Tony Goes

Pepê e Neném erraram ao gravar vídeo para Bolsonaro?

As irmãs Pepê e Neném em Feira Cultural LGBT, em 2013
As irmãs Pepê e Neném em Feira Cultural LGBT, em 2013 - Robson Ventura/Folhapress


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Há pouco mais de uma semana, eclodiu uma polêmica nas redes sociais envolvendo dois artistas assumidamente gays. Começou com uma entrevista que Ney Matogrosso deu à Folha, no qual dizia que "gay é o caralho, eu sou um ser humano".

O cantor e compositor pernambucano Johnny Hooker não gostou e postou em seu perfil no Facebook um comentário em que acusava Ney de ser “um artista genial que perdeu o andar que o mundo tomou”. A postagem depois foi apagada, mas Hooker reiterou em diversas entrevistas que critica o que entende ser uma omissão de Ney em relação à luta pelos direitos dos homossexuais.

Esta semana surgiu um caso ainda mais controverso. A dupla Pepê e Neném gravou um vídeo se dirigindo ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC--RJ), conhecido por suas posições machistas e homofóbicas. Nessa semana, o deputado anunciou que escolheu o PEN (Partido Ecológico Nacional) para lançar sua candidatura à Presidência em 2018.

As cantoras, que são lésbicas, não chegaram a manifestar apoio explícito à candidatura de Bolsonaro (que já está com 16% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas) à Presidência. Mas disseram concordar com ele quanto ao repúdio às manifestações públicas de afeto “exageradas” entre casais, tanto homo quanto heterossexuais.

É uma posição aparentemente razoável, compartilhada por muita gente que não pode ser classificada como fascista. O próprio Ney Matogrosso já disse coisa parecida.

Mas, talvez sem perceber, Pepê e Neném acabaram dando munição aos reacionários que dizem não ter nada contra os gays, “contanto que eles não façam nada na frente das crianças”. Isto é homofobia disfarçada, claro: se não há nada de mais em ser gay, então qualquer criança poderia ver um casal homoafetivo se beijando. E quem é que determina o ponto em que este beijo passa a ser “exagerado”?

O fato é que o vídeo das cantoras tem cheiro de armação. Elas poderiam simplesmente ter dado suas opiniões, sem citar Jair Bolsonaro. Mas o fazem desde o começo, como se já estivessem engajadas num diálogo com ele.

Mais suspeito ainda é o fato de o deputado ter soltado, quase que imediatamente, um vídeo onde agradece às duas. Parece uma tentativa dele de aliviar a imagem de intolerante, sem precisar abrir mão de nenhum de seus preconceitos.

Pepê e Neném foram ingênuas, ao colocar sua ignorância política a serviço de um cara que, no fundo, é inimigo delas? Ou será que, como já está se cochichando na internet, rolou algum tipo de compensação financeira?

Ou elas fizeram o vídeo só para voltar à mídia? A dupla não emplaca um sucesso há mais de 15 anos e, nos últimos tempos, só são notícia quando expõem suas vidas pessoais. De qualquer forma, gays conservadores --e que chegam a apoiar políticos que vão contra as bandeiras LGBT-- soam totalmente absurdos, mas são comuns a todas as democracias. Por que no Brasil seria diferente?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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