Cena do filme 'Mulan', refilmagem da animação clássica da Disney

Cena do filme 'Mulan', refilmagem da animação clássica da Disney Divulgação

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Kyle Buchanan

A versão live-action de “Mulan”, da Disney, não precisou de canções ou dragões engraçadinhos, mas há um elemento que sobreviveu da versão de animação original lançada em 1998: Ming-Na Wen, a atriz que deu voz a Mulan no filme original, aparece em uma participação especial no final da nova versão.

Depois que o complô do vilão é derrotado e a brava guerreira Mulan (interpretada por Yifei Liu) revela ser mulher aos soldados que combateram ao seu lado enquanto ela esteve vestida de homem, ela é levada à sala do trono do imperador para uma celebração. E é aí que Wen aparece, apenas de passagem. Descrita nos letreiros como “convidada muito especial”, ela apresenta Mulan ao imperador, faz uma mesura e deixa a cena.

Ainda que o filme tivesse seu lançamento nos cinemas marcado para o dia 27 de março, antes da pandemia, “Mulan” terminou lançado no serviço Disney+ de streaming no final de semana passado. Mas Wen se deliciou com a reação que sua participação de surpresa despertou em uma pré-estreia do filme em março, antes que Hollywood entrasse em lockdown.

“Espero que, mesmo com o lançamento em streaming, o filme continue a ter impacto”, ela disse em uma conversa por telefone na semana passada. Abaixo, trechos editados de nosso diálogo.

*


Você ouviu falar extraoficialmente que a Disney faria uma versão live-action de “Mulan”. O que aconteceu depois?
Tudo começou com tuites de fãs dizendo que eu precisava participar. Perguntei ao meu empresário e ao meu agente se isso seria possível, porque achei que seria bem divertido. Em seguida, me reuni com o produtor Jason Reed e ele adorou a ideia, mas naquele momento eu estava filmando “Agents of SHIELD” e, por isso, em termos de agenda, seria um pesadelo logístico, porque “Mulan” estava sendo rodado na Nova Zelândia. Eles escreveram uma cena para que eu participasse, mas o calendário não permitiu.

Como seria essa cena?
Eu seria uma potencial sogra, na cena dos casamenteiros, mas, por causa do clima, eles precisavam da minha presença lá por um mês, por garantia. Os produtores de “Agents of SHIELD” não aceitaram. “Não podemos ficar sem você por um mês”. Eu compreendi. Sempre levo essas coisas ao modo mais zen que posso. Eu disse que tudo bem, e que se aquilo devia acontecer, teria acontecido. Todos tentamos, não deu certo, e tudo bem.
E com isso desistimos, mas mais tarde Jason e Niki (Caro, a diretora), me procuraram com uma ótima ideia: em vez de filmar uma cena completa, eu só faria uma participação especial bem no final, para apresentar Mulan ao imperador. Achei que era muito apropriado e maravilhoso, um pequeno presentinho ali, como se eu estivesse passando o bastão a ela. E para isso, eles só precisariam de mim por uma semana. Tudo deu certo!

E o vestido que você usa na cena é deslumbrante.
Sim, e os detalhes dele eram extraordinários. Na semana que passei lá, nós mal aterrissamos e já fomos direto para as provas de figurino e testes de cabelo e maquiagem. Testamos três looks diferentes, e o primeiro era muito elaborado, com um penteado muito complexo, e uma tonelada de artefatos no cabelo. Niki preferia algo mais parecido com a imagem de Mulan na versão de animação, e por isso tentamos descobrir como transformar aquele look em algo que fizesse sentido. Mas sim, eu me senti deliciosa naquela roupa!

O que lhe disseram sobre sua personagem?
Ela provavelmente era parente do imperador, talvez a mulher de alguém importante da corte. Eu tive uma semana para bolar alguma coisa – foi uma correria. Lembro-me de brincar com Donnie Yen e dizer “ei, Donnie, você fez muitos desses filmes de época, não é? Como é que eu devo fazer minha mesura”? E ele respondeu que “não faço a menor ideia!” Tive de convocar minhas lembranças de infância, dos filmes épicos incríveis que minha mãe nos levava para assistir em Chinatown, quando morei em Nova York. Havia uma certa essência na maneira pela qual as mulheres andavam, que com certeza era muito diferente de, por exemplo, “Agents of SHIELD”.

Dei um gritinho quando a vi.
Foi o que aconteceu na pré-estreia! Fico feliz por você ter dado um gritinho. É para isso que fazemos filmes, não é? Fico triste por os fãs não poderem ver isso em tela grande, porque Niki Caro fez um brilhante trabalho na criação dessas imagens. Espero que, no futuro, o filme seja relançado nas salas de cinema, mesmo que em circuito menor.

Foi como fechar um círculo, ir à estreia de “Mulan” 22 anos depois da estreia da versão de animação?
Eu não teria previsto nada disso. Na época, eu achava que a Disney estava correndo um grande risco ao lançar um longa de animação etnicamente diversos e baseado em folclore de outro país. O fato de que ele ainda fale à geração atual de crianças me leva a pensar que o novo filme vai deslumbrá-las. É triste que Chadwick Boseman tenha morrido, e perceber o amor que ele criou como o rei T’Challa em “Black Panther” me comove muito, porque era isso que “Mulan” queria dizer para nossa comunidade e os asiáticos em geral.

O que significou para você conquistar o papel, naquela época?
Fiquei empolgada, porque sempre fui grande fã da Disney. Lembro-me de ler o roteiro completo e pensar que “bem, ela tem 16 ou 17 anos e eu já passei dos 20, e por isso preciso cuidar de fazer com que ela soe jovem”. Quando apareci para a primeira sessão de gravação, fiz uma voz bem jovem e o diretor e produtor, que estavam na sala, me perguntaram” Uhn, Ming, o que você está fazendo? Você foi contratada pela sua voz”. Eu nunca tinha gravado só diálogos antes, não fazia ideia de que você primeiro grava e depois eles fazem a animação, e que o processo demoraria três anos.
Quando vi o filme pronto pela primeira vez, fiquei atônita. Na cena em que Mulan está sentada com o pai sob a cerejeira, ela estava mexendo nos cabelos – e eu sou uma dessas pessoas que mexem no cabelo o tempo, algo que eles devem ter percebido nas sessões de gravação. Lembro-me de minha mãe dizer “nossa, vi você na tela”. Ela deixou de ver o desenho animado. Via sua filha naquelas imagens.

Sei que muitos fãs queer e transgênero se veem em Mulan, também.
Eu ficava muito feliz quando esses belos rapazes e garotas jovens da comunidade LGBTQ me procuravam chorando para dizer que Mulan os representava, e que as imagens dela se transformando em menino eram importantes para eles. Havia tanta coisa no filme que nos dava algo mais, como esse detalhe. Tenho certeza de que Yifei vai receber grandes elogios como a Mulan live-action, mas espero que as pessoas guardem um lugarzinho no coração para a Mulan do desenho animado. Ela cortou o cabelo, pelo menos! (Risos.) Muitas mães me procuravam para dizer que suas filhas tinham cortado o cabelo por minha causa. Recebi algumas queixas desse tipo.

E o que você respondia?
Que o cabelo voltaria a crescer.

Você imagina que continuará a ser a voz de Mulan em futuros projetos e séries derivadas, ou Yifei assumirá essa responsabilidade?
Oh, nossa. Yifei e eu teremos de brigar pelo papel! Sinto-me um tanto possessiva quando a querer manter Mulan coerente, querer que minha voz seja a dela. Ela é minha nenê. As pessoas me perguntam se podem usar minha voz em seus bichos de pelúcia, e eu digo que sim. Sou tão leal aos fãs de Mulan que sempre digo sim.

The New York Times
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