Colo de Mãe

Um abraço nas 'mães de Paraisópolis'

Quando se enterra um filho é das coisas mais doídas na maternidade

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Descrição de chapéu Agora

Na última semana, oito mães enterraram seus filhos, mortos na comunidade de Paraisópolis após ação da Polícia Militar em um baile funk. Com certeza, muitas outras mães também enterraram seus filhos nos últimos dias, mas a tragédia que se abateu sobre cada uma das "mães de Paraisópolis" chegou a nós de forma inesperada e surpreendente.

Uso aspas para falar sobre essas mães porque muitos dos jovens mortos no baile da DZ7 eram de outras localidades. De cidades da Grande SP, do interior e de bairros da periferia paulistana.

Ao todo, foram nove mortes no domingo (1º), porém, a garota de 14 anos (única mulher entre as vítimas) não tinha pai nem mãe, era órfã. "Ela deve ter ido ao baile para tentar esquecer um pouco de seus problemas", concluiu Luiza, minha filha de 12 anos, ao saber da notícia. Para minha primogênita, não ter pai nem mãe deve ter tornado a vida dessa menina muito mais difícil. Concordo com ela.

A cobertura jornalística sobre os fatos foi intensa. Diversas reportagens tentando explicar o que ocorreu. De um lado, jovens mortos. De outro, as versões da PM sobre o fato. O caso segue em apuração e espero que tenhamos esclarecimentos em breve.

Mas, hoje, aqui, o que me toca é a dor de ver a ordem natural da vida ser invertida, quando uma mãe enterra seu filho. Duas imagens me marcaram muito: a de Maria Cristina Silva, mãe de Denys, 16 anos, que precisou ser amparada no enterro do filho, e um cartaz compartilhado pela comunidade de Paraisópolis em rede social dizendo: "Quando uma mãe perde um filho, todas nós perdemos também". É isso. 

Não importa se os jovens estavam no baile funk ou na igreja. O que importa, hoje, é a dor das mães que nunca mais poderão estar com seus rebentos.

Na minha vida jornalística cobri muitos crimes hediondos, mas nada me tocou tanto quanto ver mães perdendo seus filhos. E, pela longa estrada, vi muitas.

Por isso, hoje, quero deixar meu abraço a cada uma delas, mesmo que não me conheçam. Não há nada neste mundo que fará passar essa dor. Quero apenas que saibam que o meu coração materno está com elas.

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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