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Thiago Stivaletti
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Pamela Anderson e o corpo descartável da mulher

Filme 'A Última Showgirl' é um retrato doloroso da invisibilidade de uma dançarina de 57 anos

Uma mulher sorridente está em uma apresentação, usando um traje brilhante e elaborado, adornado com joias e penas. O fundo é escuro, com luzes que destacam a figura dela, criando um ambiente de espetáculo.
Pamela Anderson em cena do filme 'A Última Showgirl' - Divulgação
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Nos anos 90, a Globo exibia a série "S.O.S. Malibu", que trazia na abertura Pamela Anderson, uma loira escultural com seios de silicone, correndo na praia em câmera lenta para alimentar a fantasia de homens de todas as idades.

Onde foi parar Pamela? Aos 56 anos, a TV e o cinema já não lhe davam o mesmo destaque. Em "A Última Showgirl", que acaba de estrear nas plataformas digitais, ela voltou para nos lembrar que o capitalismo não perdoa o envelhecimento, sobretudo o da mulher.

O filme é dirigido por Gia Coppola, 38 anos. Gia é a mais nova do clã Coppola a entrar no cinema, neta do grande Francis Ford, sobrinha de Roman e Sofia e prima de Nicolas Cage.

"A Última Showgirl" está longe de ser um filme inesquecível, mas traz um olhar carinhoso sobre a decadência de uma showgirl de Las Vegas. Shelly, 57 anos, trabalhou por quase três décadas em como dançarina do Razzle Dazzle, um desses espetáculos de teatro de revista cujo maior objetivo é exibir o nu feminino para uma plateia de homens.

Depois de todo esse tempo, o Razzle Dazzle vai encerrar suas atividades para dar lugar a um circo modernoso. Afinal, é difícil vender ingressos para um show levemente erótico tendo o XVideos e o OnlyFans como concorrentes.

Como uma das mais velhas da trupe, é difícil para Shelly ver algum futuro. Os testes de seleção a reprovam porque, como diz uma de suas colegas, "parece que eles estão atrás de meninas que completaram 18 anos ontem". Para tentar um lugar ao sol, só há uma saída: mentir a idade.

O pior: por conta da carreira, Shelly abriu mão da filha, hoje uma jovem adulta, que foi criada por uma amiga e estuda no Arizona. A filha não aprova a escolha de vida da mãe; valeu a pena trocar a maternidade por um espetáculo tão cafona? Dificilmente a moça faria a mesma pergunta ao pai.

Nas entrelinhas, o filme também da conta de como a cultura mudou nos últimos 20 anos por conta da internet. Shelly trabalha fazendo danças leves e pitorescas para turistas. No fim das contas, são dancinhas quase tão inofensivas quanto as que povoam o TikTok. Quem ainda se interessa? Shelly é vista com pena e complacência pelas pessoas à sua volta.

Anderson está longe de ser uma atriz refinada, mas isso não importa. O que está ali é a sua "persona", a figura da mulher que incendiou a libido de tantos homens ao redor do mundo, e que segue com um corpo belíssimo. Mas, pecado mortal para o nosso mundo podre, não é mais jovem.

Seu trabalho em "A Última Showgirl" é uma denúncia do que o mundo faz com as mulheres depois dos 50. Foi por esse motivo que ela ganhou indicações no último Globo de Ouro, onde perdeu para Fernanda Torres, e no prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood. O Oscar não lembrou dela.

Há dois anos, Pamela viralizou quase sem querer por um gesto que acabou de tornando um ato de resistência. Em 2023, ela apareceu na Semana de Moda de Paris sem nenhuma maquiagem. Sua atitude viralizou tanto nas redes que ela decidiu continuar a aparecer nos eventos de cara limpa. Despertou a admiração de mulheres no mundo inteiro.

Ah, "A Última Showgirl" ainda traz Jamie Lee Curtis, vencedora do Oscar por "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", como uma garçonete de cassino amiga de Shelly passando por uma crise existencial parecida. É dela algumas das melhores sequências do filme.

"A Última Showgirl"
Disponível para aluguel nas plataformas digitais; preço médio: R$ 15

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow)

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