Renato Kramer

'Eu sou a última rainha do rádio', diz Ângela Maria

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Ela é miudinha, gente, ela é toda pequenininha, mas quando ela canta é um vozeirão. Quer começar cantando?", foi como a cantora Ângela Maria foi recebida no "Mariana Godoy Entrevista" (RedeTV!) desta sexta-feira (4).

Mas a grande cantora, considerada a última "rainha do rádio", se desculpou por estar muito resfriada, declarando que só tinha aceito o convite por puro profissionalismo e por respeito à apresentadora. "Minha voz não é essa, eu gostaria de fazer outro programa em que eu estivesse com a voz estalando", sugeriu a Sapoti.

Mariana quis anunciar o trabalho mais recente da cantora, em fase de lançamento ("Ângela à vontade em Voz&Violão"), mas escorregou ao tratá-lo por seu "último trabalho". Ângela corrigiu na hora: "Último não!". Godoy se desculpou argumentando que "é assim que a gente fala", mas contornou dizendo ser o "último até agora".

Algumas palinhas desse CD Ângela, mesmo resfriadíssima, se aventurou a mostrar. Por mais fragilizada que estivesse a sua voz, se reconhecia ali a afinação, a musicalidade e o timbre maravilhoso que a coloca no "top five" das melhores cantoras brasileiras de todos os tempos.

Não é à toa que Elis Regina, que confessava ter se inspirado na Sapoti, declarara certa vez: "Ângela Maria é para mim a maior cantora que o Brasil já teve e vai continuar a ter por muito tempo". "Ela era muito minha fã", comenta. Outras grandes cantoras foram influenciadas por Ângela: Gal, Bethânia, Alcione, entre tantas.

Crédito: Eduardo Knapp/Folhapress Retrato da cantora Ângela Maria no saguão da Sala São Paulo, na Luz
Retrato da cantora Ângela Maria no saguão da Sala São Paulo, na Luz

Mariana então quis saber se Ângela faz alguma coisa para manter a voz. "Eu não faço nada. Eu sou uma rebelde. Eu tomo gelado, fico no ar condicionado, mas Deus me ajuda e eu estou sempre bem", declara, explicando que só pegou esse resfriado na turnê pelo nordeste porque o ar condicionado do carro estava com o filtro cheio de bactérias. "Todos que estavam no carro ficaram resfriados", observou.

Com 14, 15 anos de idade, Ângela conta que tinha que fugir do culto (seu pai era pastor da igreja) para ir cantar nas rádios, em programas de calouros. "Eu já era rebelde", afirma com humor. "Cantar na igreja foi uma escola pra mim. Cantava hinos, e minha voz estava mais habituada a cantar mais para o estilo clássico."

Mas o estilo clássico não era popular. Então os apresentadores dos programas de rádio começaram a cobrar da jovem que cantasse sambas, boleros —estilos que faziam sucesso na época. Fã de Dalva de Oliveira, que estava então no auge, Ângela aprendeu a cantar um grande sucesso da cantora, "Olhos Verdes". "Aprendi essa música e fui no programa 'Pescando Estrelas' e ganhei em primeiro lugar", lembra a "rainha da voz".

Ao relembrar as dificuldades que passou com a sua família por ter optado por ser artista, Ângela se emociona e enxuga discretamente uma lágrima. A produção foi até a rua para ouvir o que alguns populares têm presente do repertório da cantora. Mas foram citadas músicas que Ângela realmente até cantou ou gravou, nenhuma das suas inúmeras canções próprias que tanto sucesso fizeram.

Assim surgiu "Bandeira Branca", que ficou marcada na voz de Dalva de Oliveira, e "O Portão", sucesso de Roberto Carlos. Ora, com tantos sucessos seus, personalíssimos! Só para citar uns cinco: "Cinderela", "A Noite e a Despedida", "Tango pra Tereza", "Falhaste Coração" e "Moça Bonita". Grandes sucessos na voz incomparável da grande Sapoti, apelido que o então presidente Getúlio Vargas lhe deu —"uma fruta que tem a sua cor e é doce como o mel, como a sua voz", declarava o gaúcho galanteador.

Para encerrar, entre tantas deliciosas declarações da diva, Ângela cantou "Gente Humilde" (Chico Buarque, Garoto e Vinicius de Moraes). Essa é a música com a qual a grande cantora gostaria de ser lembrada. "Ela conta a história da minha vida", afirma Ângela Maria, que já enjoou de cantar a clássica "Babalu" (Margarita Lecuona).

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias