'Morrendo por Sexo' é uma das maiores declarações feministas que vi recentemente
Na série, os homens são todos coadjuvantes e estão a serviço do prazer sexual de uma mulher
Se você apenas lesse o título do seriado da Disney+ "Morrendo por Sexo" antes de começar a assisti-lo, com certeza veria suas expectativas dando cambalhota logo no primeiro episódio. Mas, mesmo que você tivesse lido várias resenhas, ouvido múltiplas recomendações e achasse que sabia exatamente com o que ia se deparar quando apertasse o play, você ainda chegaria ao final profundamente tocada, precisando de um tempinho para processar tudo o que acabou de ver. São muitas camadas.
Resumindo muito, a série de oito episódios é levemente inspirada na vida de Molly Kochan, que, após ser diagnosticada com um câncer sem cura e em estágio terminal em 2015, resolveu deixar o seu marido e fazer uma quantidade gigantesca de sexo até morrer.
Anos depois ela relataria essas experiências num podcast, num blog e em um livro, todos lançados em 2020. A Molly do seriado, por outro lado, tem motivações um pouco mais modestas: ela quer, simplesmente, ter um orgasmo.
É surreal pensar que, em 2025, ainda precisemos comemorar que o prazer feminino seja o tema central de um seriado –que, por sinal, teve uma recepção quase irretocável do público, exceto por algumas críticas às cenas de sexo, consideradas muito longas e desnecessárias.
Será que a motivação desses protestos teria a ver justamente com o fato de que essas cenas representam um ponto de vista feminino? Ainda vivemos numa sociedade que se choca com uma mulher que, prestes a perder tudo, tem a ousadia de focar em sua própria vida, em seu próprio corpo e em seu próprio prazer? Deixemos essas perguntas no ar.
A busca de Molly por um orgasmo passa bem longe do tradicional, refletindo o extremo da situação ao promover uma exploração muito honesta do universo dos fetiches, que envolve algumas modalidades de masturbação e alguns jogos de submissão e dominação.
Nessa história, os homens são todos coadjuvantes e aparecem em maior destaque justamente quando se colocam em posições de maior humilhação, seja tendo seus pintos chutados ou fazendo de conta que são cachorros. Tudo a serviço do prazer sexual de uma mulher. Embora a palavra jamais seja mencionada no seriado, essa é uma das maiores declarações feministas que vi recentemente no audiovisual.
Já a dureza da morte aparece de uma maneira mais agridoce, mesclando leveza e humor com morbidez profunda, o que pode perturbar os mais sensíveis. Há cenas que realmente confundem os sentimentos, acrescentando tiradas mordazes a momentos com um peso emocional sombrio.
Mas o que mais me pegou em "Morrendo por Sexo" não foi nem a parte da morte e nem a parte do sexo, e sim a inesperada e maravilhosa parte sobre relações femininas. Todas as mulheres da série são muito bem escritas e desenvolvidas, desde a amiga Nikki, cúmplice e parceira de vida na empreitada, passando pela mãe com quem Molly tem uma relação difícil, a assistente social que a acompanha em seus últimos dias e até a enfermeira que lhe prepara para o ato final.
Nada nem perto do perfeito, mas tudo muito humano, muito forte e muito lindo. Precioso e revolucionário. Assistam.
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