Thiago Stivaletti

Final de 'Verdades Secretas': Carolina se mata ou mata um deles?

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TV é mesmo uma caixinha de surpresas. Faltam três meses pro ano acabar, mas difícil alguém tirar o posto de melhor novela do ano de (quem diria?) "Verdades Secretas".

Direção impecável, uma história que prendeu mesmo naquela montanha-russa ingrata de horários que a Globo propõe para a novela das 23h —que, além de tudo, nunca passa às quartas.

O que foi a cena final desta quinta (24)? Aquele plano-sequência maravilhoso, Carolina (Drica Moraes) entrando em casa, tirando os sapatos para não fazer barulho, entrando no quarto mas sem coragem de ver marido e filha na cama, voltando, pegando a arma e dando aquele texto de uns três longos minutos, apontando a arma para os dois e chorando de desespero. E um tiro. Quem morreu?

Meu palpite é que Carolina se mata. Mas seria lindo se ela matasse Alex (Rodrigo Lombardi). Ou os dois. Não sou especialista em direito, mas tenho certeza que qualquer advogado meia-boca salvaria Carolina da cadeia, alegando privação momentânea dos sentidos.

E olha que curioso: pelo maravilhoso Estatuto da Família aprovado ontem por nossos queridos deputados, a família de Carolina, Alex e Angel é um exemplo de família digno de todos os direitos. Mas o casal Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathália Timberg), de Babilônia, com o filho Rafael (Chay Suede) não. Super coerente.

Alguns outros fatos que gostaria de lembrar:

A MELHOR ATRIZ

Se houvesse um Oscar só para "Verdades Secretas", Grazi Massafera levaria o prêmio de atriz coadjuvante —como a moça amadureceu rápido como atriz! Mas não dá para esquecer: a rainha mesmo é Drica Moraes. Oscar de melhor atriz principal mesmo. Quem diria que ela iria voltar tão rápido depois da labirintite que a faz abandonar a vilã Cora de "Império" no final do ano passado?

E não custa lembrar que o papel de Carolina foi escrito para Deborah Secco, que saiu porque engravidou. Alguma dúvida de que Drica detonou muito mais do que a outra faria em seu lugar?


A DIREÇÃO

A Globo se apressou em bombar a Amora Mautner como a diretora vanguardista de "A Regra do Jogo". Amora deu mil entrevistas falando do seu método revolucionário de direção, que deixa todo o espaço para o improviso do ator, as câmeras escondidas etc etc. Mas o fato é que "Avenida Brasil" tinha uma direção bem mais original —e Carminha (Adriana Esteves), Tufão (Murilo Benício) e família tinham muito espaço para falar como queriam.

Enquanto isso, Mauro Mendonça Filho dirigiu "Verdades Secretas" quieto no seu canto e só foi dar entrevistas agora, no final da novela. Sua direção é clássica, contida, cheia de sombras e silêncios. Até as situações que tinham o risco de escorregar no cafona apareciam empacotadas em tensão e elegância. Mauro fez quase todos os atores brilharem —até os mais novos, como Agatha Moreira (Giovana) e João Vitor Silva (Bruno).

YES, NÓS TEMOS MORALISMO

O próprio Mauro admitiu em entrevista que, para fazer a novela pegar, era preciso jogar com o moralismo do espectador. Mostrar as coisas que atraem por serem proibidas, mas censurando tudo de leve. O brasileiro é moralista, talvez o ser humano de um modo geral. Não vai demorar muito para essa prática chegar à novela das 21h, apanhando do pseudo-cristianismo das novelas da Record.

DANÇA DAS CADEIRAS

Mudando de assunto, fiquei bem chocado com a mudança no cronograma das próximas novelas das 21h. Já estava ansioso pela estreia de Maria Adelaide Amaral ("Ti-Ti-Ti", "Os Maias") no horário nobre. Mas parece que a novela tem um contexto político fortíssimo, e teria que baixar muito a bola na época das eleições.

Mas há outro fator evidente: depois de "Babilônia" e "A Regra do Jogo", a Globo precisa de uma novela um pouco mais fofinha para conquistar de volta uma parte do público que perdeu pra Record. "Velho Chico", de Benedito Ruy Barbosa, é uma novela rural como há anos a emissora desistiu de fazer.

Lauro César Muniz, trazido de volta da Record, pode ser uma escolha ousada depois do bom texto de "Poder Paralelo" e "Cidadão Brasileiro" na concorrente. Só não me tragam a Glória Perez de volta, pelo amooor de Deus, que eu fecho esta coluna, vou lá me deprimir por sete meses e depois volto.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista, crítico de cinema e noveleiro alucinado. Trabalhou no "TV Folha", o extinto caderno de TV da Folha, e na página de Televisão do UOL. Viciou-se em novela aos sete anos de idade, quando sua mãe professora ia trabalhar à noite e o deixava na frente da TV assistindo a uma das melhores novelas de todos os tempos, "Roque Santeiro". Desde então, não parou mais. Mesmo quando não acompanha diariamente uma novela, sabe por osmose todo o elenco e tudo o que está se passando.

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