Renato Kramer

Beleza e juventude são os valores discutidos em "Razões Para Ser Bonita"

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Steph (Ingrid Guimarães) fica sabendo inadvertidamente que seu namorado Greg (Gustavo Machado) considera o seu rosto apenas "comum". Isso é o que basta para acabar o relacionamento!

Mas não se pode afirmar que é a sociedade moderna que criou essa obsessão pelo jovial e pelo belo. Já em 1962, o filme "Doce Pássaro da Juventude" (Sweet Bird of Youth), de Richard Brooks, levantava essa questão com muita propriedade.

O jovem e bonitão Chance Wayne (Paul Newman) envolve-se por puro interesse com uma atriz bem mais velha e decadente, Alexandra Del Lago (Geraldine Page), explorando-a financeiramente e esperando que ela o torne um astro. A veterana, com sua própria carreira em queda livre, não consegue senão beber do mel, que se torna rapidamente amargo, da beleza e da juventude do rapaz --que reage de forma cruel as suas frustrações, traindo-a com uma ex-namorada bem mais jovem.

Em 1989 foi a vez do mais belo rosto que o cinema já apresentou na tela assumir, por ironia do destino, o papel da atriz decadente que implorava por beleza e juventude: Elizabeth Taylor. O seu "gigolô" foi realizado pelo então belíssimo ator Mark Harmon, sob a direção de Nicolas Roeg.

E é sobre essa desde sempre poderosa dobradinha, beleza e juventude, que a peça de Neil La Bute --considerado um dos principais autores do teatro americano contemporâneo, discute.

Crédito: Divulgação A partir da esquerda: Marcelo Faria, Ingrid Guimarães, Aline Fanju e Gustavo Machado
A partir da esquerda: Marcelo Faria, Ingrid Guimarães, Aline Fanju e Gustavo Machado

Steph não perdoa o namorado por não considerá-la uma mulher bonita. Então ela o deixa e vai à luta para alcançar esse objetivo: troca o guarda-roupa, muda o penteado, capricha no "make up" e sobe no salto quinze. Se não fica exatamente bonita, toda essa produção consegue pelo menos lhe garantir um certo destaque.

Enquanto isso, Carla (Aline Fanju), uma mulher verdadeiramente bela, confessa toda a barra que sofreu justamente pelo fato de ser "bonita" e namora Léo (Marcelo Faria), que vangloria-se com o seu amigo Greg de traí-la com uma menina mais jovem e ainda mais bonita que ela!

Enfim, a cada nova descoberta de uma "maravilha" que nos mantenha jovens e belos --se possível saudáveis-- há um "boom" no mercado e a "sociedade" como um todo consome ávidamente esse pretenso elixir. Alguns extrapolam e fica pior a emenda do que o soneto!

Os quatro atores fazem um bate-bola ágil e funcional, sendo que Ingrid Guimarães conduz os momentos de maior humor com a sua veia cômica já conhecida do grande público. Uma das melhores partes de sua atuação é quando começa a desfiar os defeitos do ex-namorado por vingança, pelo fato dele achá-la simplesmente "comum". Steph comenta desde a unha encravada, os "puns" debaixo do edredom, até o excesso de pelos pubianos do ex. É "a intimidade é uma merda!", dirão todos que a conhecem de perto.

"Razões Para Ser Bonita", com tradução e adaptação de Susana Garcia e direção de João Fonseca, está em cartaz no Teatro Shopping Frei Caneca (SP), até 14 de julho. É diversão leve e garantida.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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