Renato Kramer

A ilha da fantasia

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Ontem, assistindo ao Amaury Jr Show,tive a sensação de estar assistindo a um episódio da antiga série de televisão americana "A Ilha da Fantasia" (Fantasy Island). O jornalista Amaury Jr. toma as vezes do anfitrião, o "Senhor Roarke" (Ricardo Montalbán), e recebe os seus convidados sempre muito prósperos, muito alegres - todos muito de bem com a vida.

Nada contra, pelo contrário! Fiquei pensando, com a noção exata da utopia da coisa, no quanto seria bom se a grande maioria pudesse desfrutar de tal situação. Quem não gosta da idéia de viver bem? Ou até mesmo 'muito bem'?!

E no programa de Amaury Jr. todos parecem sempre estar muito bem, obrigado. Até o 'merchandising' é colocado em meio ao desenrolar das atrações de uma forma que parece fazer parte da seqüência dos quadros. Clips vistosos de lugares paradisíacos enfeitiçam o telespectador. Todos os momentos são editados e devidamente sonorizados para que se tenha a sensação de "como seria bom poder estar lá". E dá exatamente essa sensação.

Quando volta para o estúdio, o apresentador está cercado pela talentosa jornalista Maria Cândida e pela elegante ex-modelo gaúcha Laura Wie --que o ajudam nas entrevistas.

No programa desse sábado, o entrevistado foi o repórter do CQC (Band), Rafael Cortez.

Ele contou de sua paixão pela música. Andou lançando um CD solo de violão, "Elegia da Alma". Contou , de forma bastante simpática e informal, o quanto é complicado fazer com que o público que o admira pelo humor aceite o seu trabalho musical cujo estilo 'sério'não é muito esperado da parte dele.

Confessou estar muito "paz e amor" em suas reportagens atualmente. Graças a uma situação extremamente desagradável que passou com um dos seus maiores ídolos, a cantora Maria Bethânia. Em certa ocasião, teve a oportunidade de entrevistá-la para o CQC, só porque era sabidamente um grande fã da cantora. Ao perguntar-lhe porque ela não teria deixado uma fã sua, que subira ao palco furtivamente, beijar-lhe os pés, a cantora respondeu-lhe que simplesmente achava que só se deve beijar os pés de uma santa, o que não era o seu caso.

"Não é por causa de problemas com as unhas ou porque você tem chulé?", deixou escapar o repórter. "Você me respeite", respondeu secamente Maria Bethânia, afastando-se. Rafael Cortez confessou que ficou completamente sem ação e arrependido. Já havia pedido perdão para Bethânia. Reiterou o pedido ontem à noite. Parabéns à Maria Bethânia, que impôs respeito. Parabéns ao Rafael Cortez, que percebeu a 'pisada de bola' e soube pedir perdão.

Flashes de viagens do apresentador permeiam o programa. De repente, Amaury Jr. aparece no México aprendendo a degustar uma boa tequila. O lugar, especializado na bebida, tinha nada menos do que 375 tipos de tequila --podendo custar entre US$ 4 e US$ 200 a dose!

Grandes cantores marcam presença nas vinhetas do Amaury Jr Show: Liza Minelli, Roberta Flack e Charles Aznavour são alguns dos internacionais. Entre os nacionais, Lulu Santos, Daniela Mercury e Gal Costa.

A cantora Gal Costa, que fora uma das alunas de inglês do cantor Ritchie antes da fama. E sabem quem mais foi aluna dele? A assassina confessa de Norma: a atriz Natália do Vale! Ritchie era a atração de mais um evento exuberante apresentado pelo programa: a inauguração de uma loja do joalheiro Jack Vartanian, que tem filial até em New York.

A belíssima Isabeli Fontana estava lá, e confessou estar muito feliz em seu affair com Rohan Marley --filho da lenda do reggae Bob Marley. "Ele já teve dois casamentos como eu. Ele me completa. Acho que ele é minha cara metade", declarou a top model com um brilho especial no azul dos olhos.

E assim foi terminando mais um Amaury Jr Show, uma espécie de "Ilha da Fantasia", onde todos parecem felizes, bem sucedidos, bem vestidos e cheirosos. Dá até para sentir o bom perfume que parece atravessar a telinha. Em contraponto com a violência e a desgraceira que a TV aberta tem mostrado cotidianamente, não deixa de ser um 'respiro'. Utópico, mas 'respiro'.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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