUARDO COSTA

Muito já se falou do ataque que o cantor sertanejo fez à apresentadora do programa “Amor & Sexo” (Globo). O caso foi parar na Justiça, e revela claramente a rachadura que separa os brasileiros.

Mais uma vez, uma questão importante serve de pano de fundo: a libertação da mulher e o avanço dos direitos das minorias constituem uma afronta aos chamados “bons costumes”?
 

KÉFERA VERSUS LUBA

Essa é uma treta fresquinha, que começou há uma semana. Os dois são influenciadores digitais com milhões de seguidores, e compartilham de muitas opiniões políticas.

Mas ela disse a um rapaz na plateia do “Encontro com Fátima Bernardes” (Globo) que os homens não têm o direito de opinar sobre o feminismo. Luba então retrucou, em seu canal de vídeos, que todo mundo pode falar sobre o que quiser.

Kéfera respondeu, e a treta ainda está rolando. Também levantou uma discussão interessante: o que é “lugar de fala”, e quando que ele é usado para silenciar um debate?

Muitas outras tretas seguem a todo vapor nas redes sociais, como o bafafá em torno da Lei Rouanet ou os inúmeros casos de abuso sexual envolvendo gente poderosa. Mas, por uma questão de espaço, preciso terminar por aqui.

Não vou desejar um 2019 sem tretas, porque isto seria impossível. Mas que elas continuem levantando temas candentes, que merecem a atenção de todos nós.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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