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Rosana Hermann
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Leo Dias e o pedágio da fama

Não temos o direito de agredir famosos e anônimos por não concordarmos com as escolhas deles

A imagem apresenta três pessoas em um formato de colagem. À esquerda, uma mulher com cabelo longo e liso, usando um vestido e um colar brilhante, sorrindo. No centro, um homem com cabelo curto e uma camisa xadrez, também sorrindo. À direita, uma mulher com cabelo longo e ondulado, sorrindo e usando uma blusa clara. O fundo é neutro e desfocado.
A atriz Bruna Marquezine (à esquerda), o colunista Leo Dias e a influenciadora Viih Tube - AFP/Divulgação/Globo
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Dez anos atrás, a bio de Leo Dias em sua conta no antigo Twitter tinha a seguinte frase: "A fama tem seu preço. Estou aqui para cobrar". Na minha cabeça, eu imaginava uma longa estrada do sucesso, por onde as celebridades passavam em alta velocidade, com óculos de sol e cabelos ao vento em seus carros conversíveis, tendo que parar no pedágio da fama e pagar uma taxa para Leo, fechado na pequena cabine o dia inteiro.

Após uma década, muita coisa mudou. Hoje a maioria dos pedágios tem tags eletrônicos, e Leo nem usa mais essa frase em sua bio. Ao contrário, ele ficou tão conhecido que viaja o tempo todo pelas estradas do sucesso.

Mas a ideia de que a fama tem um preço continua viva. E, se Leo desistiu do cargo, milhões de pessoas em suas redes sociais assumiram as cabines de pedágio. E toda vez que um famoso ultrapassa os limites imaginados, as pessoas se sentem no direito de multar as celebridades e fazer as cobranças em forma de comentários agressivos.

Viih Tube passou pelo pedágio da forma física várias vezes. Foi cobrada pelas mudanças de seu corpo depois da gravidez, resolveu fazer um "combo" de intervenções cirúrgicas modeladoras e foi cobrada por ter feito plásticas demais.

Comprou roupas caras para seu novo corpo e, novamente, foi parada e multada pela polícia do consumo. E, ao se sentir acuada com as críticas na cabine de pedágio, mostrou o cartão de mãe sofrida e foi liberada. E isso é só um exemplo. Mães são muito cobradas nos pedágios imaginários das mentes humanas.

E tem o caso clássico de Bruna Marquezine, a atriz que o público acompanha desde criança e que parece estar sempre em débito com os cobradores oficiais da fama alheia. Dessa vez, foi um look que Bruna Marquezine usou para ir a uma festa, uma roupa estilo "funk de butique". Na cartilha dos cobradores, Bruna precisa se comportar como a mulher classuda que é.

E, como teria ultrapassado esse limite ao usar uma saia muito curta e uma blusa que deixava seus mamilos visíveis, recebeu multas da polícia dos costumes, que sabe exatamente qual o grau de transparência que pode ou não pode; a centimetragem admitida do tamanho da saia; a porcentagem de corpo que pode ficar à mostra. É ridículo ter que dizer isso, mas precisamos lembrar que Bruna não é uma boneca que você veste como quer. Não é um brinquedo.

Ela é uma mulher e vive sua vida como ela quiser. Como ela escolher. Dentro dos limites possíveis, temos liberdade de fazer nossas próprias escolhas, mas não temos o direito de agredir famosos e anônimos porque não concordamos com as escolhas que eles fizeram. Ou porque temos inveja da fama que os outros têm.

Quem sonha com a fama, quem queria estar no lugar de Bruna, que vá atrás de seu objetivo. Que, metaforicamente, consiga uma forma de viajar pela estrada da fama. Mesmo que seja em um veículo simples. Mesmo que demore.

O importante é ir aonde se queira, ainda que devagar. Triste mesmo é, tendo a liberdade de estar no caminho para a felicidade, escolher ficar a vida toda trancada na cabine do pedágio cobrando taxa pela felicidade dos outros.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo

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