Renato Kramer

'A televisão partiu para a escatologia, para o desfile de travestis', critica Ronnie Von

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O apresentador Celso Portiolli foi visitar a mansão do cantor e apresentador Ronnie Von no "Domingo Legal" (SBT) do último domingo (24).

"Você tem tantos talentos: piloto de caça, sommelier, sabe tudo de botânica, cantor, apresentador de televisão – como cabe tudo isso?", perguntou Portiolli. "Faça 70 anos que você vai conseguir", respondeu Ronnie rindo muito.

E o belo cantor, que tinha um programa também na Record que rivalizava com o "Jovem Guarda" de Roberto, Erasmo e Wanderléa –"O Pequeno Mundo de Ronnie Von", que ia ao ar aos sábados à tarde–, contou para Portiolli como acabou entrando para a carreira artística.

"Meu pai era diplomata em Londres, época em que os Beatles estavam fazendo aquele sucesso monumental", conta Ronnie. "Eu era piloto de caça na Força Aérea e lá mesmo a gente fazia uns showzinhos, aqueles 'mingaus' com bandinha e tal... Eu já gostava daquela coisa do palco. Meu pai trazia os discos dos Beatles de Londres uns seis meses antes de eles serem lançados aqui. Então, eu conheci uma banda cover chamada The Brazilian Bitles!", disse.

Entremeando a conversa, aparece ao fundo um Ronnie Von jovem e belíssimo em um vídeo preto e branco cantando "A Praça" (1967 - Carlos Imperial) – ironicamente um dos maiores sucessos do "Pequeno Príncipe", que declarou recentemente que não queria gravá-la.

"Um dia eu fui assistir ao The Brazilian Bitles no Beco das Garrafas (RJ) e de repente eles me chamaram no palco. Contaram que meu pai trazia os discos dos Beatles lá da Inglaterra, que por vezes eu ensaiava com eles e me chamaram. Eu saí correndo de medo! Aí, me jogaram no palco, eu caí, me levantei e cantei a música "You've Got to Hide Your Love Away", que era do filme 'Help' (1965), que aqui ninguém nem sabia o que era. Aplaudiram e eu me senti um astro!", conta Ronnie, como se estivesse revivendo o momento.

Crédito: Karime Xavier/Folhapress O cantor e apresentador Ronnie Von
O cantor e apresentador Ronnie Von

"Quando eu desci do palco, tinha um jovem diretor de gravadora, o João Araújo (pai do Cazuza). E ele me fez a proposta de gravar um disco como experiência: um lado em inglês e o outro em português. Eu disse: Deus me livre! Se eu gravo um disco a minha família me deserda, me apedreja em praça pública. Ele disse: é só uma experiência. Lá fui eu para o estúdio gravar as canções 'You've Got to Hide Your Love Away' em inglês e 'Girl' em português [seu primeiro grande sucesso nacional]."

Mal sabia o "Principezinho" aonde isso ia dar!

"Outro dia, ao voltar para Copacabana (RJ) de uma reunião de trabalho, todo arrumadinho, ouvindo rádio no meu carro depois de atravessar um dos túneis, eu ouvi o slogan de um programa conhecido na época: 'Disco Estrelinha' – o disco que começa a brilhar!': e era eu próprio!", conta Ronnie quase sem ar."Eu encostei o carro porque minha perna tremia tanto que eu não tinha mais condições de dirigir. Respirei fundo e esperei passar aquela sensação forte. Foi uma das maiores emoções da minha vida!", declara o dono dos cabelos que "todos os cantores da Jovem Guarda queriam ter" – segundo o Rei Roberto Carlos.

"Do sucesso do rádio virou um 'sex symbol'?", quis saber Portiolli. "As pessoas tinham um amor um pouco agressivo", observa Ronnie Von. "Queriam arrancar pedaço, arrancar cabelo!". "Uma vez, saindo do meu programa em um dia que meu sósia não viera, fui atacado e me tiraram toda a roupa! Sapato, meia, cueca! Eu fiquei em posição fetal na sarjeta chorando, até que os seguranças conseguiram me jogar de volta para dentro do teatro ali na Rua da Consolação (SP)".

O apelido de Pequeno Príncipe de onde veio? "Hebe!", responde Ronnie. "Hebe, com aquela história de dizer que eu parecia com o Pequeno Príncipe, pronto: pegou!". E é uma escultura do próprio que o cantor considera a peça mais valiosa da sua requintada decoração: um "Pequeno Príncipe" de barro e cerâmica vitrificada "sem nenhum valor comercial, mas para mim a peça mais importante da casa". Pelo grande afluxo de vendas do livro no Brasil, a editora francesa descobriu que o jovem cantor popular chamado de "Pequeno Príncipe", estaria ajudando muito na divulgação do livro. Foi quando Consuelo de Saint-Exupéry, viúva do autor, resolveu presentear Ronnie com o mimo.

Para encerrar, Celso Portiolli quis saber o que representa o atual programa "Todo Seu" (TV Gazeta), apresentado por Ronnie Von. "Que ninguém nos ouça: tudo o que eu tenho me foi dado pela música. mas eu sempre gostei mais de televisão do que de shows, de palco e de cantar! E hoje me foi dada essa oportunidade: como eu não me drogo, o meu ópio é a televisão", afirmou o mais belo cantor dos anos 60.

E Ronnie se despede fazendo um desabafo em relação a quantas anda a televisão brasileira: "Hoje a televisão vai por um caminho muito equivocado. Com algumas exceções, a televisão partiu para a escatologia, a pornografia, para o sangue, peito de fora e desfile de travestis! Eu não tenho talento para fazer isso!", conclui o cantor que acabou de lançar uma biografia "Ronnie Von – O Príncipe que Podia ser Rei" (Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel - Ed. Planeta do Brasil). "Eu também não!", concorda o apresentador do "Domingo Legal".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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