Renato Kramer

'GNT Fashion' entrevista estilistas que abriram caminho para transgêneros nas passarelas

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"Vocês entraram em contato com esse mundo de travestis, trans e transformistas quando?", perguntou Lillian Pacce aos seus dois convidados, Alexandre Herchcovitch e Valério Araújo, do "GNT Fashion" de domingo (21).

"Quando eu saí da escola, eu comecei a entender que existia uma noite em São Paulo. Claro que eu sabia, mas eu comecei a frequentar só então. Boates gays eu nem sabia que existia, uma boate específica para gays, misturado como era, e eu comecei a assistir shows de drag queens", conta Alexandre Herchcovitch.

"A primeira drag que me chamou muito a atenção foi a Márcia Pantera. Me aproximei dela e comecei a fazer roupas para ela, assim, por livre e espontânea vontade", declara. "Ela foi a sua primeira cliente!", comenta Pacce. "Minha primeira cliente", confirma Alexandre. "Foram mais de trezentas roupas. E o que eu gostava mesmo era de ajudar ela a criar essa personagem, e com a roupa ajudar a mostrar essa ilusão: um corpo de homem, mas a roupa ajuda a perceber que é uma mulher", conclui.

"E você, Valério, como foi o seu começo?", quis saber Lilian. "O meu primeiro trabalho foi em Salvador (BA). Eu fiquei sabendo que ia ter um concurso de Miss Bahia Gay. E aí eu fui. Foi a primeira vez que eu coloquei vestido e o escarpin, e até hoje eles me perseguem!", conta Araújo.

"Você ganhou?", perguntou a crítica de moda de supetão. "Simpatia", sai Valério pela direita. "Depois, em todos os outros concursos de que participei, ganhei sempre Miss Simpatia e Melhor Vestido! Acho que isso me deu visibilidade profissional, porque depois todas as drag queens e travestis começaram a me procurar para eu fazer a roupa delas", conta Araújo.


"Desde que eu comecei a perceber esse universo, eu tinha muita vontade de andar em cima de um salto, para ver o que que era. Eu também me vesti de mulher em algumas ocasiões", confidencia Herchcovitch. "Porque essa questão de gênero para mim era uma coisa tão inaceitável, essas barreiras, que eu falei não, deixa eu ver como é, né?!", declara o estilista.

"Você usa salto até hoje, não é?", pergunta Lilian para Valério. "Eu acho que parte de um fetiche talvez. Eu me sinto mais imponente, emagreço porque eu fico 17 cm mais alto, então, vários truques!", abre o jogo o também estilista.

"Vocês acham que dos anos 80-90, quando vocês começaram a lidar com esse universo para hoje, isso saiu dessa coisa mais 'underground' e ganhou um tratamento mais aceito pela sociedade?", perguntou a apresentadora.

"Eu acho que sim", disse Herchcovitch, acho que quanto mais tem exposição desse assunto, mais as pessoas assimilam, aceitam ou fazem que aceitam... isso realmente é um assunto em voga". "Temos a Lea T, que teve esse boom e as pessoas começam a olhar de outra forma", acrescenta Valério.

"Eu sou um pouco inconformado com umas regras que são para homens e outras que são para mulheres. Então quando eu fazia casting de pessoas que não eram modelos profissionais, na hora de escolher eu não via muito o gênero. Eu queria a pessoa, o personagem, algumas características", continua Herchcovitch.

E afirma: "Desde o meu primeiro desfile de formatura, quem abriu o desfile foi a Márcia Pantera. E nos desfiles seguintes eu cada vez mais convidava pessoas, sem querer saber se ela era transexual, travesti, não me importava!".

"Eu coloquei andróginas nos meus desfiles, coloquei travesti, coloquei drag queen. Eu acho que é uma boa forma de dar visibilidade e respeito pra elas. Elas querem, elas gostam. E a gente quer que elas apareçam mesmo e sejam respeitadas", encerra Valério Araújo.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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