Tony Goes

Será que existe uma maldição sobre Rafinha Bastos?

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"Eu sou o pai do Rafinha. E preciso dizer umas verdades para vocês. Meu filho fracassou mais uma vez".

Foi assim que Julio Hocsman começou seu surpreendente monólogo na abertura do "Agora É Tarde" (Band) desta terça-feira (24). Com notável segurança e um sotaque absolutamente idêntico ao do filho, o pai de Rafinha Bastos conseguiu dar um tom ironicamente positivo a mais este percalço na carreira do apresentador.

Sim, mais um. Justo agora, quando Rafinha parecia ter encontrado seu lugar na televisão. Comandando um "talk show" que não era nenhum campeão de audiência, mas que vinha conseguindo boas críticas e alguma repercussão (às vezes negativa, é verdade, como na recente entrevista com Alexandre Frota ).

Este é pelo menos o terceiro grande tombo de Rafinha Bastos desde 2011. Até lá, sua carreira ia de vento em popa. Revelado para todo o Brasil na bancada do "CQC" (Band), ele logo se firmou como uma língua ferina e sem papas. Seus shows começaram a lotar, e os processos começaram a surgir —lgo até normal na nossa cultura atual de "mimimi", onde todo mundo se sente ofendido por qualquer coisa.

Mas aí veio a malfadada piada sobre Wanessa e o bebê. Um improviso ao vivo, na verdade um elogio à beleza da cantora, que no entanto saiu de forma canhestra. Na hora passou meio batido, mas no dia seguinte o escândalo foi enorme nas redes sociais. O marido da moça não perdoou. Em meio a ameaças de cortes de patrocínio, Rafinha se desligou da emissora.


Emergiu no ano seguinte no comando da versão brasileira do "Saturday Night Live", transmitido pela RedeTV!. A proposta era boa, mas a falta de recursos do canal e a própria aura de Rafinha, ainda radioativa, contribuíram para que o programa durasse pouco tempo no ar.

Nesse meio tempo, o humorista também produziu uma série autobiográfica para a Fox, "A Vida de Rafinha Bastos". Com bom texto, boa direção e boas interpretações —e que no entanto passou em brancas nuvens.

O retorno à Band teve sabor de volta por cima. Rafinha assumiu o lugar de Danilo Gentili no "Agora É Tarde", o "talk show" de pegada mais jovem que vinha incomodando o "Programa do Jô" (Globo) na audiência.

Tudo parecia estar indo de vento em popa, até que a guilhotina caiu no começo desta semana. A atração foi extinta. Rafinha continua contratado, mas ele mesmo postou na internet uma foto onde aparece entrando na proverbial geladeira.

É admirável o bom humor como ele vem tratando este revés. Chegou a enviar um currículo para os jornalistas que lhe pediram uma entrevista. Um contraste total com a deselegância de Danilo Gentili, que admitiu em seu programa "The Noite" (SBT) que estava "rindo por dentro" com a derrocada do rival. Foi sincero, mas incrivelmente grosseiro.

Uma nova oportunidade não deve demorar a surgir para Rafinha Bastos. Ele é um grande talento —embora seu estilo de humor seja mais apropriado para a TV paga, como eu já defendi em uma coluna aqui no "F5".

Que ele tenha mais sorte da próxima vez. A maldição que parece ter lhe caído sobre a cabeça em 2011 já foi paga, e com juros.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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