Renato Kramer

22 de agosto de 2015: o dia em que a Jovem Guarda completa 50 anos

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"Além da renovação na música, a Jovem Guarda também mudou o comportamento da juventude brasileira lá nos anos 60", anunciou Carlos Nascimento no "Jornal do SBT" da última sexta-feira (21).

Para abrir a reportagem de Simone Queiroz, um flash do clipe da música "Quando" que o 'rei' gravou no terraço do edifício Copan (SP), se não me engano. O clipe faz parte do primeiro filme estrelado pelo novo ídolo máximo a juventude: "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" (1968), sob a direção de Roberto Farias.

Mas tudo começou há exatos 50 anos: eram 16h30 do dia 22 de agosto de 1965 quando o Teatro Record Consolação abriu as portas para dar início a um programa musical chamado "Jovem Guarda", comandado pelos jovens cantores Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. E o "Jovem Guarda" estourou de tal forma que acabou sendo considerado um movimento musical.

"A Jovem Guarda foi muito mais do que um movimento musical", afirma Simone que ao interpelar duas senhoras sobre canções da época, a primeira canta o refrão do hit máximo de Wanderléa: "Por favor, pare agora, senhor juiz, pare agora!". A outra canta o refrão de uma canção emblemática de Roberto Carlos: "Só quero que você me aqueça nesse inverno, e que tudo mais vá pro inferno!".

"Uma febre que tomou conta da juventude daqueles anos 60 e 70", diz a repórter. Na tela aparecem Erasmo Carlos ("Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo"), Os Incríveis ("Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones") e Renato e Seus Blue Caps, que reinavam absolutos nos bailinhos de garagem da 'brotolândia'. "Isso era turminha boa!", diz outra senhora entrevistada. "Foi a melhor época que nós passamos!", conclui a sua colega.

"O que Roberto, Erasmo, Wanderléa e sua turma diziam, vestiam, pensavam virava lei!", ressalta Queiroz. "Era uma coisa de liberdade, de ter uma identidade, de ter a sua própria roupa, sua maneira de dançar, sua maneira de pensar", comenta Wanderléa, eleita a "Rainha da Jovem Guarda".

Crédito: Reprodução Wanderléa, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, nos 60
Wanderléa, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, nos 60

"As roupas eram lindas, né? Minissaias, calça 'saint-tropez', boca de sino, bota", relembra a cantora Martinha, que recebeu o apelido carinhoso de "Queijinho de Minas". "A saia era quatro dedos abaixo da pelvis" conta Wanderléa, a Ternurinha. "Aquilo foi um escândalo! Meu pai em casa nervoso com aquilo tudo: uma filha do seu Salim não podia sair assim!", declara Wandeca com humor.

"No início a tradicional família brasileira se assustou, porque foram embora as calças de tergal e as saias de anágua e no lugar vieram cabeludos e as minissaias que ajudavam valorizar o visual dos brotos. É 'bicho', quem entrava na onda era um barra, um 'barra limpa'!", informa a repórter.

"Gírias que não foram inventadas pelo Roberto, já existiam. Mas o Roberto eternizou essas gírias", comentou o jornalista Antônio Aguillar. "Foi uma música de autoria de Martinha que lançou uma expressão que hoje poderia ser substituída por 'legal', 'gente fina'", continua a repórter.

"Essa música fala do Roberto", conta própria Martinha. "No refrão fala: "Mas ele é barra limpa e não dá bola para nada, é louco no volante e só anda em disparada e quando alguém critica ele nem liga e vai embora, é mesmo barra limpa, ele é uma brasa mora!", explica a letra do seu sucesso "Barra Limpa".

Queiroz lembra então que não era só rock e iê-iê-iê, tinha romantismo, mão dada e rostinho colado."Quantos namoros, quantos casamentos não saíram dali, entendeu? Pessoas que namoraram ouvindo as nossas músicas, e se casaram!", comenta Martinha.

"Isso valia para a própria turma da Jovem Guarda também", destaca a repórter. E solta: Martinha namorou Antônio Marcos (1945-1992), que casou com a Vanusa que Wanderley Cardoso namorou. "Era tudo assim ali?", perguntou Simone para Wanderley Cardoso, que não se fez de rogado: "Era tudo assim, troca de favores e amores!".

"Havia aquela onda de que Roberto namorava a Wanderléa, depois que não era o Roberto, era o Erasmo", comenta Aguillar. "E quem era de verdade?" quis saber Simone. "Ninguém sabe!", respondeu o jornalista. O que se sabe é que o próprio Roberto Carlos, numa entrevista para o Jô Soares, declarou abertamente que teve um namoro com a Ternurinha. Ela, com seu jeito meigo e mineiro, sempre desconversa.

"Também tinha intriga, mexerico, fofoca", ressalta Queiroz. "Quem gostava de fazer fofoca, dizia por exemplo, que você e a Wanderléa não se davam", comenta com Martinha. "É, mas não era nada disso, nada", retruca a "Princesinha da Jovem Guarda". "Eram amigas?", insiste Simone. "Amigas", responde Martinha convicta.

"E quanto a Wanderley Cardoso e Jerry Adriani?", questionou Queiroz. "Todo mundo dizia que nós éramos inimigos, mas sempre fomos amigos, como irmãos...a gente ficou de mal um tempo, mas depois voltamos e somos praticamente irmãos, né?", assegura o "Bom Rapaz".

"50 anos depois, aí estão eles: o destino moldou vidas diferentes, mas juntos, sem dúvida, eles deixaram um legado", arrematou Simone Queiroz.

"Nós viemos no início, né? Fomos desbravadores assim, né? Apanhamos muito dos colunistas eu não gostavam dessa transformação da música brasileira. Mas eu acho que a gente passou um bastão, abriu uma sonoridade da música brasileira para o mundo!", encerra afirmando Wanderléa, que há exatos 50 anos, na flor dos seus 19 aninhos, se tornava a Rainha da Jovem Guarda.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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