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Thiago Stivaletti

Todo mundo ainda tem problemas sexuais?

Dois filmes recém-lançados, uma comédia carioca e um longa erótico de Minas, encenam relações pouco saudáveis com as fantasias do sexo

Cena do filme 'Todo Mundo Ainda tem Problemas Sexuais'
Cena do filme 'Todo Mundo Ainda tem Problemas Sexuais' - Sabrina Pivato da Paz/Divulgação
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São Paulo

De vez em quando (bem de vez em quando mesmo), o sexo aparece como tema principal dos filmes brasileiros. Na última quinta, por coincidência, dois projetos de natureza oposta estrearam nos cinemas: a comédia carioca "Todo Mundo (Ainda) Tem Problemas Sexuais", sequência de um filme (e uma peça) de Domingos Oliveira; e "Parque de Diversões", ensaio erótico sobre um parque que à noite serve como local de pegação gay em Belo Horizonte (MG).

Primeiro longa de Renata Paschoal, "Todo Mundo..." estreia em 2025, mas não faria muita diferença se tivesse sido rodado dez, 20 ou 30 anos atrás. São quatro histórias curtas sobre as velhas angústias do homem burguês de classe média: a vontade de abrir o relacionamento, desde que se mantenha no controle; a curiosidade do sexo anal com a namorada; o pesadelo da impotência (a popular brochada); e o mais ameaçador de todos: ter que lidar com o desejo da mulher de transar com outros caras.

Não espere nenhum Nelson Rodrigues. Nada vai muito longe e, com exceção de uma das histórias, tudo se resolve da forma mais pacífica possível, com a conciliação do casal tradicional. Como suas antecessoras, de "Qualquer Gato Vira-Lata..." a "Se eu Fosse Você", a nova comédia tem uma certa embalagem de ousadia ou "picância", mas é toda calculada para não deixar ninguém desconfortável.

A perversão mais "arriscada" da cartela de "Todo Mundo..." é o tal sexo anal, que por sinal é servido em fartas doses em "Parque de Diversões". Ao contrário de seu irmão carioca, o longa do mineiro Ricardo Alves Jr. pode chocar o público mais desavisado.

Tem uma belíssima fotografia e um ótimo trabalho de som, em que os ruídos do sexo às vezes chegam antes da imagem em si, de homens nas sombras se dedicando a realizar suas fantasias –que também podem ser de natureza mais voyeurista, de apenas assistir aos outros em ação.

"Parque de Diversões" não tem personagens. São apenas corpos anônimos, sem identidade, se entregando ao sexo na pura casualidade do encontro. A ponto de fazer a gente se perguntar: será que, para realizar plenamente nossas fantasias sexuais, a solução é não saber nem o nome do parceiro? Transar às escuras? Se o namoro, casamento ou qualquer outra relação entra em jogo, como em "Todo Mundo...", as neuroses são tantas que tornam inviável qualquer prazer mais profundo?

Entre uma comédia quadrada e um filme gay mais ousado, a impressão é a de que nenhum dos dois filmes consegue sair da superfície quando o assunto é o sexo ou as relações afetivas eventualmente envolvidas.

E isso porque mal vemos a presença de um terceiro elemento importantíssimo a mediar os encontros de hoje em dia: os apps de paquera, que colocam todo mundo num cardápio virtual esquisitíssimo.

É... todo mundo ainda tem problemas sexuais, e nada indica que estamos evoluindo nesse terreno.

"Todo Mundo Ainda tem Problemas Sexuais"
De Renata Paschoal. Com Dudu Azevedo, Sophia Abrahão, Letícia Lima
Nos cinemas

"Parque de Diversões"
De Ricardo Alves Jr. Com Aisha Brunno, Bramma Bremmer, David Maurity
Nos cinemas

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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