Tony Goes

Internautas cobram da mídia uma cobertura sóbria da tragédia da Chapecoense

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A cena é conhecida dos telespectadores brasileiros. Uma mulher está aos prantos por ter perdido alguém da família em um desastre. Aí vem um repórter enfiar-lhe um microfone na cara: "Como é que a senhora está se sentindo?".

Costumava-se achar que essa prática, por deselegante que fosse, era justificável porque dava Ibope. Mas isso foi antes do advento da internet.

Pois é, a web não nos trouxe apenas notícias falsas e comentários asquerosos. A reação à queda do avião que matou ao menos 75 pessoas na Colômbia nesta terça (29) e à maneira como ela está sendo coberta pela mídia mostrou que ainda existe decência no mundo virtual.

O site "Catraca Livre", um dos mais populares do Brasil, sentiu na pele. Logo pela manhã, quando a notícia da tragédia ainda estava fresca, publicou uma série de fotos de pessoas que estavam prestes a morrer: vítimas de tiros, quedas, os mais diversos acidentes. A maioria sorrindo alegremente, sem ter ideia do que iria acontecer.

Entre as imagens, lá estavam alguns jogadores da Chapecoense, fazendo selfies a bordo da aeronave que cairia pouco depois.

Uma onda de indignação se ergueu nas redes sociais. A página do "Catraca Livre" no Facebook perdeu milhares de curtidas. O espetáculo "O Musical Mamonas" cancelou uma promoção de ingressos a preços populares que estava fazendo no site (é bom lembrar que os integrantes da banda Mamonas Assassinas morreram em um acidente aéreo, em 1996).

E o "Catraca Livre" se viu obrigado a tirar as fotos macabras do ar, além de postar um canhestro pedido de desculpas.

Na TV aberta, ninguém escapou do sensacionalismo. Fátima Bernardes telefonou ao vivo para familiares dos jogadores da Chapecoense em seu programa na Globo.

Sonia Abrão (sempre ela) fez ainda pior no "A Tarde É Sua" (Rede TV!): entrevistou o vidente Carlinhos, que teria previsto em março que um avião cairia até o final deste ano com um time de futebol a bordo.

Já os participantes do "Fofocando" (SBT) debateram a validade dessa profecia. Todos foram massacrados nas redes sociais.

Agora, quem fez bonito foi o canal Esporte Interativo. Por respeito e decisão editorial, não vamos entrevistar nenhum familiar das vítimas de hoje. Vamos rezar por eles, anunciou o canal em seu perfil no Twitter.

E só recebeu aplausos por isso. Que sirva de exemplo.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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