Renato Kramer

'A atitude homossexual é um direito do ser humano', afirma Regina Duarte

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"Ela foi ícone da liberação feminina dos anos 70" foi a máxima que Ana Maria Braga usou para anunciar a atriz Regina Duarte —sua convidada especial para o café da manhã no "Mais Você" (Globo) desta quarta-feira (17).

Para iniciar a conversa a apresentadora cita Esther, a personagem assumidamente gay de Regina em "Sete Vidas" (Globo). "É uma homossexual de uma maneira muito aberta, inclusive na hora de abordar o tema com os próprios filhos —um assunto bastante atual".

"Você faz isso com maestria", elogia Ana Maria, "como é esse personagem para você?". "Eu encaro sem o menor preconceito", responde a Malu de "A Deusa Vencida" (TV Excelsior - 1965). "Eu acho que uma decisão, uma atitude homossexual é um direito inerente do ser humano. O que acontece na privacidade, no erotismo —nas possibilidades eróticas das pessoas pertence a cada um", declara Regina.

E comenta sobre a aceitação de sua personagem: "É impressionante como o simples fato da companheira dela já ter falecido, de não estar acontecendo agora, libera as pessoas —mesmo as mais preconceituosas, para aceitar essa mulher tendo essa vivência, sem olhá-la com olhares mais rigorosos", argumenta a Andréa de "Véu de Noiva" (1969).


Sobre o olhar do público, a atriz comenta: "Eu acho que têm algumas coisas que as pessoas têm dificuldade de olhar. Eu tenho ouvido muito do público, sabe? Dizendo assim: têm certas coisas que a televisão mostra que eu não quero ver". "Mas existe", retruca Ana Maria. "Existe, mas eu não quero ver, não quero que entre na minha casa —é a postura de muitos", explica a Ritinha de "Irmãos Coragem" (1970).

A apresentadora coloca que por vezes sente isso na audiência, quando o programa mostra alguns fatos do dia a dia. "A gente, como um veículo de comunicação, tem a delicadeza de tocar neles entendendo que a família brasileira está sentada —e eu tenho a felicidade de ter a família toda assistindo a gente. Então com inteligência e delicadeza, porque tem criança assistindo, a gente toca em temas que as pessoas às vezes reagem de uma forma adversa e a gente tem a audiência para medir isso", observa Ana Maria.

E continua: "Então a gente sabe que é um tema delicado, como você está colocando, que a pessoa por vezes não quer ver, mas a gente acha tenta mostrar que é importante ver para poder tentar entender e saber melhorar quem está em volta da gente para o futuro, porque a vida muda —as coisas mudam, e a gente tem que saber como lidar com elas de uma forma mais generosa", conclui Braga.

Regina questiona: "Eu fico me perguntando porque a civilização caminhou para essa dificuldade de aceitar algumas coisas tão humanas, não é? Porque você vê, na Grécia antiga era uma coisa mais natural do mundo, os homens eram homossexuais, as mulheres também —bissexuais! Era o tesão que ditava com quem as pessoas iam se relacionar sexualmente, digamos. E aí a civilização, a História foi se estreitando de um maneira... O que será que levou a esse estreitamento de uma visão preconceituosa nas relações?!", se perguntou a Patrícia de "Minha Doce Namorada" (1971).

Ana Maria chama a atenção para o fato de Regina, com seus 53 anos de carreira, ser muito senhora de si para se colocar nesse papel."Você já foi desde a 'namoradinha do Brasil' até a mais contestadora, mostrando um pedaço da história do Brasil. Quer dizer, você tem inúmeros personagens da tua vida de várias formas, então você é muito credenciada", ilustrou a apresentadora.

"Mas isso eu não tinha feito ainda", retruca Regina. "Mas então, você está credenciada para fazer!", repete Ana Maria. "Sou uma atriz, não é? Eu espero estar credenciada para fazer todos!", brinca Regina.

A maior estrela da televisão brasileira foi para a cozinha com Ana Maria Braga e fez o seu "arroz maluco" ao forno. O sorriso e o carisma que encantaram o Brasil por décadas se mantém intactos e com o mesmo vigor. Grande Regina!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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