Tony Goes

A linda abertura da Paraolimpíada levantou questões importantes

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Ufa. Depois de uma Olimpíada plenamente bem-sucedida, com cerimônias de abertura e encerramento que encheram os olhos, acho que estávamos bem mais relaxados nesta quarta (7), quando começou a Paraolimpíada. Já provamos para o mundo que sabemos fazer eventos grandiosos e shows espetaculares. Agora é correr para o abraço.

A festa que ocupou o Maracanã foi divertida, emocionante e até engraçada. Quem foi que teve a ideia de fazer Vinícius, o mascote olímpico, desfilar pelo estádio usando um vestido dourado que lembrou o de Gisele Bündchen? Merece um Oscar.

Essa singela aparição acabou traduzindo um pouco do espírito desses Jogos Paralímpicos. É como se os organizadores assumissem que não contam com os mesmos recursos que os Jogos "normais": "Não temos a maior top model do mundo, mas vamos comemorar assim mesmo".

TOPSHOT - Brazilian swimmer Clodoaldo Silva holds the Paralympic torch to light the Paralympic cauldron during the opening ceremony of the Rio 2016 Paralympic Games at the Maracana stadium in Rio de J
O nadador brasileiro Clodoaldo Silva na abertura dos Jogos Paralímpicos, no Rio - YASUYOSHI CHIBA; AFP

Também merecem prêmios os cariocas e turistas que correram para as bilheterias nos últimos dias, salvando a Paraolimpíada do fiasco comercial (e evitando um rombo ainda maior nas finanças do combalido Estado do Rio de Janeiro). E não foi por caridade: foi para prolongar o delicioso clima de euforia que se instalou na cidade desde o início de agosto.

Por outro lado, nossas emissoras de TV merecem puxões de orelhas. Só dois canais transmitiram ao vivo a cerimônia de abertura: o aberto TV Brasil, que é estatal, e o pago SporTV 2 - sim, o 2, porque o 1 tinha algo mais importante a passar.

Nos próximos dias, o máximo que teremos na TV serão boletins nos telejornais com os resultados das provas. Poucas serão transmitidas ao vivo.  O curioso é que não falta emoção à maioria delas, e o Brasil tem chances de ganhar muito mais medalhas do que na Olimpíada "normal".

Mesmo assim, nunca prestamos tanta atenção no esporte paraolímpico, e isto já é um avanço e tanto. Também começa a mudar a percepção de que seus praticantes são uns coitados. Começamos a vê-los como superatletas, que enfrentam obstáculos ainda mais desafiadores que os demais.

Até o dia 18 de setembro, quando se encerram esses Jogos, os portadores de deficiência ocuparão um espaço inédito na mídia. Vamos conhecê-los melhor, desmistificá-los, sofrer e vibrar com eles. Iremos incluí-los, ainda que por pouco tempo, nas nossas rotinas. E aí a Paraolimpíada terá cumprido seu objetivo maior, que é a inclusão.

Mas ela só será totalmente vitoriosa no dia em que acabar. Quando não houver mais a necessidade de dois eventos separados, sendo que um deles é meio de segunda classe.

Algum dia, atletas e paratletas competirão juntos. Não nas mesmas provas, mas na mesma Olimpíada. São todos esportistas, somos todos humanos.

Falta muito?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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