Será que o "BBB" é a Dercy do futuro?
Ontem foi possível detectar um certo consenso na internet. Nos blogs, nas redes sociais e até mesmo no "live blogging" do "F5", todo mundo parecia concordar numa coisa: as duas estreias da Globo nesta terça teriam qualidades opostas.
Primeiro, a porcariada do "Big Brother Brasil". Em seguida, uma produção requintada sobre uma figura emblemática do teatro brasileiro: Dercy Gonçalves.
O que se viu na telinha meio que confirmou as expectativas. Apesar de algumas novidades, o "BBB" continua o mesmo. Não vai conquistar um único novo fã; quem odiava o programa vai continuar odiando. O desafio de agora é conservar os fãs antigos.
O primeiro capítulo de "Dercy de Verdade" também não desapontou. Excelente reconstituição de época, atores em estado de graça, ritmo ágil.
Nem o tsunami de palavrões que sai da boca da protagonista ofusca a impressão de que estamos diante de um produto luxuoso, daqueles que só a Globo fazer. E, no entanto, houve um tempo em que Dercy Gonçalves era tão execrada quanto os "brothers" e "sisters" de hoje.
Seus programas de auditório tinham muita audiência nos anos 60, mas eram esnobados pela "intelligentsia" brasileira.
Foi só depois de sumir por muito tempo da TV que Dercy ressurgiu com a aura de grande dama.
Quando morreu, em 2008, era respeitada como um dos nomes mais importantes da cultura nacional (ainda bem).
Na verdade, o estigma de Dercy não se dissipou totalmente. Há anos que Fafy Siqueira luta para montar um espetáculo teatral em homenagem à estrela desbocada, com texto de Maria Adelaidade Amaral (a mesma autora da minissérie e da melhor biografia de Dercy). E por que este projeto não sai do papel? Por falta de patrocínio. Grandes anunciantes não querem se associar a uma personagem tão sem papas na língua.
Isto talvez mude agora, com o sucesso de "Dercy de Verdade". E a interpretação de Fafy chega a ser aflitiva de tão boa.
Heloísa Perissé está ótima como a Dercy jovem, e realmente pareceu incorporar a diva na cena da antológica "primeira cuspida". Mas Fafy Siqueira vai além: a voz, a boca, o gestual, foi difícil acreditar que não era a própria Dercy quem aparecia na tela.
Será que o que se passou com Dercy Gonçalves também acontecerá com o "BBB"? Hoje o "reality show" é considerado lixo em estado puro, mais ou menos como o era Dercy 50 anos atrás.
Mas não duvido que, lá por 2040, o "Big Brother" vire assunto para filmes e minisséries da maior seriedade (isto se ainda houver cinema e TV, é claro). O "trash" de hoje é o "cult" de amanhã. Quem viver, verá.
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