Renato Kramer

'A heroína da novela é sempre a vítima, é uma chatice!', afirma Taís Araújo

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O casal de atores Taís Araújo e Lázaro Ramos, em cartaz em São Paulo com a peça "O Topo da Montanha" (Katori Hall) —na qual Ramos faz o papel de Martin Luther King (1929-1968), esteve no "Marília Gabriela Entrevista" (GNT) deste domingo (18).

Entre diversos assuntos, como família, carreira e os motivos que os levaram a realizar essa peça —"que fala da coragem de um homem na luta pelos direitos humanos", diz Lázaro— não faltaram observações concernentes ao enraizado racismo que ainda há no Brasil.

"Eu acho muito estranho a gente não se indignar todos os dias que a maioria nos presídios, nas favelas, nos manicômios ainda sejam os que têm a tez mais escura. É esquisito!", desabafa Lázaro. E acrescenta: "É esquisito a gente entrar num restaurante e só ter a gente de negro, às vezes. Pra gente isso é muito gritante! Tem uma ferida aí que a gente ainda não cuida direito", afirma.

E conta que já escutou muitas vezes que eles (o casal) 'choram de barriga cheia'. "Nós somos exceção, né, Gabi?", argumenta Ramos. "Mas vocês são uma belíssima exceção, porque vocês se preocupam com os que não estão lá, os que não conseguem se distinguir e sair dessa massa onde são todos sacrificados", complementa a apresentadora.

"Você recebeu o encargo de ser a primeira atriz negra a protagonizar uma novela das nove na Globo (a Helena da novela "Viver a Vida", de Manoel Carlos – Globo, 2009-2010). Como foi pra você?", quis saber Gabi. "Ela foi terrível e ao mesmo tempo ela foi maravilhosa", solta Taís.


E argumenta: "Ela foi determinante para a minha escolha de carreira. Que tipo de atriz eu queria ser. Esse é o tipo de pergunta que o Lázaro me faz desde o nosso primeiro dia de namoro. Eu não entendia muito bem. Aí a Helena era uma protagonista, e eu fiquei muito honrada quando eu recebi o convite —tanto que eu tava morando na França e vim porque achei que era a grande oportunidade da minha vida", confidencia.

"Mas não foi bem", continua Araújo, "o personagem não era uma maravilha, eu muito menos, também não fazia bem —não dá pra botar a culpa só no personagem. Era uma personagem que dramaticamente não era bem preenchida, mas eu também não consegui preencher como atriz. Então ficou ali um vazio. Eu sofri muito durante esse período", confessa.

Mas foi quando acabou o trabalho que a questão primordial voltou-lhe à mente: que tipo de atriz eu quero ser? "Eu quero fazer personagens que me desafiem, eu quero crescer, quero ser uma grande atriz. Aprendi a ler personagens, por que nem sempre a protagonista é o melhor personagem da trama", observa Araújo.

"Geralmente não é! As heroínas são personagens difíceis de fazer —quem faz uma heroína bem feito deveria ganhar todos os prêmios, porque é muito difícil", desabafa Taís. "Ela nunca é a articuladora da ação, ela é sempre a vítima —é uma chatice! E é isso, a partir daí eu comecei a produzir teatro e a escolher melhor personagens", conclui Taís Araújo.

Com casa no Rio e em São Paulo, o casal que está gravando junto a série "Mr. Brau" (Globo) durante a semana no Rio, vem para São Paulo todos os fins de semana para fazer "O Topo da Montanha", no Teatro FAAP —trazendo os dois filhos pequenos (João Vicente, 4, e Maria Antônia, 9 meses) à tiracolo. Lázaro, além de assinar também a direção da peça, continua a apresentar o seu programa semanal no Canal Brasil: "Espelho".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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