Marcelo Arantes

Por que tanta gente quer ser amiga de Preta Gil?

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Há de se ter delicadeza para escrever sobre Preta Gil porque ela está cercada de uma legião de bajuladores.

Isso não permite elogio, sob risco de cair no rótulo de mais um de seus puxa-sacos, nem críticas, por respeito aos próprios dentes.

Preta Gil se define cantora, atriz e apresentadora, mas a melhor definição para ela é como ícone multimídia disposta ao que for necessário para provar que merece lugar cativo no estrelato.

Não é difícil supor quais razões serviram de combustível para o desenvolvimento de seus talentos principais: a comunicação e a habilidade de articular forças midiáticas.

Execrada pela opinião pública ao debutar no mundo artístico nua na capa do seu primeiro disco em 2003, ela tirou daí a energia necessária para mostrar ao mundo que a criatura poderia, sim, ser maior que seu criador. Vista de outro ângulo, é claro.


Ainda que afinada e capaz de escolher um repertório que mistura ritmos brasileiros que agradam à maioria, Preta Gil não tem o mesmo talento musical do pai, o brilhante Gilberto Gil. A comparação é inevitável e compensada de outro lado.

Preta Gil emerge como símbolo da cultura contemporânea da imagem. Valeu-de da música apenas como espaço seguro para projeção de sua figura pública.

Presente em múltiplas plataformas de entretenimento, com atenção especial para internet e redes sociais, a artista revelou uma inteligência singular para aproveitar das ferramentas disponíveis e se emparelhou com tudo que é midiático.

A ESTRATÉGIA DE PARCERIAS

A indústria cultural explora a imagem dos ídolos até que se esgote, então foi necessário que Preta Gil desenvolvesse algo além das performances divertidas e desbocadas.

Ela encontrou a chave para a longevidade através da renovação de seu valor simbólico: a estratégia de parcerias. Para se tornar influente, Preta se uniu a várias pessoas influentes.

Disposta a ajudar a alavancar a carreira de qualquer um que pareça promissor mas ainda não chegou ao auge, a artista é acusada por muita gente de se aproveitar do sangue fresco de celebridades instantâneas para conquistar seus públicos, como um imperialista ávido por ampliar territórios de influência.

A estratégia tem funcionado e de fato Preta Gil conseguiu se tornar bastante popular. Entendeu as demandas de mercado e ocupou o nicho do ídolo de massa vendável a muitos tipos de públicos.


Ela soube explorar questões polêmicas e levantou bandeira de sexualidade, obesidade, diferenças raciais e conflitos sociais. Por não ser o estereótipo da mulher sílfide, padrão de beleza, reverteu até isso a seu favor.

Santificada por seus novos e velhos adoradores, Preta Gil sabe lidar com fãs como poucos artistas, não dispensa mimos e promoções, e os coloca para trabalharem gratuita e avidamente pra ela.

Os fãs não apenas compram seus produtos, mas prestigiam seus shows, emplacam suas hashtags e fazem barulho para tudo que ela faça se torne (ou pareça) muito popular.

A CORTE DE CELEBRIDADES

Preta Gil é um dos exemplos do chamado "ator social", cujo objetivo é gerar atenção para permanecer na mídia.

Seu casamento, nesta terça-feira (12), é parte disto e foi considerado o evento ostentação do ano pela imprensa. Adepta do Candomblé, escolheu se casar numa igreja católica que serviu de cenário para momentos históricos da antiga família real brasileira.

Com clara intenção de entrar pra a história, o casamento de Preta Gil celebra a realeza, a nova corte que ela ajudou a criar. Ao nomear 56 padrinhos ela estabelece um vínculo poderoso com todos eles, e muitos são celebridades notórias do mainstream.

Tamanha divulgação gerou uma festa para todos terem vontade de ir, um enorme camarote em que todos são VIPs, desde os nomes sorteados dos fã-clubes ao batalhão de globais, servindo todos lado-a-lado na fila do buffet.

Envolta na ilusão da vida diferenciada que o mundo dos famosos proporciona, Preta Gil atrai ainda mais atenção a si, para ser contemplada, paparicada, para se tornar diferente das pessoas comuns e se sentir —principalmente parecer— especial.

KIM KARDASHIAN OU OPRAH?

Com tantas manobras de atenção, é inevitável a comparação com a norte-americana Kim Kardashian. De fato poderia render bastante audiência um reality show com a vida de Preta Gil, sua família e toda a corte de celebridades brasileiras que a orbitam.

Ou talvez seja ela a Ophrah brasileira que já tentaram com Ana Maria Braga e Fátima Bernardes, mas ainda não conseguiram.

A médio prazo é de esperar que Preta Gil assuma o comando de um programa como o 'Esquenta', pela capacidade de unir o gosto popular ao reflexo da geração y no ambiente hipermidiático.

Rejeitada no início da carreira, Preta Gil resolveu agradar e conquistar o mundo. Cercou-se de bons profissionais e soube adaptar-se aos novos estilos passando rapidamente de influenciada a influente.

Preta Gil é o final feliz do cruzamento entre morro e asfalto, é a síntese do Brasil de hoje, zona sul e zona norte. E faz isso natural, como uma Regina Casé que deu certo e muitos vão tentar copiar.

Marcelo Arantes

Marcelo de Oliveira Arantes (@dr_marcelo_) é psiquiatra, mora em São Paulo e comenta o "BBB" há dez anos, desde que participou do "Big Brother Brasil 8". É autor de “A Antietiqueta dos Novos Famosos”.

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