Tony Goes

Adeus, "Mulheres Ricas", adeus

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Já estou com saudades. O décimo e último episódio de "Mulheres Ricas" irá ao ar na próxima segunda-feira, dia 5 de março. Se houver uma segunda temporada, só no ano que vem.

O "reality show" exibido pela Band foi um dos melhores programas de humor dos últimos tempos. Nem sempre foi divertido, é verdade: o ritmo caiu muitas vezes, houve um excesso de situações forçadas e sem graça nenhuma, e as próprias participantes tiveram rendimentos bastante desiguais.

Mas era um refresco nas ingratas noites de segunda. Além do mais, porque o programa extrapolou a tela da TV. Ficava ainda mais divertido acompanhá-lo com um olho na Twitter, onde as próprias participantes não se furtavam a comentar ao vivo o que era exibido naquele momento. Melhor farpa da segunda passada: Narcisa tuitou que Val e Brunete são "cover das Branquelas".

Val e Narcisa foram as estrelas incontestáveis do "Mulheres Ricas", que perderá sua identidade se elas não voltarem em 2013. As duas contrastam em quase tudo. A morena Narcisa Tamborindeguy nasceu numa família tradicional, conhece todo mundo da sociedade carioca, diz que está parando de beber e é um fio desencapado de tanta espontaneidade.

Já a (falsa?) loura Val Marchiori vem de uma família humilde, é uma recém-chegada ao mundo da elite paulistana, não larga o copo de champagne e parece calcular cada palavra que diz, mesmo as mais desvairadas.

Tive o prazer de entrevistá-la para a revista "Junior", e ela me pareceu bastante consciente de que interpreta um personagem --na verdade, uma versão exagerada dela mesma. O bordão "hello", o personal-maquiador Duda, as facadinhas pelas costas das "amigas": é tudo planejado para criar praticamente um produto, a milionária divertida.

Mas o futuro de Val depende do desenrolar de seu complicado "divórcio" de Evaldo Ulinski, com quem, aliás, nunca foi casada no papel. Ela corre o sério risco de não ser rica o suficiente para continuar no programa, e, buscando manter o caixa em alta, ameaça posar em breve para a "Playboy".

Não que Narcisa não insista em seus próprios bordões. Ela também investe na imagem de socialite amalucada e divertida, de olhos nos possíveis desdobramentos midiáticos. Já apresenta um programa de rádio, lançou dois livros e substituiu com galhardia Adriane Galisteu no comando do "Muito +" sexta passada. A audiência não foi maior que a habitual, mas a repercussão foi enorme: não duvido que Narcisa emplaque uma atração própria em breve.

Formatos parecidos com o de "Mulheres Ricas" fazem sucesso no mundo inteiro, com peruas muito mais despudoradas que as nossas. No Brasil, com tanta desigualdade, o choque de ver tanta ostentação na tela foi enorme. Nem as verdadeiras ricas gostaram: uma delas disse que o programa deveria mostrar as participantes trabalhando.

Até parece que, ao chegar em casa numa segunda, eu quero ver na TV a rotina de trabalho de quem quer que seja. Claro que não: prefiro assistir a cinco socialites sem noção passeando de barco, comprando joias, e, principalmente, brigando entre si. "Mulheres Ricas", voltem logo --e, quanto mais engraçadas, melhor.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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