Renato Kramer

Reprise de 'Pedra Sobre Pedra' é a atual redenção do ator Paulo Betti

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A novela "Pedra Sobre Pedra", que começou a ser reprisada nesta semana pelo canal Viva, tem diversas características marcantes, sendo uma delas o belo trabalho do ator Paulo Betti como Carlão Batista, em destaque no capítulo de sexta-feira (30).

É claro que o currículo do ator e diretor Paulo Betti, tanto no teatro quanto na TV e no cinema, é bastante rico e de grande qualidade. O fato é que, como está vivendo o intrépido Téo Pereira em "Império" (Globo) de forma tão equivocada, poder vê-lo tão bem na reprise de "Pedra Sobre Pedra" não deixa de ser uma forma gostosa de refrescar a memória sobre o quanto o ator pode acertar.

Em uma das cenas em que apareceu com o seu Carlão bêbado contracenando com o excelente Pedro Paulo Rangel (na pele do personagem Adamastor), Betti demonstrou todo o seu talento de ator —até porque sabe-se que cenas de bebedeira em geral são um sério desafio para qualquer ator. E Paulo Betti esteve brilhante.


"Banana d'água, banana maçã, caturra, banana ouro, banana nanica: o que quer que eu seja, isso é um problema meu!", afirma Carlão depois de ser xingado de "banana" pela cunhada Pilar (Renata Sorrah). "Tá querendo o quê, hein, Carlão? Que eu fique com pena de você?", retruca o amigo Adamastor, que nutre por ele um amor platônico. "Não quero que você sinta nada por mim, Adamastor! Depois, quem tem pena é galinha. E você, nem isso é!", responde Carlão, contrariado, dominando a cena.

E, com o som de "Detalhes" de Roberto Carlos ao fundo, segue toda uma conversa rica em nuances e subtextos entre os dois. Cena que flui naturalmente, com personagens absolutamente críveis. Bonito de ver.

Bonito de ver também o trabalho da grande atriz Eloísa Mafalda (Gioconda Pontes), a estreia de Du Moscovis na televisão como o cigano Tíbor, a belíssima interpretação de Armando Bogus (Cândido Alegria) em sua última novela —pela a qual ganhou o prêmio APCA 1992—, uma ainda muito jovem Lília Cabral como a prostituta gaúcha Alva, a sempre impecável caracterização de Osmar Prado como Sérgio Cabeleira e a saudosa Miriam Pires, como Dona Quirina Batista.


Além do excelente texto de Aguinaldo Silva e da competente direção de Paulo Ubiratan, "Pedra Sobre Pedra" conta com outros nomes de peso no elenco: Adriana Esteves, Cláudio Corrêa e Castro, Fábio Jr., Ênio Gonçalves, Eva Wilma, Arlete Salles, Marco Nanini, Humberto Martins e Lima Duarte. A atriz Andréa Beltrão dá um brilho especial à trama com a sua etérea Úrsula Pontes, cujo tema "Madana Mohana Murari" (Homem de Bem) tornou-se uma das músicas mais tocadas no Brasil.

Em especial, "Pedra Sobre Pedra" traz a graciosa oportunidade de vermos o ator Paulo Betti num ótimo trabalho, vivendo o carismático Carlão Batista, por quem a bela cigana Vida (Luiza Tomé) se apaixona perdidamente. O próprio ator deveria rever o seu trabalho e perceber claramente o quanto é diferente da caricatura ligeira que tem apresentado em seu personagem na novela "Império". Claro que são tipos totalmente diversos, mas ambos requerem uma mesma verdade para existir. Betti sabe disso melhor do que eu. Ossos do ofício.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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