Wanderléa recebe homenagem merecida e emocionante na Record
"Vamos falar de um momento que faz parte da trilha sonora da vida de muita gente", foi como se referiu à Jovem Guarda a apresentadora do "Jornal da Record" nesta segunda-feira (24).
"É, a Jovem Guarda está fazendo 50 anos de alegria", comentou Celso Freitas. E lançou a pergunta para a sua colega: "E quem era a musa desse movimento que mudou a história da música brasileira?". "Quem? Ela, Wanderléa, a primeira popstar do país", respondeu Adriana Araújo.
Aparece então no vídeo a cantora Wanderléa em flashes, ainda em preto e branco, de apresentações suas no programa que apresentava ao lado de Roberto e Erasmo Carlos, nas "belas tardes de domingo" da TV Record dos anos 60.
"Naquele tempo em que a gente virava o disco, ela virou a cabeça da juventude do Brasil", disse Adriana, que foi até a casa da cantora para um bate papo delicioso. A própria Wanderléa abriu as portas de sua casa, de suas memórias, dos seus 50 anos de sucesso.
Assim teve início uma grande e merecida homenagem à rainha da Jovem Guarda. Uma retrospectiva da vida e trajetória da cantora, rica em detalhes, muito bem produzida e muito carinhosa. A vida da primeira popstar brasileira foi passada a limpo ali na telinha, assim como a de milhares de brasileiros contemporâneos seus.
A garganta me travou ao relembrar que era uma criança quando ouvi o locutor de uma rádio local em Porto Alegre anunciar quem havia acabado de cantar uma canção singela que arrebatou meu coração à primeira ouvida: "acabamos de ouvir 'Sem Amor Ninguém Vive', com Wanderléa".
Em agosto do ano seguinte (1965), estreava o programa "Jovem Guarda" na TV Record. Foi quando, aos 10 anos de idade, pude juntar aquela voz encantadora à figura da cantora que já esperava ansioso para ouvir no rádio: Wanderléa. Completou-se o ciclo: foi amor à primeira vista.
Enquanto tudo isso repassava na minha tela mental, na telinha da TV a musa da Jovem Guarda em pessoa mostrava fotos suas ainda menina com os pais, seu Salim e dona Odete. Com o querido irmão Bill, que era seu parceiro e seu 'personal stylist', criando os modelitos especiais para a cantora usar no programa. Tudo o que Wanderléa usava no domingo virava moda no dia seguinte.
Capas de revistas, posters, cabelos mais louros, menos louros, mais lisos, menos lisos, calças saint-tropez, bocas de sino, fotos mais atrevidas, para as quais Wandeca alertou: "Era Ternurinha, mas muito ousada. As minissaias eram curtíssimas, mas sempre soube usar com muita classe". E está coberta de razão. Um dos maiores encantos da cantora sempre foi a sua postura impecável, na medida exata entre a meiguice, a ousadia e a sensualidade.
Trechos do filme que protagonizou já no auge, "Juventude e Ternura" (1968), também do que fez ao lado de Erasmo e do "Rei": "Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa" (1969) foram mostrados. Até uma fotonovela em que o apresentador Silvio Santos fora seu par romântico veio à baila. "E rolou algum par romântico?", aproveitou a jornalista. Wanderléa manteve a sua discrição mineira habitual e respondeu: "Éramos uma família".
Para encerrar a belíssima homenagem à cantora, alguns flashes da sua participação na "Virada Cultural de São Paulo" de 2015, na qual tive o privilégio de chamá-la ao palco. Imaginem a emoção: aquele menino que aos 10 anos se apaixonara perdidamente ao ver a cantora na televisão pela primeira vez, agora com seus 60 redondos, tendo a oportunidade de apresentar o ídolo em pessoa!
Imensa também foi a emoção que levou Wanderléa às lágrimas ao ouvir a plateia inteira cantando em alto e bom som um dos seus sucessos mais marcantes: "Ternura", de onde recebeu do mano Roberto Carlos o apelido carinhoso de "Ternurinha".
A edição final da matéria foi apoteótica. Wanderléa esteve magnânima, agradecendo o carinho do público que recebera por esses anos todos. "Obrigada, Wandeca!", foi como Adriana Araújo encerrou o "Jornal da Record" desta segunda. Num repente, me percebi emocionado no meu sofá, cinco décadas depois, ainda extasiado com o carisma daquela que me enfeitiçou desde a tenra infância. Murmurei baixinho: "Obrigado, Wandeca!".
Comentários
Ver todos os comentários