Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Rosana Hermann
Descrição de chapéu Todas

A cultura do ódio chega à TV

Em diversos âmbitos, basta qualquer antagonismo para que os envolvidos partam para a violência

Um homem em um terno escuro e gravata, com cabelo curto e barba bem aparada, está em pé em um estúdio de televisão. Ele gesticula com a mão direita enquanto fala. Ao fundo, há um grande painel com a palavra 'BRASIL URGENTE' em letras grandes e brancas, com um design gráfico moderno e elementos visuais que sugerem um ambiente urbano.
Repórter e apresentador da Band Lucas Martins foi acusado de agredir colega da Record - lucasmartinsreporter
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Há anos, falamos sobre a cultura do ódio das redes sociais. De como o meio digital virou um lugar inóspito, onde os algoritmos privilegiam o engajamento gerado por brigas e transforma pessoas polêmicas em sucesso.

Mas as pessoas que usam as redes, os chamados internautas, não formam uma tribo especial, não se trata de um bando específico. Somos nós todos, os espectadores e produtores de conteúdo. Agora vemos que esse clima constante de intrigas, disputas e até agressividade está escancarado também nas emissoras de TV.

E temos dois exemplos lamentáveis desse fenômeno: o repórter da Band que empurrou a colega da Record de forma totalmente agressiva e desnecessária e a saída de Cacau Protásio do Vai que Cola por desavenças com a colega de elenco Samantha Schmütz.

No caso da agressão do jornalista Lucas Martins contra a repórter Grace Abdou, houve também um viés de gênero. Além de pegar o braço de Grace e tirá-la de cena, ele ainda a chamou de "louca", um dos xingamentos mais típicos do vocabulário machista. Como tudo aconteceu ao vivo, Lucas viu-se obrigado a se posicionar. Pediu desculpas, reconheceu que não havia justificativa ou explicação para sua atitude.

Mesmo assim, Grace fez um boletim de ocorrência contra Lucas, o que é o correto a se fazer. A disputa era pela pauta, pela entrevistada. Esse tipo de desespero para ter uma reportagem exclusiva, para dar um furo, para chegar primeiro, existe mesmo nessa atividade. Um horror.

No caso do elenco do Vai que Cola, certamente há um componente de ego e vaidade. Sou testemunha de que na primeira temporada, quando todos estavam iniciando a série que se transformou num imenso sucesso, o clima era de pura amizade, como cabe a um bom elenco de atores e atrizes. Acho que conta também a personalidade de Samantha que parece colecionar brigas das mais variadas.

Na visão dela, ela é a "amiga corajosa que fala verdades na cara". Na visão de muitos, é a encrenqueira que cria climão em todo lugar. Esses dois casos, no entanto, são apenas exemplos de uma conjuntura muito maior. Estamos todos marinados num ambiente de disputa, desinteligências e desentendimentos.

Leo Dias e o SBT precisaram emitir notas para acalmar os boatos de que a emissora e o jornalista estariam rompidos. No âmbito familiar, a ex-atriz Suzy Camacho foi indiciada por desvio de R$ 42 milhões da fortuna de seu ex-marido, a partir de uma denúncia dos filhos dele. O sertanejo Murilo Huff, que travava uma batalha pela guarda do filho contra sua ex-sogra, Ruth Moreira, conseguiu a guarda do herdeiro com Marília Mendonça.

A avó da criança considerou a medida como cruel. É sabido que notícia ruim vende mais, chama mais atenção e que o meio artístico sempre foi recheado de intrigas. Mas a cultura do ódio é real. E está em todas as editorias. Na política, nos esportes, no entretenimento. Ninguém quer dialogar, negociar, chegar a um acordo. Basta qualquer antagonismo para que os envolvidos partam para a agressão ou para a violência.

Os casos que envolvem crimes, como o adolescente que matou o pai, a mãe e o irmão pequeno, deixam o Brasil em choque. Sem contar que sua namorada, também menor de idade, estava envolvida no crime. O mais preocupante é que os estudiosos de comportamento estão certos. O ódio engaja mesmo e dá lucro para as plataformas e veículos de comunicação.

Ficamos presos nas histórias intensas. Quanto mais horrível o caso, quanto mais perniciosa a fofoca, maior a audiência. Prova disso é que o quadro de fofoca A Hora da Venenosa mantém sua audiência em alta, constantemente vencendo todos os concorrentes. É a era da cultura do ódio, aquela que junta, não a fome com a vontade de comer, mas a maldade com o desejo de maldizer.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem