A Globo quer embranquecer Camila Pitanga?
Uma pequena polêmica rolou nas redes sociais nos dias que antecederam a estreia da nova fase de "Velho Chico" (Globo): como que a emissora não percebeu que Camila Pitanga é negra? Afinal, a personagem Tereza —que é interpretada quando adulta pela atriz— coube a duas atrizes brancas nas primeiras fases da novela, Isabella Aguiar e Julia Dalavia. Esta última, inclusive, já havia feito a Helena de "Em Família" na primeira fase da novela, personagem que depois coube a Bruna Marquezine e Julia Lemmertz.
Não demorou muito para surgir uma teoria da conspiração. Um ano atrás, a revista "Vogue" já havia sido acusada de branquear Camila. A atriz apareceu na capa da edição comemorativa dos 50 anos da Globo com a pele mais clara do que na vida real, suscitando a dúvida: erro de Photoshop ou manipulação grosseira? Agora seria a emissora a vilã da história.
A verdade é exatamente o oposto. Foram as atrizes mirins que tiveram suas peles escurecidas, para se aproximarem do tom de Camila. Ambas já estavam escaladas antes, quando o papel de Tereza adulta ainda era de Letícia Sabatella. E a direção de "Velho Chico" não quis perdê-las.
Letícia deixou a novela depois de dois meses de ensaios, alegando problemas na agenda. Essas substituições de última hora não são raras: Murilo Benício, por exemplo, chegou a ser anunciado como Romero, mas quem acabou fazendo o protagonista de "A Regra do Jogo" foi Alexandre Nero.
Essas trocas nunca são simples. A Globo mantém centenas de atores sob contrato, mas são bem poucos aqueles que podem "segurar" uma novela. Some-se a isto a adequação ao personagem, a disponibilidade, a empatia com o autor e o diretor, e eis que brota um belo abacaxi a ser descascado.
Tanto "A Regra do Jogo" quanto "Velho Chico" optaram por soluções semelhantes: chamaram atores que estavam há pouco tempo fora do ar e que, ao menos teoricamente, não deveriam reaparecer tão cedo. A Globo tem procurado dar um descanso na imagem de vários de seus astros. Adriana Esteves, por exemplo, ficou longe da telinha por mais de dois anos depois da Carminha de "Avenida Brasil".
Mas uma emergência por vezes requer uma medida drástica. Sem muitos nomes de peso à mão, a emissora convocou Camila Pitanga, recém-saída do semifiasco que foi “Babilônia". E a solução para torná-la uma Tereza verossímil foi a mais simples possível: maquiagem em suas antecessoras no personagem.
Num mundo ideal, a escalação de um ator seguiria exclusivamente o critério do talento. Seria aquilo que os americanos chamam de "color blind": escolhe-se o melhor ator possível para um papel, sem levar em conta a cor de sua pele. "Ah, mas e o realismo?", perguntarão alguns. OK, mas "Velho Chico" não é uma obra das mais realistas: basta conferir os figurinos, mais apropriados para o começo do século 20 do que para o final.
O fato é que a controvérsia evaporou assim que Camila surgiu como Maria Tereza, no capítulo desta segunda-feira (11). O talento e o carisma da atriz fizeram com que os internautas a aprovassem quase por unanimidade. Seu nome logo entrou para os "trending topics" do Twitter. Caso encerrado. Mas até o final desta semana deve surgir outra polêmica, claro.
Comentários
Ver todos os comentários