Renato Kramer

Quem pede militares de volta não tem noção do que foi a ditadura, desabafa Serginho Groisman

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O "Marília Gabriela Entrevista" (GNT) de domingo (10) —reprisado na última segunda-feira— trouxe o apresentador Serginho Groisman, que vai ser pai pela primeira vez aos 64 anos.

Serginho lembrou da meteórica carreira como ator e falou sobre o projeto de um documentário sobre os tempos de agitador cultural do colégio Equipe.

"Eu ia fazer uma participação como eu mesmo numa peça do Marco Nanini. Aí, saí para conversar com Gerald Thomas, o diretor, e ele me disse: não, você é um ator, eu vou escrever um texto pra você". Foi então que o apresentador fez a sua estreia no teatro com o espetáculo "Brasas no Congelador" (2006).

"Nessa conversa que tivemos eu falei muito da minha vida. Inclusive que nos anos 70 eu ia nas passeatas sozinho, porque na escola onde eu estudava os alunos não se mobilizavam para isso. Eu era muito curioso!", afirma Groisman.

"Participei de várias passeatas, mais como testemunha. Numa delas encontrei um amigo que me convidou para participar de um grupo de estudos na clandestinidade. Quando eu cheguei, tinham umas cinco pessoas, e um cara me falou: seu nome é Nelson. Aqui a gente não pode saber o nome um do outro. Se a ditadura pegar a gente, torturar, você não vai saber quem eu sou. Eu falei tudo bem, panfletamos lá e no outro dia eu perguntei: quem são vocês? Ele me disse que não podia falar. Eu falei: Então tchau! Acabou a minha clandestinidade", lembra o jornalista.

Crédito: Divulgação Serginho Groisman, apresentador do programa "Altas Horas", da Globo
Serginho Groisman, apresentador do programa "Altas Horas", da Globo

"O Gerald, sabendo disso, criou um personagem chamado Nelson que não sabia realmente onde estava. Foi uma experiência espetacular", comenta Serginho. "Você estava ótimo!", elogia Gabi, que quis saber por quanto tempo durou a experiência de ator e se Serginho não tivera vontade de voltar a fazer teatro.

"Durou um ano. Eu não sou um ator. Eu estive ator naquele momento. Dez dias antes de estrear a peça, minha mãe faleceu. E eu não sabia o que fazer com a coisa da estreia", explicou, afirmando que os judeus só estão liberados do luto após sete dias.

"O rabino Henri Sobel chegou pra mim e falou: sua mãe adorava você, então você vai homenagear a sua mãe estreando essa peça. Eu fiz a estreia sem ter o medo que eu teria porque fui lá pensando na minha mãe. E saiu tudo maravilhoso", conta o apresentador.

"Depois algumas pessoas tentaram me levar para um teatro que pudesse render um dinheiro, um pouco mais comercial, eu não quis", confidencia Serginho.

Serginho também falou sobre um documentário que será dirigido por Marcelo Machado, que mostrará seus dez anos como agitador cultural do Equipe. "Eu não tinha nenhuma dimensão da importância que tinha aquilo. Para mim era uma diversão buscar o Cartola, Gil, Caetano no meu Fusca branco. Então não gravava, não fotografava. Mas outros alunos, sim. Então a gente está à caça desses ex-alunos que tenham esse material", revela.

"Uma das ideias era voltar ao Equipe, que existe ainda, e reproduzir um show. E trazer aquele pessoal que assistiu aquele show", disse Serginho, confirmando que a ideia é lançar o filme comercialmente nos cinemas.

Antes de encerrar, o apresentador ainda fez um apelo: "Eu vejo hoje uma espécie de manifestação, pequena, mas que está se tornando maior, em relação à volta dos militares ao poder. As pessoas que pedem isso, ou não têm noção do que vem a ser uma ditadura ou têm e querem mesmo que aquilo volte. Não existe período pior no Brasil do que os períodos ditatoriais que a gente teve, e, principalmente, esse último da ditadura militar. Então, por favor, que se discuta muito hoje a questão política".

"Acho que gente que viveu na ditadura e pede a volta é porque não tinha conhecimento de fato do que se passava, não alcançava a informação do fato, não realizava. Qualquer pessoa em sã consciência, sabendo o que se passava na época, não pode querer a volta daquilo", encerra Marília Gabriela.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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