Ainda na série "melhores momentos", na última sexta-feira (1º) o "Programa do Jô" (Globo) recebeu a visita mais do que ilustre do 'rei' Roberto Carlos.

O apresentador, que estava vestido à caráter para receber o maior cantor popular do Brasil – num terno branco com camisa, gravata e lencinho azuis, fez uma introdução bem humorada: "É com imenso prazer que eu apresento esse rapaz em quem eu levo muita fé, tenho muita esperança que ele há de dar certo: Roberto Carlos!".

Ao som de "Emoções", Roberto entra em cena em roupa esportiva, mas sempre mantendo os tons de azul, e é ovacionado por uma plateia muito receptiva. Cheio de sorrisos e em alto astral, o cantor relembra em rápidas palavras como começou uma das mais bem sucedidas carreiras da música popular brasileira.

"O começo da minha carreira foi ainda em Cachoeiro (do Itapemirim - ES), com 9 anos de idade, quando cantei na rádio local num programa infantil. E daquele momento em diante eu disse: não quero mais ser médico, como minha mãe (Lady Laura) pretendia que eu fosse. Cheguei em casa e disse: mãe, médico nem pensar, eu quero ser cantor". E lá se vão mais de 50 anos de sucesso, e Roberto Carlos não só continua na ativa como está agora mesmo em plena turnê internacional.

Aos 16 anos, cantou pela primeira vez na televisão e aos 17, já estabelecido no Rio de Janeiro com a família, Roberto se tornou o crooner da Boite Plaza. "Ali eu aprendi muito", revela o rei, que precisou de uma emancipação assinada por sua mãe pelo fato de ainda ser menor. "Eu queria muito que tudo desse certo e tinha um pensamento positivo muito forte", confessa Roberto. E deu certo. E como deu!

Na sequência o apresentador pediu que o cantor contasse algumas histórias pitorescas que aconteceram com ele em sua longa jornada. Assim que vem o "atropelamento de um sapo" nos Estados Unidos, o fato de ter que sair por outra porta que não a que entrou numa igreja - da época em que o cantor confidencia que "estava fazendo um curso pra santo", de tanto que praticava a religião católica (continua católico, mas sem excessos) e de quando um menino de 5 anos o abordou no avião para confessar-se seu fã ardoroso.

Depois vem as "canções que ele fez para nós": "Detalhes" - a preferida do rei, "As Curvas da Estrada de Santos" - uma das mais admiradas pelo apresentador Jô Soares e "Olha", a predileta do filho do cantor Dudu Braga, o "Segundinho", que também estava presente no programa. Não faltaram também a bela "Sentado à Beira do Caminho" e a pop "Jesus Cristo", com a qual Roberto encerrou a noitada.

"Você tem consciência de que o seu repertório já faz parte do inconsciente coletivo?", perguntou em tom de afirmação o apresentador. "Todo o mundo, em algum momento da vida ouviu o Roberto Carlos, se ligou numa ou noutra música sua...ainda lá na (TV) Record eu já dizia sobre algumas frases de suas músicas: isso aqui é de poeta maior!", declarou Jô Soares.

Roberto Carlos estava alegre e comunicativo em sua entrevista de 16/09/2011, reapresentada na noite de ontem. Falou com tranquilidade sobre os seus avanços com o seu TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), sobre as famosas "toucas de meia" para alisar os cabelos em época de Jovem Guarda (1965/ 1968) - e do quanto o belo cabelo liso do "príncipe" Ronnie Von era o sonho de consumo dele e de todos os colegas cantores, e também do seu extremo cuidado com o seu ofício: "eu demoro muito pra lançar um disco...fico ouvindo até 8 meses antes...mas pra mim nunca tá pronto", afirma Roberto.

Discreto como sempre se manteve em sua longeva carreira, o cantor até surpreendeu ao afirmar que é a favor do casamento gay, já que acredita que devemos definitivamente abandonar todo o tipo de preconceito e que "todos nós merecemos a felicidade".

"Não adianta nem tentar me esquecer, durante muito tempo em sua vida eu vou viver...não, não adianta nem tentar me esquecer...", diz a letra de uma das suas mais belas canções, com a qual iniciou o "Programa do Jô" esta sexta: "Detalhes". Eu nem me preocuparia com isso, Roberto. Com todo esse universo de belas canções que você e Erasmo fizeram para nós, pode ter certeza de que você sempre será lembrado. E depois, não se esqueça: você é o cara!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"