Thiago Stivaletti

Em 'Babilônia', família de Marcos Palmeira ajudaria a eleger Feliciano e boicotaria a novela

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Pois é, 2015 já provou que não vai ser fácil pra ninguém. Não foi só o governo que entrou num severo ajuste fiscal. "Babilônia" (Globo) também entrou.

Personagens e tratamentos mais ousados, do ponto de vista ético ou sexual, terão suas metas revistas para baixo. A novela vai de mal a pior em audiência —24 pontos, para a Globo e seus anunciantes, é pouco.

A coisa já se anunciou nos últimos capítulos. As chamadas destacam "uma semana de grandes surpresas, com muitas paixões", como se esta fosse uma novela de Manoel Carlos no Leblon. As batidas histórias de amor, que não carregaram as melhores novelas recentes ("Lado a Lado", "Avenida Brasil") terão que assumir o comando em "Babilônia" com a missão de atrair de volta um público conservador que debandou.

Alice (Sophie Charlotte) não vai mais nem tentar trabalhar como garota de programa sob o comando de Murilo (Bruno Gagliasso). Desde o começo, Alice foi apresentada como carente, cabeça fraca —e já mostrou não ter a mínima disposição para arrumar um emprego "sério". Os autores terão que rebolar para encontrar uma alternativa para ela - que seja igualmente interessante e renda mais seis meses de novela.


NATURA NO FOGO CRUZADO

Outros ajustes graves estão a caminho. Beatriz (Glória Pires) terá que parar de devorar homens. Nem quando isso é mostrado de forma leve e bem humorada, e nem considerando que ela é a VILÃ da história —o que deveria servir de boa justificativa pro público mais conservador—, os espectadores ouvidos pela Globo em suas pesquisas parecem aprovar.

O mais grave é que figuras da bancada evangélica como o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) propõem um boicote aberto aos produtos da patrocinadora da novela, a Natura. Tratando seus eleitores-seguidores como gado, sugere/ordena que certos produtos não sejam comprados para quebrar as pernas de uma novela atingindo seu patrocinador. Uma ameaça, pura e simples, orquestrada dentro de uma democracia, por alguém eleito por ela. Coisa de Quinto Mundo. Ainda bem que a Natura respondeu à altura. Vou correndo comprar um sabonete líquido ou um esfoliante para tentar ajudar a manter "Babilônia" como está.

Por isso, a melhor coisa de novela nas próximas semanas será acompanhar a família do prefeito Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira). É uma família ultrarreligiosa, de valores rígidos e conservadores. Em jantar para conhecer a família da namorada, Rafael (Chay Suede), declara não acreditar em Deus, mas respeitar todas as crenças. Aderbal se enfurece por ele não ter religião e o expulsa de casa. Mais tarde, a mãe de Aderbal, Consuelo (Arlete Salles), teme que, com a neta, "o estrago já esteja feito". A família de Aderbal elege o pastor Feliciano, vê "Os Dez Mandamentos" (Record) e certamente ajudaria a boicotar a própria novela que os faz existir.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista, crítico de cinema e noveleiro alucinado. Trabalhou no "TV Folha", o extinto caderno de TV da Folha, e na página de Televisão do UOL. Viciou-se em novela aos sete anos de idade, quando sua mãe professora ia trabalhar à noite e o deixava na frente da TV assistindo a uma das melhores novelas de todos os tempos, "Roque Santeiro". Desde então, não parou mais. Mesmo quando não acompanha diariamente uma novela, sabe por osmose todo o elenco e tudo o que está se passando.

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