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Rosana Hermann
Descrição de chapéu Todas

Baby do Brasil deveria seguir o conselho de Davi Brito

Agora que todos têm voz na internet, está na hora de descobrir a importância de se calar

Uma mulher com cabelo azul e chapéu preto está cantando em um microfone. Ela usa um vestido escuro e acessórios, e parece estar se apresentando em um ambiente com luzes refletidas. Ao fundo, há uma multidão assistindo ao show.
Cantora e pastora Baby do Brasil faz pregação na D-Edge, em São Paulo - Karime Xavier/Folhapress
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São Paulo

"Todo mundo mente". Essa é uma das frases mais marcantes da série "Dr. House", da primeira década dos anos 2000. Na cena, o personagem explica aos seus discípulos que mentir é parte da condição humana.

Se mentir é uma realidade entre as pessoas comuns, é ainda mais verdadeiro no mundo das celebridades, onde a regra básica é "sustentar uma imagem pública de sucesso, perfeição e virtude", meta praticamente impossível, já que nas redes sociais todos se expõem.

Um dos casos mais escabrosos de mentira pública da história da TV é o de Maria Verônica Aparecida Santos, a "grávida de Taubaté", que simulou uma gravidez de quadrigêmeos usando uma prótese sob vestidos estampados.

A farsa fez tanto sucesso, rendeu tanta audiência para a emissora e tantas doações de pessoas de boa-fé que foram enganadas que Verônica chegou a pagar R$ 4.000 por um laudo falso a uma empresa que faz ultrassom.

O caso comoveu o Brasil até que Verônica foi desmascarada, processada por estelionato e virou chacota, meme e lenda da internet. Em fevereiro, depois de 13 anos, a "grávida" deu uma entrevista a Celso Portiolli e culpou o demônio.

Um exemplo de proporção bem menor, mas ainda no âmbito da mentira, é o do vencedor do Big Brother Brasil 24, Davi Brito, que admitiu que errou ao dizer que "triplicou seu prêmio" num programa de televisão, o que não seria verdade. Imediatamente termos como "mentiu", "pego na mentira" ou "flagrado" se espalharam pelas manchetes nas editorias de celebridades.

Durante um podcast, Davi voltou atrás e disse que não sabe quanto o dinheiro rendeu, que nunca se preocupou com isso. Minha indignação gritou um pouco aqui. Difícil aceitar que uma pessoa não saiba quanto tem na conta. Basta abrir qualquer aplicativo de banco e ver o saldo total.

De qualquer forma, ele admitiu seu erro e chegou a uma importante conclusão: a de que "deve falar menos sobre sua vida". "Eu errei em ter falado, tá ligado? Acho que, para a gente prosperar na vida, é preciso calar a boca. Quando a gente fala demais, a gente só cai em perturbação", disse Davi.

Grande verdade. Tenho tentado seguir essa regra e acredito que seria um conselho maravilhoso também para Baby do Brasil.

Baby, que tem um talento musical absurdo, tem usado sua voz para prestar um grande desserviço às mulheres, como aconteceu num evento de pregação religiosa na D-Edge, casa de shows de São Paulo.

Durante sua pregação nesse culto-balada, Baby pediu que as mulheres que sofreram abusos sexuais "perdoem seus agressores". E mais: disse que as vítimas deveriam oferecer esse perdão "sobretudo se o abusador for alguém da própria família".

A reação foi imediata. Nas redes sociais, na mídia em geral, houve muitas manifestações contra esse pedido de Baby. Estupro é crime, qualquer tipo de assédio, de abuso, seja ele perpetrado por quem for, deve ser denunciado. O Brasil sofre uma epidemia de feminicídios, de todo tipo de violência contra a mulher e uma mensagem como essa, dita por uma pessoa famosa, chega a ser perigosa. Mesmo que Baby tenha tentado expressar apenas a ideia de "paz interior", antes de "perdoar", o crime tem que ser relatado, investigado e o agressor, punido.

A deputada federal Sâmia Bomfim, do PSOL de São Paulo, considerou a fala de Baby como ‘criminosa’ e acionou o Ministério Público de São Paulo para investigar o ocorrido nesse culto.

É verdade que todo mundo mente, todo mundo se engana, todo mundo erra. Mas é também verdade que o ser humano pode aprender e evoluir. Agora que somos 6 bilhões de pessoas que aprenderam a ter voz na internet, está na hora de descobrir a importância de se calar.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo

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