Tony Goes

'Velho Chico' estreia com jeito de novela antiga

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Não adiantou muito a beleza das imagens em HD, com nuances e contrastes impossíveis uma década atrás. Nem a “porralouquice” de uma festa tropicalista em Salvador, um universo ainda não explorado pela nossa dramaturgia. Apesar dessas novidades, o primeiro capítulo de “Velho Chico” (Globo) teve um indisfarçável sabor de “déjà vu”.
 
A trama remete a inúmeros outros folhetins da emissora, e não só aos assinados por Benedito Ruy Barbosa. Estamos, mais uma vez, no Nordeste da televisão, onde coronéis e jagunços falam com sotaques genéricos que não são propriamente de lugar algum.
 
Um lugar que não visitávamos faz tempo, é verdade. Mas que está gravado no nosso DNA emocional: “O Bem Amado”, “Gabriela”, “Roque Santeiro”, “Saramandaia”, “Fera Ferida”...
 
E um lugar onde as relações são claras. Rico é rico, pobre é pobre, mau é mau. “Velho Chico” não deu a menor margem para dúvidas. Adeus, ambiguidade de “A Regra do Jogo”: aqui a gente sabe de cara quem é quem.
 
Mesmo assim, ainda há espaço para estranhezas. Se a primeira fase se passa no final dos anos 1960, como anunciava a campanha promocional, o que faz Selma Egrei vestida em figurinos de um século antes? E as roupas dos empregados de sua fazenda, saltadas de telas de Debret? O progresso não chegou ao interior da Bahia?
 
Não, não é falha da direção de arte. Está mais para escolha do diretor Luiz Fernando Carvalho, que não quer se prender ao rigor histórico para criar o clima que deseja. “Velho Chico” se quer épica. E óbvia.
 
Já vimos essa novela muitas vezes: conflito de gerações, luta por terras, amores proibidos... O apuro técnico e o elenco excelente só confirmam que estamos degustando um prato saboroso, porém trivial.
 
Mas isto importa? O objetivo de “Velho Chico” não é inovar, e sim recuperar a liderança inconteste no horário. Abalada por dois semi-fracassos seguidos, a Globo agora precisa de um sucesso arrasa-quarteirão.
 
Pode ser que consiga. O capítulo de estreia deu picos de 36 pontos em São Paulo, uma cifra incrivelmente alta para os tempos que correm. Sem concorrência bíblica e com um público sedento por um novelão à moda antiga, “Velho Chico” nadou de braçada.
 

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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