Tony Goes

Denúncia de Luiza Brunet mostra como mudou a percepção da violência contra as mulheres

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Na madrugada de 23 de outubro de 2008, Luana Piovani comemorava na boate 00, no Rio de Janeiro, a estreia de seu monólogo “Pássaro de Cristal”. Junto com ela estavam seu então namorado, Dado Dolabella, e algumas pessoas da produção do espetáculo.

Há versões discrepantes sobre o que provocou o incidente, mas o fato é que, lá pelas tantas, Dado tentou tirar Luana à força do lugar, agarrando-a pelo braço. A camareira Esmeralda de Souza tentou apartá-los e acabou sendo atingida: caiu no chão e quebrou um braço.

Nas semanas seguintes, o bafafá recebeu farta cobertura da imprensa. Os sites de fofoca deram detalhes da briga, que resultou na separação do casal e em alguns processos na Justiça.

Mas nem de longe aconteceu o que vemos agora, quando Luiza Brunet revelou ter sido agredida por seu ex-companheiro Lírio Parisotto.

As redes sociais (que ainda não eram tão fortes quanto hoje) não tomaram partido de Luana, nem houve nenhum clamor para que Dado fosse rapidamente condenado. O caso levou seis anos para ser enquadrado na Lei Maria da Penha.

Um juiz do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, numa decisão anterior, não aplicou essa lei porque entendeu que a atriz não poderia ser “considerada uma mulher hipossuficiente ou em situação de vulnerabilidade”.

O que mudou de lá para cá? Muita coisa, e para melhor.

É claro que ainda existem os espíritos de porco que culpam as vítimas: a própria Luiza Brunet está sendo acusada (por anônimos, evidentemente) de ter armado uma situação para faturar uma graninha. Ou então, saem-se com a velha desculpa: “Alguma ela fez”.

E se tiver feito mesmo? Isto justifica alguns hematomas no rosto e quatro costelas quebradas? É óbvio que não, e esta percepção está se tornando dominante.

Graças a Deus e à Maria da Penha.

Luiza Brunet tem o mérito de mostrar que não são só as mulheres mais pobres, as “hipossuficientes”, que sofrem com a violência conjugal. Ela teve a coragem de expor a si mesma e mostrar a fragilidade em que vivem quase todas as mulheres do Brasil, não importa a classe social.

Como costuma ocorrer nesses casos, o exemplo de Luiza inspirou outras denúncias.

A atriz Gisele Fraga postou no Instagram uma foto em que aparece com o rosto machucado. Ela não revelou o nome de seu agressor —disse apenas que se trata de um sujeito com quem teve uma união estável  mas já é um avanço e tanto.

As porradas sofridas por Luana, Luiza, Gisele e tantas outras são deploráveis. As atrizes merecem aplausos por aproveitarem a fama e não se calarem. E as manifestações de apoio que vêm recebendo mostram que estão certas.

Parece que finalmente estamos entendendo que a violência contra qualquer mulher é uma violência contra todo mundo.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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